Em dezembro passado, presenciei em Bratislava (capital da Eslováquia) a exposição ‘Lingua Franca’, que reúne jovens artista plásticos, metade brasileiros, metade eslovacos.
A última exposição que vi de brasileiros nessa cidade foi uma de Cândido Portinari, ainda nos anos 1960. Por isso, aprecio essa iniciativa, que contribui de forma positiva para a divulgação da arte brasileira em território eslovaco e em toda Europa Central.
Bato palmas para o curador Tiago de Abreu Pinto. Sua exposição é um ato de coragem. Confiando a apresentação e a própria instalação à duplicidade de artistas – um deles, também ativista brasileiro, André Komatsu, junto à escritora eslovaca Petra Feriancová – produziram um panorama de comovente sinceridade.
Num espaço quase de depoimento, ambos mesclam tempos, raízes e representações vindas de diferentes caldos culturais, sem jamais perder a essência poética e a autenticidade.
Dentre os artistas brasileiros vemos Marcius Galan, escultor, desenhista e fotógrafo que bem sabe questionar imprecisões; Maria Noujaim, jovem escultora que investiga formas e poesias; Letícia Patente, pesquisadora pioneira em videoarte no Brasil; e Marco Paulo Rolla, um insaciável pela pulsão de morte, que versa sobre extremos como prazer e dor, bem e mal, sempre em conjunto.
Dos eslovacos, Juraj Bartos e Anna Daučíková são fotógrafos experientes. Ela, inclusive, defende o pensamento feminista e se tornou porta-voz dos direitos LGBT na Eslováquia. Peter Bartos é um vanguardista radical. Lubomír Durcek, um performer, documentarista e escritor. Július Koller e Jana Želibská são dos mais importantes artistas da Europa Central. Por sinal, ela testemunhou ‘in loco’ os protestos de 1968, em Paris.
Quanto a André Komatsu, seu ‘Inconsciente arquitetônico’ nos conduz a reflexões quanto a distinção entre homo sapiens e homo faber. Numa entrevista concedida ao crítico e curador Paulo Herkenhoff, ele insere sua obra no contexto conceitual.
Sua desconstrução crítica dos padrões sociais é feita ao se construir elementos no espaço. Por fim, Komatsu afirma que a carga emocional e os conceitos estéticos são os atributos primordiais de uma obra de arte.
Tendo iniciado em 7 de dezembro, a exposição “Língua Franca” está em cartaz na Bratislava City Gallery (Eslováquia) até 24 de março deste ano.
Zuzana Paternostro, historiadora de Arte
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