Websérie Os Capítulos de Baker relaciona pesquisa de espetáculo com Brasil atual

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Dividida em 10 capítulos, websérie mostra os desdobramentos
da dramaturgia original da peça A História de Baker, de Cristiane
Zuan Esteves e Beto Matos. A cada dia uma peça-conferência
online é apresentada com participação de convidados, que
debatem com o público temas pesquisados para a montagem.

Contemplado com o Prêmio Zé Renato de Teatro na cidade de São Paulo, o espetáculo A História de Baker chegaria aos palcos em maio de 2020, mas devido a pandemia e o fechamento dos teatros, a montagem teve sua estreia suspensa. Para manter o projeto vivo, neste momento de distanciamento social, a equipe artística da peça optou pela criação da websérie OS CAPÍTULOS DE BAKER, que estreia dia 1º de setembro, terça-feira, às 17h, no aplicativo de videochamadas Zoom. Até 3 de novembro, a cada terça-feira, um novo capítulo acontece ao vivo, totalizando 10 episódios.

Em cada capítulo de OS CAPÍTULOS DE BAKER Cristiane Zuan Esteves e Beto Matos – responsáveis pela dramaturgia, atuação e direção do espetáculo – apresentam um relato performático-artístico-documental sobre um dos temas pesquisados para A História de Baker. Após a apresentação virtual de cada capítulo, haverá a intervenção de um convidado e a abertura de uma conversa com o público, de modo a amplificar as questões apresentadas, relacionando-as ao momento social e político do Brasil atual.

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Entre os convidados destaque para Denilson Baniwa, um dos artistas contemporâneos mais importantes da atualidade por romper paradigmas e abrir caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional; Jaider Esbell, fundador da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, localizada em Boa Vista, capital de Roraima, a primeira no Brasil voltada para a produção dos povos indígenas; Angélica Ferrarez, historiadora, professora, feminista negra e pesquisadora da história e memória das mulheres negras e do Samba; Márcia Mura, do Povo Indígena Mura, doutora em história social pela Universidade de São Paulo e mestre em sociedade e cultura na Amazônia, pela Universidade Federal do Amazonas; e Marie Ange Bordas, jornalista, fotógrafa e educadora com exposições de arte que viajaram pelos cinco continentes; entre outros.

OS CAPÍTULOS DE BAKER, que não estavam previstos no projeto inicial, são desdobramentos da dramaturgia original, pequenas obras completas em si mesmas e não substituirão a apresentação do espetáculo, que deve estrear assim que todos os protocolos de segurança sejam cumpridos. Para Beto Matos, “os capítulos” servirão como um mergulho em toda pesquisa realizada para a montagem da peça e também como uma introdução de A História de Baker. “Faria todo o sentido se o público puder acompanhar os episódios e depois ver a nossa montagem”, diz ele.

O nome Baker

Cristiane Zuan Esteves explica que o projeto inicial nasceu quando encontrou a história de Thomas Baker, missionário inglês morto e devorado pelos Kai Colo durante o processo de colonização de Fiji, fato pelo qual os descendentes dos supostos “canibais”, hoje convertidos ao cristianismo, realizaram uma cerimônia de desculpas em 2003. “O fato de vítimas da colonização pedirem desculpas a seus invasores me impressionou e indignou muito. Decidi que um dia faria um trabalho a respeito. Anos depois, descobri calcificações semelhantes a dentes em meu joelho dentro de uma estrutura chamada Cisto de Baker. Senti como um chamado para realizar o trabalho”, conta.

A partir do nome Baker, A História de Baker passeia pela história do colonialismo, do capitalismo e da exploração, além das várias formas da necropolítica e por elementos autobiográficos. “Na pesquisa, encontramos muitos outros Bakers, como Josephine Baker e a bomba de Baker no atol de Bikini. Encontramos o canibalismo como desculpa para a dominação e escravização dos povos autóctones, encontramos outras histórias de colonização semelhantes à história sofrida pelos Kai Colo”, adianta Cristiane.

Cristiane, idealizadora do projeto, traz dados autobiográficos para A História de Baker, e questiona sua própria posição como colonizadora ou colonizada. Em OS CAPÍTULOS DE BAKER a dupla de artista busca refletir sobre os fatos que assolam as vítimas da colonização até hoje. “Achamos que é fundamental neste momento ouvir lideranças, artistas e ativistas e pensar sobre o que estamos vivendo.” afirma Beto Matos.

PROGRAMAÇÃO

CANIBAL NÃO, ANTROPOFAGIA DE RESISTÊNCIA

Dia 1º de setembro, terça-feira, às 17h

Convidado – Denilson Baniwa

O capítulo pega como gancho a invenção do nome canibal, que nasceu de um “engano” de Cristovão Colombo ao chamar o povo Cariba de “canibas” (os homens com cabeça de cão e homens que comem homens) para abordar as simulações e representações com indígenas Tupinambá em Rouen, na França, e que inspiraram o texto Os Canibais, de Montaigne. A diferença entre canibalismo e a antropofagia também será abordada, além da antropofagia de Oswald de Andrade e a ReAntropofagia reivindicada pelos artistas indígenas contemporâneos.

Denilson Baniwa, 36 anos, nasceu em Mariuá, no Rio Negro, Amazonas. Sua trajetória como artista tem início a partir das referências culturais de seu povo (Baniwa) já na infância. Na juventude, o artista inicia a sua trajetória na luta pelos direitos dos povos indígenas e transita pelo universo não-indígena apreendendo referenciais que fortaleceriam o palco dessa resistência. Denilson Baniwa é um artista antropófago, pois apropria-se de linguagens ocidentais para descolonizá-las em sua obra. O artista em sua trajetória contemporânea consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo.

ANTROPOFAGIA – AUTOREPRESENTAR PARA FICAR VIVO

Dia 8 de setembro, terça-feira, às 17h

Convidado – Jaider Esbell

As leis espanholas proibiram a escravização de indígenas, a não ser que estes fossem considerados “canibais”. Os subterfúgios usados pelos colonizadores para continuar a escravização produziram as imagens de “selvagem” e serviram para desumanizar os povos originários. A contradição das imagens produzidas pelo colonizador, como a amplificação do canibalismo por Jean de Lery e as denúncias de Bartolomeu de Las Casas em seu livro Breve História da Destruição das Índias, servirão como temas para o segundo capítulo, que também abordará os estereótipos do canibal na literatura mundial, como Robson Crusoé e Tarzan, e a história desconhecida de Macunaíma.

Jaider Esbell, 41 anos, vive em Boa Vista, capital de Roraima, onde mantém a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, a primeira no Brasil voltada para a produção dos povos indígenas. A produção do artista abrange diversas linguagens artísticas e sua atuação passa pelo campo de produção de conhecimento sobre descolonialidade, protagonismo indígena e teorização na academia de uma nomenclatura que contemple o pensamento das nações indígenas do Brasil. Seu trabalho é uma ampliação do movimento de base onde antes era impossível ir sem as artes como estratégia política de autorrepresentação.

DE COLOMBO À PANDEMIA CANIBAL

Dia 15 de setembro, terça-feira, às 17h

Convidado – Casé Angatu

A afirmação do estudioso indígena Jack Forbes de que Colombo teria sido o primeiro canibal e a comparação que o autor faz entre Colombo, os colonizadores e o capitalismo com o Wetiko, mito da tradição algonquiniana em que pessoas se tornariam canibais vorazes por experiências de fome extrema ou pelo contágio através do sonho, norteiam o terceiro capítulo, que traz relatos da epidemia Wetiko entre os indígenas norte-americanos e sua ligação com o processo de privação desencadeado pela colonização. Será abordada a longa história da escravização indígena e a lógica capitalista como uma lógica canibal. Vivemos a epidemia Wetiko?

Casé Angatu é indígena do Território Tupinambá Olivença (Ilhéus/BA) na Taba Gwarïnï Atã. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia (PPGER-UFSB); Docente da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/Ilhéus/BA); Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo; Mestre pela PUC/SP e Historiador da UNESP, Casé é autor do livro Nem Tudo Era Italiano – São Paulo e Pobreza (1890-1915) e coautor de Índios no Brasil: Vida, Cultura e Morte.

DA CRUZ À METRALHADORA

Dia 22 de setembro, terça-feira, às 17h

Convidado – Laymert Garcia dos Santos

A história da colonização e religião em Fiji. Os golpes políticos recentes, sua relação com o avanço das religiões neopentecostais e com o pedido de desculpas à família de Thomas Baker. Que analogias podemos perceber com a situação brasileira?

Laymert Garcia dos Santos é sociólogo, professor titular (aposentado) da Universidade Estadual de Campinas e escreve regularmente sobre as relações entre tecnologia e sociedade, bem como sobre arte contemporânea. Autor de Politizar as novas tecnologias (Editora 34) e Às voltas com Lautreamont (Edições n-1), entre outros, foi conselheiro do CNPC do Ministério da Cultura e iretor da Fundação Bienal de São Paulo.

JOSEPHINE BAKER, BANANAS E O RACISMO

Dia 29 de setembro, terça-feira, às 17h

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Convidado – Angélica Ferrarez

O quinto capítulo aborda a artista Josephine Baker. A perseguição pelo FBI, seu ativismo pelos direitos humanos e contra o racismo e a apropriação de sua imagem como símbolo do sucesso do projeto de colonização pelos franceses, além da sua passagem pelo Brasil e o fato de chamar seus filhos adotivos, vindos de várias partes do mundo, de vários grupos étnicos e de diferentes religiões de Tribo do Arco-Íris.

Angélica Ferrarez é historiadora, professora e feminista negra. Doutora em História pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro com projeto Mulheres Negras no Pós Abolição: memória, linguagem e poder no ofício da porta bandeira tia Dodô da Portela, possui mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro com tema As tias pretas do samba: por uma questão de memória, espaço e patrimônio e tem sua pesquisa atravessada pelas questões de gênero feminino nos estudos sobre história e cultura africana e afro-brasileira.

ZOOLÓGICOS HUMANOS, ONTEM E HOJE

Dia 6 de outubro, terça-feira, às 17h

Convidado – Eugênio Lima

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Os Kanaks são um exemplo de Zoológico Humano no período colonial. Os Kanaks, foram contratados para participar da Exposição Colonial em Paris em 1931, mas acabaram no zoológico de Vincennes, expostos como “canibais”. Um diretor do famoso teatro do Châtelet foi contratado para dirigir pequenas cenas onde os Kanaks, apesar de falarem francês e não praticarem mais a antropofagia há décadas, deveriam fingir que eram canibais e que viviam primitivamente. A partir dessa história, o capítulo aborda a exposição de seres humanos no contexto colonial, inclusive no Brasil, a objetificação do outro e os corpos que podem ser descartados.

Eugênio Lima é DJ, ator-MC, pesquisador da cultura afro-diaspórica, membro fundador do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e da Frente 3 de Fevereiro e diretor do Coletivo Legítima Defesa. Ganhador de vários prêmios teatrais (Shell, Coca-Cola/FEMSA e Governador do Estado) pela composição de músicas e trilhas sonoras.

O OLHAR DO COLONIZADOR – ANDAMAN

Dia 13 de outubro, terça-feira, às 15h (o horário excepcional, pois a convidada encontra-se na África do Sul)

Convidado – Marie Ange Bordas

No Arquipélago de Andaman, na pequena Ilha Sentinela do Norte, habitam um dos últimos povos isolados do planeta. Em 2018, o missionário John Chau foi morto pelos habitantes da Ilha e seu corpo nunca foi encontrado, pois foi supostamente “devorado”. O sétimo capítulo aborda como a história dos atuais habitantes de Sentinela do Norte se relacionam com a história de invasão e colonização das ilhas e traz os relatos e fotos do chefe colonial britânico Maurice Portman, que realizou fotografias chocantes dos andamaneses, além de abusar dos mesmos.

Marie Ange Bordas é artista, escritora e mediadora cultural, trabalha na criação de projetos de arte, literatura e mídia, enfatizando o cruzamento de linguagens e poéticas para construir processos e obras colaborativas, afirmativas e críticas. Entre 2000 e 2009, desenvolveu o projeto Deslocamentos, convivendo e criando exposições com pessoas deslocadas em vários países. Neste processo também criou as publicações Caderno Videobrasil_Geografias em Movimento (Edições Sesc 2013) e Dois Meninos de Kakuma (Pulo do Gato, 2018). Desde 2009 desenvolve o projeto Tecendo Saberes, de criação de livros infantis em comunidades tradicionais brasileiras, no qual produziu os livros Manual das crianças do Baixo Amazonas e Manual das crianças Huni Kui (com Gabriela Romeu, 2015), Manual da Criança Caiçara (Peirópolis, 2011) e Histórias da Cazumbinha (com Meire Cazumbá, Companhia das Letrinhas, 2010).

O MASSACRE DO JOELHO FERIDO

Dia 20 de outubro, terça-feira, às 17h

Convidado – David Popygua

Os relatos e imagens de Wounded Knee, o primeiro massacre indígena a ser fotografado (O Massacre de Wounded Knee ocorreu em 1890, perto de Wounded Knee Creek na Reserva Indígena de Pine Ridge, pertencente ao povo Dakota) serão abordados no capítulo, além das disputas que acontecem até hoje na região. A redução das reservas indígenas e a invasão dos grandes empreendimentos e a semelhança com o Brasil, inclusive na cidade de São Paulo.

Karai Popygua (David) é do povo Guarani Mbya, liderança da Terra Indígena do Jaraguá. Atualmente é Presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas de São Paulo (CEPI-SP) onde atua na garantia de cobrança ao governo do Estado de São Paulo para que faça políticas públicas para as comunidades indígenas do estado. Trabalha também, desde 2008, como professor na escola da aldeia Jekupe Amba Arandu.

SERINGAIS – RELATOS DE PUTUMAYO

Dia 27 de outubro, terça-feira, às 17h

Convidado – Márcia Mura

Na região do rio Putumayo, mais de 30 mil indígenas Uitotos, Boras, Ocainas e Muinames foram mortos em regime de escravidão pela empresa Peru Amazon Company, para coletar quatro mil toneladas de borracha. O capítulo, que traz o inquérito na Inglaterra e a filmografia de propaganda da Peruvian Company, mostra a situação desses povos hoje e a exploração de seu território por mineradoras e companhias petrolíferas e como esses acontecimentos encontram eco na história do povo Mura.

Márcia Mura integra o Povo Indígena Mura. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo é mestre em sociedade e Cultura na Amazônia, pela Universidade Federal do Amazonas e professora de História na escola Estadual Francisco Desmorest Passos na comunidade de Nazaré, às margens do Rio Madeira, onde pratica a descolonização da história e a afirmação indígena. Em 2010 foi contemplada no edital de intercâmbio cultural do Ministério da Cultura para apresentar sua pesquisa de mestrado com mulheres que vivenciaram o espaço do seringal no encontro internacional de história oral realizado em Praga (República Tcheca). É autora do livro O Espaços Lembrados: Experiências de vida em seringais da Amazônia.

A BOMBA DE BAKER

Dia 3 de novembro, terça-feira, às 17h

Convidado – a definir

No contexto da Guerra Fria, os Estados Unidos explodem a primeira bomba subaquática no Atol de Bikini. Os testes nucleares levaram ao exílio dos habitantes originários, à perda de seu território e de sua subsistência. Hoje, sem território, são ameaçados pelo aquecimento global. Como a expulsão dos povos originários de seus territórios afeta a Terra e a Natureza?

Para roteiro:

OS CAPÍTULOS DE BAKER

De 1º de setembro a 3 de novembro, terças-feiras, às 17h (excepcionalmente a apresentação do dia 13 de outubro será às 15h), no aplicativo de videochamadas Zoom.

Dramaturgia, Atuação e Direção – Cristiane Zuan Esteves e Beto Matos. Duração – 60 minutos. Recomendado para maiores de 12 anos. Grátis – inscrições via link do Zoom, divulgados no Facebook (@ahistoriadebaker) e Instagram (@a_historia_de_baker) de A História de Baker.

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