Sergio Marimba abre mostra “VAZIO PODE SER O MAR” em 9 de setembro, no Retrato Espaço Cultural

Curadora da exposição, Bianca Ramoneda dirigiu um minidoc com Pedro Cezar sobre o processo criativo do artista. A trilha sonora original é de Pedro Luís

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Com toda a expertise que conquistou ao longo de 35 anos de trabalho no Carnaval, desde os idos dos anos 80, nos barracões de escolas de samba como Mangueira, Mocidade e Estácio, entre outras, além da experiência de criar mais de 150 cenários de peças de teatro e clipes musicais, o artista plástico e cenógrafo premiado Sergio Marimba abrirá a mostra “VAZIO PODE SER O MAR”, em 9 de setembro, com entrada franca, no Retrato Espaço Cultural, na Glória.

Nas ruínas charmosas de um lugar que é referência na fotografia carioca e se afirma também como um espaço de cultura, dirigido pela fotógrafa Nana Moraes, o público verá cinco alegorias desenvolvidas para essa exposição. Sobre rodas, estacionadas na galeria, elas trazem em sua composição o acúmulo do tempo e a composição de objetos criando assemblages.

Tão complexas quanto lúdicas, elas reúnem uma quantidade sem fim de objetos inusitados e que, certamente, fazem parte da história de todos nós. Moedores de carne, prumos de obras, pés sortidos de mesas e máquinas de costura, por exemplo, dão origens à peças únicas que desmontam a ideia utilitária que fazemos de cada objeto que se tornou obsoleto com o tempo.

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Com um pouco de imaginação e entrega ao impacto de estar diante de uma obra de Sergio Marimba, é possível se encantar pelo mundo montado por ele e ressignificar aquele conjunto de alegorias tão concretas e algo absurdas. Em cartaz até o dia 30 de outubro, cada obra revelará características bem individuais e um mundo a ser explorado pelo olhar, sob a iluminação especialíssima de Samuel Betts.

“Marimba é um autodidata incansável. Ele tem um saber empírico que vem da escola chamada Carnaval, na qual ele aprendeu a  fazer de tudo. Acontece que ele descobriu que esse fazer podia levá-lo para outro tipo de construção. E ele abre esse caminho no dia a dia, garimpando pequenas e grandes coisas que encontra pelo mundo”, rebobina a jornalista e escritora Bianca Ramoneda, curadora da exposição.

Bianca apresentou por 20 anos o “Starte”, seguido pelo “Ofício em Cena” (belíssimos programas dedicados exclusivamente à cultura, que compuseram a grade da GloboNews) e é parceira de trabalho de Marimba há mais de 25 anos. Nas suas andanças fora do script televisivo, já realizaram juntos a capa de um disco do cantor e compositor Pedro Luís, repleta de pipas, e também a direção de arte do clipe “Como dois e dois”, da cantora Anna Ratto, entre outras parcerias que deram muito certo. Atualmente trabalham na concepção do espaço do show da cantora Roberta Sá.

Marimba transformado em minidoc, trilha sonora original e fotos

Além das obras físicas, a exposição conta com um minidoc de, aproximadamente, 10 minutos, sobre o processo criativo do artista no ateliê, dirigido por Ramoneda e Pedro Cezar (autor do documentário “Só dez por cento é mentira”, sobre o poeta Manoel de Barros) e com trilha sonora original do músico e compositor Pedro Luís. As fotos de divulgação são de Nana Moraes.

Quem tem memória contraria Fernando Pessoa e carrega, sim, o passado na algibeira. Marimba conta que começou a colecionar objetos antigos para devolvê-los à vida em forma de arte porque essa ação trazia de volta o cheiro do quartinho apertado e humilde onde morava o avô que era a sua paixão.

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Faz mais de 30 anos que ele trabalha num ateliê amplo, com cerca de 600 m2 distribuídos em três pavimentos, no Rio Comprido, onde desenvolve projetos em várias áreas – da arquitetura à direção de arte – e cria as suas séries artísticas, que já foram expostas em diversas ocasiões, até no exterior – entre elas “Abreugrafias do Cinema Brasileiro”, de 2002, e “Daqui a Pouco Vai Ser Noite Como Todo Dia”, de 2005. 

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“VAZIO PODE SER O MAR” fala de memórias afetivas e do tempo. O próprio nome evoca a ideia de “o sertão vai virar mar” e as alegorias são, trocando em miúdos, carrinhos, que aludem ao que levamos e deixamos no movimento da vida, recriados de forma onírica. Para Bianca, os prumos remetem aos trabalhadores que ergueram as cidades grandes.

“Esse carrinho me tocou muito. Pensei nas pessoas que saíram de suas casas lá no Norte e no Nordeste levando o mínimo do mínimo e usaram o prumo para construir as metrópoles – quando elas, na verdade, eram o prumo”, sugere a curadora, com o seu olhar sempre afiado.

O bonito é pensar que, hoje, Marimba faz a alegoria que sempre quis. E imprime nela uma verdade que pode ser identificada de longe. “O Carnaval foi a minha escola de arte, com seus artífices e artesãos. Serralheria, carpintaria, escultura, cenografia, papel machê. Aprendi lá, nos barracões, ao longo de 40 anos. Comecei pelas fantasias, depois projetei carros alegóricos. Primeiro usávamos rodinhas pequenas, depois viraram rodas de caminhão até vir o próprio chassi do caminhão com motor na base do carro alegórico”, recorda ele.

A exposição revisita esse percurso da própria carreira, mas com uma liberdade que só a criação independente costuma permitir. Com um acervo de objetos antigos e uma coleção de fotografias de deixar qualquer um de queixo caído, Marimba vai compondo o mosaico que antevê com seus olhos que sempre enxergam possibilidades nunca imaginadas por nós. Foi assim que nasceu esta mostra “VAZIO PODE SER O MAR”.

Marimba perdeu a conta dos anos em que acorda ainda de madrugada para garimpar relíquias na feirinha de antiguidades da Praça XV, no Centro do Rio. Lá estão os cheiros de poeira, o abandono dos donos originais e o que o poeta Manoel de Barros chamou de “Matéria de Poesia”. Ele conhece todos os catadores e mais do que isso: conhece praticamente todas as pessoas da feira, que já sabem quando o achado vai agradar o artista. “Existe uma cidade que se despreza e que vai parar nas mãos preciosas dele para ganhar uma nova vida”, atesta Bianca Ramoneda.

“VAZIO PODE SER O MAR” | Sergio Marimba, serviço ::
QUANDO: 9 de setembro a 30 de outubro
ONDE: Retrato Espaço Cultural | Rua Santa Cristina, 6, na Glória
QUANTO: Entrada franca

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