Sé apresenta “Coral Vogal” – segunda exposição de Carlos Issa na galeria paulistana

Mostra acontece entre os dias 03 de fevereiro e 19 de março e apresenta esculturas e objetos em diálogo com desenhos abstratos. A curadoria é de Germano Dushá.

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Carlos Issa se apresenta nos espaços dedicados à arte contemporânea com seu projeto Objeto Amarelo há mais de duas décadas. Pode-se dizer que foi um dos primeiros artistas a levar a música experimental para o contexto das galerias de arte, como a Galeria Vermelho, logo no início de seu funcionamento.

Além de músico, Carlos Issa é artista visual. A fotografia, o design gráfico e o desenho são linguagens presentes na sua produção.

Ao imaginar essa segunda individual na Sé – primeira no espaço da Vila Modernista de Flavio Carvalho, havia um desejo antigo da galeria de colocar em diálogo as práticas visuais e musicais: possivelmente trazer uma seleção do acervo documental do Objeto Amarelo (fanzines, flyers, capas de discos, pôsters etc).

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Germano Dushá foi somado ao time e o primeiro gesto curatorial ocorreu quando artista, curador e galerista abriram juntos cerca de nove malas lotadas de desenhos e papéis de toda sorte.

Em meio a centenas de desenhos espalhados pelo chão, surge então, “Coral Vogal”, uma série de vinte e oito desenhos formato A4 em papel cinza. Carlos Issa explicou o trabalho, que Germano posteriormente traduziu como instrução em seu texto curatorial:

Instrução: respire fundo, enchendo os pulmões e sentindo cada partícula que te compõe sendo oxigenada. No limite, quando for a hora, escolha uma vogal diante de ti e a recite com firmeza, até que lhe escape o último fôlego. Repita quantas vezes quiser.

Na série Coral Vogal (2016), que empresta o título à mostra, as cinco letras do português usadas para representar os sons vocálicos ganham formas e configurações diversas. A partir de simples caracteres grafados em diferentes escalas e níveis de pressão, vão formando-se rabiscos, símbolos, construções e paisagens.

Artista e curador seguiram seus diálogos que se expandiram a partir de duas novidades inesperadas: o surgimento de desenhos de objetos que se desdobraram em desenhos técnicos e então projetos que repentinamente tomaram forma e ocuparam o espaço; outra novidade foi uma nova relação do artista com o desenho das molduras.

Nas palavras de Carlos Issa; “Sempre quis trabalhar com esculturas e objetos e isso aconteceu pela primeira vez, na Coral Vogal.

Obras de artistas minimalistas como Anne Truitt e Donald Judd, os cenários de Bob Wilson, que inspiraram meu projeto sonoro, Objeto Amarelo, sempre estiveram num futuro distante. Parece que esse futuro chegou.

Ocupar o espaço e colocar algo no caminho das pessoas é complicado. Quando pensei nas esculturas achei importante atribuir interações, funções ou usos aos objetos, diluindo seu caráter de puro obstáculo. Como uma brecha no Tilted Arc.

As molduras expandidas também são uma novidade e um desejo realizado. Sempre quis desenhar um contêiner específico para proteger os trabalhos em papel. Essas novas molduras, além de proteger, tocam a imaginação. Elas fazem ressoar um rumor de tridimensionalidade e produzem um liame visual entre os trabalhos na parede e as esculturas.

O que alimenta o pensamento dessa exposição é um extenso movimento imanente e criativo de forças e possibilidades que nos atravessa a todos como música e que precisa ser visado, capturado, colocado em perspectiva, jogado e cantado.

As questões colocadas envolvem mundos e entes inesperados que surgem do jogo que jogamos dentro de certos limites propostos. O que pode um A? O que podem cinco vogais?

Ao ampliar as peças e as regras, ao generosamente oferecer o alfabeto expandido, chegamos mais perto de um estado de Franca Alegria Dinâmica do pensamento?

Como explica o curador “nos objetos criados a partir da continuidade deste pensamento no campo tridimensional, a provocação dos desenhos é transferida para o jogo físico direto. Há um A para Atravessar, um E para Escalar e um I para Derrubar (2022). Essas peças são um misto de escultura, objeto, mobiliário: ao passo que compõem visualmente com os desenhos da parede, também reformulam arquitetonicamente o campo expositivo e convidam o público a performar a partir do seu uso, oferecendo funções práticas a quem se aproxima. Quem quiser pode tocar, subir, sentar, se apoiar, etc.”

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Há diversos outros desenhos como Consoante (2013) que joga visualmente com as possibilidades gráficas das letras X, Y, U, H, Refrão (2013), onde uma mancha gráfica ganha uma espécie de condensação, Elegia (2012), Franca Alegria Dinâmica (2014), Mais Perto do Céu (2014) e As Punks Não se Medem (2015) que reúnem em si um repertório abstrato já conhecido no universo do artista.

Germano finaliza seu texto curatorial com as seguintes palavras: “Fagulhas, estopins, embriões de mundo, ascensões, abrigos, sinalizações, explosões, quedas e, sobretudo, os resíduos das coisas rodopiando no Cosmos, nas calçadas, casas, mesas, bolsos, gavetas e cabeças… Da autobiografia à ficção, do romantismo ao realismo, do garrancho à gramática especulativa, do corpo organizado ao esfacelamento e às sobras, esses trabalhos todos se dão na risca entre o lampejo e a intenção duradoura. Entre o impulso que fabrica o pensamento construtivo quente, apaixonado, e a intenção de tatear o universal para, com sorte, perdurar. Isto é, no balanço da alegria sem freios, do devaneio que corre solto, do caráter mutante da língua, do traço selvagem, com a agudeza de uma composição que aspira sempre ao que pertence ao tudo, ao que é do todo.”

Serviço

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Abertura
03/02/2022 (quinta-feira)
das 17h às 22h

Visitação
De 04/02 à 19/03/2022
de terça à sexta das 12h às 19h
sábados das 12h às 17h
ou com agendamento

Endereço
Al. Lorena, 1257 – casa 2
Jardim Paulista – São Paulo
01424-001
www.segaleria.com.br
info@segaleria.com.br
@segaleria

Sobre Carlos Issa

Carlos Issa, 1971, vive e trabalha em São Paulo.

Sua pesquisa envolve desenho abstrato, arte sonora, design experimental e fotografia. Organizou e participou de exposições independentes aplicando métodos expositivos “do it yourself” que anteciparam, no final dos anos noventa, a multiplicidade de meios e veículos para a circulação da arte. Atuou também como curador de eventos de música experimental e coletivas de arte como a “Supercolina”, na Galeria Logo, e “Conversão”, na Galeria Sé.

Participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior como a “Tropical Punk”, na Whitechapel Gallery de Londres, e “DOBRA”, na Ferme du Buisson, em Paris. Dentre as individuais destacam-se “Calor e Conforto” realizada na Sé galeria em 2018 e “Pistinha Abstrata de Música Problema” em Bogotá, em 2016. Dentre as residências que participou, destaca-se a Homesession em Barcelona em 2020. Publicou uma série de livros de artista que podem ser encontrados em espaços como a Printed Matter, em Nova York, a Tijuana, em São Paulo e a Motto, em Berlin.

Sobre a Sé

Em 2011, a artista e curadora Maria Montero fundou o espaço de arte Phosphorus, localizado em um casarão histórico na primeira rua de São Paulo e voltado à prática artística experimental.

Após três anos de um programa contínuo de exposições e mais de vinte residências, em 2014, Montero fundou a Sé galeria no mesmo edifício e, após seis anos no centro histórico da cidade, a Sé transferiu sua sede para a casa 2 da Vila Modernista de Flávio de Carvalho nos Jardins.

A galeria nasceu num momento de revisão do modus operandi da arte contemporânea e atua em colaboração com os artistas representados, privilegiando o acompanhamento crítico e a realização de projetos institucionais. Em seu programa, procura formar novos públicos para artistas e trabalhos que expressem um visão conceitual e processual de arte contemporânea. São 19 artistas brasileiros representados, todos com sólida trajetória institucional ou acadêmica e que, em sua maioria, tiveram seu diálogo com o mercado inaugurado por meio da galeria. A Sé participou de importantes feiras nacionais e internacionais como Arco Madrid e LISTE Basel.

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