Professor faz uma análise historiográfica do Covid-19

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Atualmente, a COVID-19 já infectou mais de 28 milhões de pessoas, matou mais de 900 mil e taxa de recuperação está em torno de 19 milhões. Diante de um cenário inédito para muitas pessoas, é comum escutar aqui e ali que a sociedade irá mudar para melhor ou que a COVID-19 é a pior pandemia da história que já vivida.

Fabiano de Abreu. Foto: Vagner Souza / MF Press Global.
Fabiano de Abreu. Foto: Vagner Souza / MF Press Global.

Segundo o professor de história, Ueldison Alves de Azevedo, “não é tão verdade assim tais falas. Se olharmos numa perspectiva histórica a questão da melhoria da sociedade em si, na verdade a ciência ganhará com isso e não há clara evidência do despertar da sociedade, primeiro porque a sociedade do século XXI não apresenta algum tipo de declínio social para que as transformações e\ou as revoluções ocorram em nosso meio”.

Se falar em transformação também é um exagero, para o acadêmico: “O termo Revolução parece mais que utópico, pois para que ambos ocorram se faz necessário uma insatisfação popular como todo”.

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Ueldison Alves de Azevedo, professor de história. Foto: Divulgação / MF Press Global.
Ueldison Alves de Azevedo, professor de história. Foto: Divulgação / MF Press Global.

Também há aqueles que comparam o período atual com a peste negra e a bubônica, o que o professor mostra que que este paralelo não é coerente por vários fatores, “primeiro desde o século XII a Europa denominada de cristandade, já vinha enfrentando várias guerras com as cruzadas; segundo, o povo passava fome e convivia com a má higienização que irá contribuir com a propagação da peste e por fim os senhores feudais estavam perdendo autonomia para os burgueses na qual os reinados foram enfraquecendo, ou seja, a peste foi apenas o estopim para algo que ajudou na transformação social e consequentemente numa revolução lá na frente”.

A gripe espanhola matou mais de 50 milhões de pessoas, o dobro das mortes ocorrida na primeira guerra que terminou pouco antes, e Ueldison lembra que, mesmo assim, não houve uma transformação social. Esta mudança não ocorreu, ele detalha, “porque o mundo já era outro pós-guerra, poderia ele ser a mudança se não houvesse a guerra, quem sabe?! Mas novamente olhamos aos diagnósticos históricos, antes mesmo da guerra explodir em 1914, a Europa era um caldeirão fervendo e a qualquer momento os ânimos se exaltariam e pronto o caos estaria instalado, foi o que aconteceu em Saravejo com a morte do arquiduque na Áustria, não precisou de vírus algum para modificar o que já era previsível”.

Então quando as pessoas falam de uma melhora social e\ou “novo normal”, o questionamento do professor é: “que normal é esse na qual a sociedade está bem condicionada longe de ser transformadora e revolucionária?” Ele acrescenta que “a quarentena assusta porque ficar em confinamento é doloroso demais para o nosso cérebro que evoluiu de maneira coletiva, basta olhar para nossos ancestrais, mas ao mesmo tempo, desencadeou falsas ideias daquilo que já fomos acometidos, mas vivemos numa era cheia de informações e nunca na história vimos uma sociedade tão xenófoba quanto a nossa, então realmente o covid 19 foi colocado num patamar que não existe, não existe um impacto coletivo mortal, não existe o novo normal e a sociedade continuará a caminhar a sua maneira desde as transformações ocorridas no século XX”.

Para o professor, “continuamos vivendo no mundo velho e a sociedade está sem crise alguma”, finaliza.

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