Solo de Odilon Esteves foi criado durante a quarentena em regime de isolamento físico, e será apresentado ao vivo pela plataforma Zoom até 31 de janeiro (com breve pausa entre 20/12 e 9/01). Os espectadores escolhem, ao longo da sessão, por enquete eletrônica, a partir das opções preparadas pelo ator, os textos que gostariam de ouvir interpretados. A transmissão é feita da sala do ator para a sala do espectador
O projeto patrocinado pelo Banco do Brasil segue os moldes de um acontecimento gastronômico, oferecendo ao público um “cardápio literário” com entrada, prato principal e sobremesa, representados pelos contos e crônicas da autora. Serão oferecidas 15 opções para cinco serem escolhidas e apresentadas na sequência. A peça tem duração de 60 a 90 minutos, variando em função das escolhas do dia.
A cada rodada da apresentação, alternam os elementos oferecidos ao público para estimular sua escolha: leitura de pequenos trechos; apresentação das sinopses; exposição de objetos relacionados aos textos, sem que o público conheça sequer seus títulos.
O critério de seleção das obras seguiu uma linha afetiva “Escolhi primeiramente textos que me atravessam, que me intrigam, alguns que me divertem, muitos que me emocionam, outros que me questionam, uns que me colocam diante do espelho ou à beira do mistério indizível. Depois tive que abrir mão de muitos contos, porque queria quase tudo. Meu critério era muito amplo, quase uma falta de critério. Então cortei da lista, primeiro, os contos mais extensos que, sozinhos, já dariam uma peça. Mas fui me dando conta de que a seleção estava diversa, uma espécie de panorama de muitas das facetas de Clarice e achei bom que assim fosse. Primeiro porque a obra dela é mesmo multifacetada e sempre me chegou de formas igualmente diversas. E porque todos nós somos mesmo muito vastos, cheios de nuances e contradições. E especialmente Clarice nunca se furtou de procurar conhecê-las, de mostrá-las, de mergulhar nelas.”, conta Odilon.
Esse caráter interativo possibilita que o público se posicione subjetivamente diante do leque de opções que lhe é oferecido, contribuindo para que haja um entrelace dos imaginários comuns dos espectadores reunidos naquela sessão. Um formato que visa aproximar ainda mais o público do acontecimento cênico-literário, implicando-lhes em sua construção e considerando cada dia como um percurso único.
A proposta deste projeto é apresentar alguns de seus textos na íntegra, oralizando a palavra escrita com vistas a potencializar o encontro desta com o público. Um trabalho que pretende ser acessível e convidativo, mas sem simplificações. O espectador será munido de ferramentas para acessar outras camadas da obra de Clarice, praticamente sem cortes no seu original.
A aplicação do método das Ações Vocais (de Constantin Stanislavski), que Odilon Esteves vem estudando desde 2002, aproxima o espectador do texto e das imagens propostas pela autora. O minimalismo da encenação visa concentrar-se no essencial, descartando tudo o que seja supérfluo no cenário e figurino, ou redundante e ilustrativo no movimento e na ação física, para dar espaço à imaginação do espectador e jogar com ela. A escuta como lugar de potência.
| CICLO DE PALESTRAS |
Além das apresentações, o projeto propõe um ciclo de palestras sobre Clarice Lispector nos dias 14 de dezembro, 11 de janeiro e 25 de janeiro com abordagens que aprofundam a leitura e a análise de sua obra, ministradas por:
Nádia Battella Gotlib (14 de dezembro) mestre, doutora e professora livre-docente pela Universidade de São Paulo, onde atuou, desde 1970, como professora e pesquisadora nas áreas de Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira. Atualmente é professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.
Noemi Jaffe (11 de janeiro), é escritora, professora e crítica literária. Doutora em literatura brasileira pela USP, dá aulas de Escrita Criativa na Casa do Saber, no curso de Formação de Escritores do Instituto Vera Cruz e n’A Escrevedeira. Também trabalha como crítica literária para o jornal Folha de São Paulo.
Maria Homem (25 de janeiro) – graduada em Psicologia pela USP, com mestrado em Psychanalyse et Esthétique pelo Collège International de Philosophie e pela Universidade Paris VIII, e doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Atualmente colabora com a PUC-SP e FAAP. Tem experiência na área de Psicanálise, Cultura e Estética, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, literatura, cinema e subjetividade.
Clarice aos olhos do ator
“A escrita de Clarice já reverberou em mim de muitas formas. A primeira obra que conheci foi “A hora da estrela”, na adolescência. E Macabéa me doía, porque eu conheci várias Macabéas no norte de Minas Gerais, onde nasci. Porque eu amo várias Macabéas que cuidaram de mim quando criança ou trabalharam para minha família, e muitas morreram antes de eu saber o que fazer por elas.
Quantas vezes as contradições humanas nos textos de Clarice me convidaram a encarar as minhas próprias! Quantas vezes me senti estrangeiro, mesmo na cidade onde nasci! Tenho fotos em que pareço triste, mas na lembrança tenho certeza de que estava alegre, a despeito de não estar sorrindo. Em seus livros, encontro mundos onde caibo. E onde cabem meus amigos, minha família, e todo o mundo que desconheço.
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Além do mais, seu dia a dia ordinário tem aura de realidade mítica. Clarice teve algum convívio, foi lida e admirada por muitos dos meus ídolos: Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Carlos Drummond de Andrade.
E junto do seu amor por Recife, tem também uma relação forte com Minas. A proximidade com tantos mineiros, a admiração profunda por Lúcio Cardoso, a amizade com Fernando Sabino, a carta em que fala sobre “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa… Na crônica “Das vantagens de ser bobo”, que é um estandarte contra a cultura da esperteza, essa doença do “levar-vantagem-em-tudo-e-a-qualquer-custo” tão recorrente no Brasil, ela descreve o bobo como a antítese do esperto, e afirma que há lugares que facilitam ser bobo, e Minas Gerais é um exemplo disso. Enfim… queria ter sido contemporâneo dela, mas só nasci onze meses após sua morte. E no entanto, abraçado a seus livros, atravessei a pandemia na companhia de Clarice.”
| CCBB, CENTENÁRIO DE CLARICE e TEATRO ON-LINE |
O CCBB começou as comemorações do centenário de Clarice em março de 2020 com a estreia, no Rio de Janeiro, do musical “A HORA DA ESTRELA – O Canto de Macabéa”, protagonizado por Laila Garin. Uma semana depois, a temporada teve que ser suspensa em função do isolamento físico. Para não dar uma pausa a essa comemoração tão importante, NA SALA COM CLARICE chega para uma celebração via streaming.
“O CCBB sempre fomentou novos formatos, sabe da importância disso. Como espectador e frequentador deste espaço vi a renovação acontecer muitas vezes. Além disso a celebração do centenário de Clarice Lispector não podia parar. “NA SALA COM CLARICE” continua a festa começada com “O CANTO DE MACABÉA” e, segundo o próprio CCBB, este musical volta à cena em 2021, quando as condições sanitárias permitirem”, comenta Odilon.
Atualmente os 4 CCBBs reabriram, mas continuam ofertando programação digital, como forma de permitir às pessoas uma alternativa cultural aos eventos presenciais.
| SINOPSE |
NA SALA COM CLARICE – peça literária on-line, em celebração ao centenário de Clarice Lispector, em que o público escolhe, a partir de um cardápio de textos da autora, quais gostaria de ouvir naquela sessão. Obras que compõem um panorama de suas múltiplas facetas, incluindo narrativas em que podemos perceber a própria Clarice em diferentes fases da vida.
| FICHA TÉCNICA |
Textos: Clarice Lispector. Concepção e atuação: Odilon Esteves. Codireção e direção de arte: Fernando Badharó. Trilha sonora: Barulhista. Iluminação:Lucas Pradino. Intérprete de Libras: Marcella Alves de Sousa. Produção Executiva: Ricelli Piva. Direção de produção: Juliana Sevaybricker. Produção: Agentz Produções |
Duração: de 60 a 90 minutos (dependendo das escolhas do público) |
Classificação etária: 12 anos |
Ingressos gratuitos pelo site: www.sympla.com.br/nasalacomclarice |
Lotação: 995 pessoas |