Renova-te.
Renasce em ti mesmo,
Multiplica os teus olhos para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Sê sempre o mesmo.
Sempre o outro.
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
(MEIRELES, 1995, Cântico XIII)
O limite que o sonho impõe é a altura de um vôo que a alma alcança; é olhar perdido no horizonte em busca das nuances do céu; é o repouso de um lápis sobre o papel branco, enquanto o pensamento divaga livre no espaço vazio da mente em devaneios. E pode ser que as lendas, as fábulas, os contos surjam exatamente nesse momento em que, de tão linda, a fantasia parece até quimera. Uma utópica visão do interior do espírito, num momento de divagação profunda. Não há limites para o olhar encantado quando o horizonte é amplo e abre seus braços para a viagem que a partir de então se inicia. Assim nasce o processo de criação, assim nasce uma obra.
A criação artística é, pois essa capacidade que tem as mãos de tecer o que a mente em ebulição propõe que, a cada um se dá de forma diversa. O ajuizamento, as percepções e mesmo a absorção de conhecimento são confeccionados ao modo de cada um, de maneira única. Sobre isso,
O que sempre me encantou no comportamento humano é que não existe generalizar, somos únicos, cada um com sua personalidade e cada um reage de uma forma diante das mesmas situações. É sempre uma caixinha de surpresas. (VIEIRA, 2020, p.89)
O olhar no interior da alma permite que a viagem pelos campos lúdicos seja única, se a mente assim permitir e se soltar. E se não existem cópias na vida real, não existem cópias na Arte, nem tampouco um artista é capaz de copiar a própria obra. No momento da criação seu espírito trafegava por caminhos que jamais se repetirão em sua vida. E o interior da alma é repleto de encantamentos quando se chafurda os recônditos e as profundezas mais esquecidas. Tudo já está pronto, basta apenas vasculhar cuidadosamente.
Assim nasceu a bailarina e o menino índigo em seu Despertar para a Era de Ouro. A proposta da escritora e terapeuta Cenira de Fátima Vieira, chegou com o tema de seu livro “O Despertar da Consciência Índigo na Era de Ouro”.
Por vezes é necessário que o artista registre nomes de elementos que lhe vem à mente, que faça deles esboços ou rabiscos, para que a linha de pensamento não se perca. Como uma fotografia, o olhar vai aos poucos capturando elementos e montando a cena, como um jogo de encaixar peças. E o papel ou a tela em branco são os tabuleiros desse jogo que vai aos poucos se compondo.
Mergulhando nas profundezas do âmago, os elementos foram saltando aos poucos, na forma de pássaros, de borboletas, de peixes, de libélulas e de muita natureza ao redor. Tudo isso se juntou à cor azul, lilás, dourado; e ao movimento, como se a narrativa estivesse ocorrendo no instante em que se repousa o olhar sobre ela.
Juntando-se tais elementos, o próximo passo é a montagem da cena, deixando poucos espaços vazios, sem informação em demasia; distribuição adequada das cores; e um olhar afinado para o ponto de fuga e para a perspectiva. Na magia da cena, podem ainda haver alterações, uma vez que se trata de um mundo surreal e fantástico.
Surgiu então o Violinista solitário (Fig. 1), atraindo para si o mundo das borboletas, como se ele juntasse dois mundos diante de si. E logo a seguir a Bailarina, que possivelmente habita esse mundo dourado com suas borboletas e pássaros gigantes. Para cruzar essa tênue linha que limita os dois mundos, é necessário que se divague por uma linda ponte de arco-íris que se move eternamente. Em delicada postura, dançando, ela cruza esse caminho num vai e vem, de cá para lá e lá para cá, até que encontra o violinista e os dois, juntos, evoluem para um mundo dourado e muito melhor. Junto a eles, os elementos da cena se distribuem, sem que um se sobreponha ao outro, para que todos sejam observados.
E como se não bastasse a narrativa em si, a obra ainda se acerta nas técnicas do desenho, para que o olhar perceba o que está perto, o que está distante, de onde vem a luz e para onde vai a sombra.
Sobre o Ponto de Fuga, vale lembrar que o arco-íris da Figura 3 é uma ponte que se desenrola, em movimento, diminui à medida que distancia do olhar e se dirige para cima, aos pés do violinista. O Castelo Dourado é menor em relação aos protagonistas da cena, uma vez que é visto ao alto, mais distante. Com referência à incidência de luz, o Castelo Dourado tem luz própria e a luz é procedente dessa direção. Portanto as sombras dos elementos dirigem-se para frente da cena. Por outro lado, a ponte se desenrola, formando curvas e dobras, como se fosse um tecido. Esse fato não permite que a luz incida em meio a essas ondulações, que receberão tons mais escuros da mesma cor.
E pode ser que o principal tópico da obra seja o uso das cores e a dosagem adequada de cada uma delas, que proporcionou impacto no olhar. Nesse sentido vale destacar o arco-íris (Fig. 3) e a colocação correta das cores, lembrando que as cores primárias são o azul, o amarelo e o vermelho. Da combinação de cada uma delas, na devida dosagem surgem as outras cores. Assim surge o laranja, na mistura do vermelho com o amarelo; e o verde, na mistura do amarelo com o azul claro. O uso correto do campo de cores permitiu que também as árvores tivessem um acabamento muito próximo do real (Fig. 1), com campos escuros e claros, dependendo da incidência de luz e de sombra no tronco. É possível perceber que os troncos descascaram, onde estão os pontos escuros, deixando à mostra o fundo que ficou pouco iluminado. No campo de cores, na mesma imagem, ao fundo da cena, as montanhas estão distantes, por esse motivo a cor á azulada, esbranquiçada mais abaixo, devido à neblina.
E na imagem final (Fig. 3) a bailarina mal pousa seus pés sobre a ponte, por isso sua sombra não aparece, como se ela flutuasse, tal é sua leveza, seguindo a idéia da cena.
É necessário que se divague em pensamentos, que se repouse o olhar no sonho, encantando a própria alma e permitindo que ela se embriague dessa fantasia, que é única a cada obra, a cada artista. Divagar por esses universos permite que a alma se eleve em consciência e em sabedoria e que alcance a Era de Ouro com uma compreensão mais aprofundada. Compreender essas consciências e esses novos tempos, leva à evolução do espírito, conforme nos diz a terapeuta Cenira de Fátima Vieira, o que permite a cada ser humano abranger o máximo de seu conhecimento.
Referências:
Inscreva-se para receber as Novidades sobre Eventos
e o Universo das Artes primeiro!
MEIRELES, Cecília. Cânticos. São Paulo: Ed. Moderna, 1995.
VIEIRA, Cenira de Fátima. O Despertar da Consciência Índigo na Era de Ouro. Palmas: Editora Kaygangue Ltda., 2020.
Links do livro:
amazon.com.br/Despertar-Consci%C3%AAncia-%C3%8Dndigo-Era-Ouro/dp/6586007119
produto.mercadolivre.com.br/MLB-1714238029-o-despertar-da-conscincia-indigo-na-era-de-ouro-_JM
VIG, Rosângela. Aula de Desenho – Moinho de Vento na Holanda. Estudo de Campos de Cores (acessível em www.youtube.com/watch?v=yu3tO21No1I).
ROSÂNGELA VIG
Sorocaba – São Paulo
Facebook Perfil | Facebook Fan Page | Website
Colunista no Site Obras de Arte
E-mail: rosangelavig@hotmail.com