A exposição “Beabá” propõe uma pré-linguagem poética
Que implicações estão em jogo, quando dois artistas com experiências e investigações particulares se propõem a colocar seus universos estéticos em justaposição? Que diálogos são possíveis e que caminhos no campo da arte tais encontros podem ensejar? Os artistas visuais, Maria Paula Recena e Marcos Sari, que inauguram a exposição Beabá, no V744 Atelier, no próximo dia 12 de março, sábado, às 17h, dentro do projeto “Eu convido que convida”, não estão em busca de respostas para estas indagações. Para eles, o que importa são as possibilidades oferecidas pelo jogo estético, a busca incessante de um percurso poético possível, as descobertas que, individualmente, ou a dois, este encontro pode proporcionar. O que o público visitante irá encontrar é uma experiência singular, muito mais pautada pelos sentidos, pelo lúdico, do que respostas objetivas, propriamente ditas.
A reunião dos trabalhos para a mostra Beabá é resultado da relação de coleguismo e amizade entre Maria Paula Recena e Marcos Sari ao longo de mais de duas décadas de produção. No caso da presente exposição, os artistas desenvolveram a proposta em conjunto com trabalhos independentes que dialogam entre si, criando um conjunto que se aproxima do conceito de uma pré-linguagem, numa abordagem poética a qual denominaram Beabá.
Longa convivência
Essa relação dialógica entre Maria Paula Recena e Marcos Sari se inicia no Torreão, escola e lugar de fomento da arte contemporânea, ativo em Porto Alegre por 16 anos, e se estende até hoje, envolvendo muitos aspectos da arte e da vida. Da arte, surgem questões de desenho, pintura, arquitetura, escrita, trabalhos em site-specific e linguagem, entre outras. “Da vida, vêm a amizade, o companheirismo e a convivência que, ainda que não tão frequente, é sempre muito produtiva”, observa Recena. Isso inclui aspectos familiares em diferentes momentos de suas trajetórias. Nesse sentido, as intervenções de Bernardo e Natália, em suas diferenças, filhos de Recena, bem como de Caetana, filha de Sari, comparecem na produção atual dos artistas, de forma direta, assim como a paisagem na qual suas vidas domésticas estão inseridas: da paisagem sem espaço, ao Pampa.
Paisagens também se constroem pela linguagem, seja pela ausência da palavra (Bernardo), seja pela aquisição da linguagem por meio da palavra (Caetana), ou pela presença da linguagem doble-chapa da Fronteira Sul. Essa identidade, de algum modo, é compartilhada pelos artistas, pois é moradia de Marcos Sari e de certa forma constitui-se como horizonte de Maria Paula Recena.
Nesse contexto poético e íntimo surge Beabá, resultado do processo de trabalhar e pensar uma pré-linguagem poética que possa dar conta, em certa medida, das inquietações artísticas que se manifestam nas intervenções poéticas que serão apresentadas. Desenhos, objetos, palavras, grafites prensados, sons, grunhidos, esboços e esquemas de paisagens, reunidos e organizados pelos artistas, transformam o substantivo Beabá em verbo aberto ao fluxo dos gestos.
A exposição
A montagem inicia-se pelo trabalho de Maria Paula Recena que dá nome à exposição: Beabá. Este é composto por uma série de objetos pendentes em acrílico colorido com inscrições pouco legíveis. A sala é composta por desenhos da série “Escapes em terra”, de Marcos Sari; um desenho da série “Paisagens sem espaço”, de Recena, e um trabalho conjunto chamado “Mesa da vovó”.
“Escapes em terra” são feitos a lápis de cor e canetas hidrocor. Nestes desenhos, o artista desconstrói a paisagem do Pampa em desenhos que têm interferências ou colagens feitas com a apropriação de partes de desenhos de Caetana. O desenho da série “Paisagens sem espaço” é um desenhos de 10m, feito ao prensar/esmagar grafites sobre papel em rolo, em processo que a artista só vê o trabalho inteiro ao desenrolar o desenho, depois de pronto, em lugar acessível. A “Mesa da vovó” é um trabalho experimental que que será desenvolvido em conjunto na montagem.
Completa a mostra, uma produção de Marcos Sari, chamada de “4 elementos”, em que certas paisagens sonoras e balbucios são ouvidos na reprodução desta peça de arte sonora. Em área externa, um jogo de varetas em dimensões muito maiores do que as usuais, de Maria Paula Recena, poderá ser manipulado. Dentro da ideia de jogo com as palavras, suspenso no idioma híbrido da fronteira seca entre Brasil e Uruguay, uma “charla” chamada “Charles Cruces”, de Sari e de Mariana Dos Santos, será disponibilizada para que os visitantes levem uma cópia deste texto-conversa-invenção para casa.
SOBRE OS ARTISTAS:
Maria Paula Recena (Porto Alegre/RS, 1964) é arquiteta, artista visual, mestre em Poéticas Visuais/PPGAV-UFRGS 2005 e doutora em Arquitetura/PROPAR-UFRGS 2013. Fez estágio Pós-Doutoral/PPGAV-UFRGS entre 2014 e 2016. Fez parte do Torreão entre 1998 e 2005, anos de intensa troca, compartilhamento de ateliês e formação. Foi mapeada no primeiro Rumos Itaú Cultural. Desenvolve seu trabalho com instalações e objetos, em paralelo à pesquisa com desenhos que envolvem, em seu processo, uma dimensão performática. Fez uma pausa entre 2007 e 2018, trabalhando apenas questões teóricas. Retoma o trabalho de ateliê em Residência Artística no LINHA.poa, em 2019. Foi selecionada, em 2020, nos Editais Itaú Arte como Respiro e Funarte Respirarte. Foi professora colaboradora do PPGAV-UFRGS de 2014 à 2016. Atualmente, é professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRGS, com pesquisas interdisciplinares em arte e arquitetura. Vive e trabalha em Porto Alegre / Brasil.
Marcos Sari (Porto Alegre/RS, 1972). Bacharel em Artes Visuais pela UFRGS (2003). Fez parte do Torreão (escola independente de arte contemporânea) em Porto Alegre onde participou ativamente dos cursos e ateliês abertos entre 1997 e 2009. Expõe seu trabalho em várias mídias destacando instalações artísticas, intervenções em paisagem e livros de artista, desde 2001. Foi bolsista da Fundação Iberê Camargo em 2010 e integrou a 8ª Bienal do Mercosul em 2011.Trabalha com arte-educação para diversos públicos. Coordena, desde 2003, o Projeto Meio juntamente com Daniele Marx produzindo publicações e ações entre Porto Alegre e Amsterdam. Atualmente, é professor do curso de Belas Artes na Universidade de La República Del Uruguay (UDELAR) em Rivera. Desde 2020 vem desenvolvendo a série de desenhos com colagens Escapes em terra, que partem de observação da paisagem, selecionado no FAC Digital RS. Atualmente, trabalha no coletivo 3:PAN, criado em 2021 para ações poéticas na região da fronteira entre Livramento (BR) e Rivera (UY) em tempos de pandemia. Vive e trabalha entre a fronteira Livramento (BR)/Rivera(UY) e Porto Alegre/Brasil
Sobre o V744 Atelier
Idealizado pela artista visual Vilma Sonaglio, o V744 Atelier é um local para criar e expor arte contemporânea. Abriga exposições de artistas convidados, mas também aceita propostas de criadores que estejam desenvolvendo sua pesquisa e produção em todas as linguagens, com relevância, na arte contemporânea. Inaugurado em 18 de setembro de 2021, com a exposição “ViCeVeRSa…pode não ser o que é”, de Sonáglio, já sediou a exposição “Paisagem sem Volta”, de André Venzon e Igor Sperotto (19/12/21 a 25/02/22). Beabá é a terceira mostra do espaço expositivo.
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Canais de comunicação de Maria Paula Recena:
Instagram: @mariapaularecena
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Canais de comunicação de Marcos Sari:
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SERVIÇO
O Quê: “Beabá”, exposição dos artistas visuais Maria Paula Recena e Marcos Sari, dentro do projeto “Eu convido que convida”.
Quando: Abertura dia 12 de março de 2022, sábado, das 17h às 20h.
Visitação até 28 de abril de 2022, de quartas as sextas, das 14h às 17h, de maneira espontânea. Outros horários serão contemplados com agendamento pelo direct do Instagram V744atelier.
Uso obrigatório de máscara e álcool em gel à disposição, assim como orientação para 2m de distância entre as pessoas.
Onde: V744 Atelier | Rua Visconde do Rio Branco, 744, Bairro Floresta, Porto Alegre-RS
Quanto: Entrada franca
Recomendação etária: Livre