Exposição reúne 54 trabalhos do artista fluminense, das mais variadas fases de seu percurso, de 1930 à década de 1980
Reflexiva, disciplinada e silenciosa, ao mesmo tempo que repleta de densas emoções. Assim é a obra de Milton Dacosta (1915 – 1988), pintor fluminense que conseguiu conciliar as tradições a um potente e fértil processo criativo. A partir do dia 18 de agosto, o público poderá conferir de perto as várias fases do artista em A cor do silêncio, exposição realizada pela galeria Almeida e Dale. O pintor volta a ter seu trabalho celebrado por uma individual em São Paulo depois de um hiato de 12 anos.
Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne 54 obras do artista plástico, realizadas da década de 1930 até o fim de sua vida, nos anos 1980. Ao longo desse percurso, Dacosta não se deixou limitar por nenhuma escola, assumindo influências diversas. “Sem dar importância a elogios ou críticas o artista sempre seguiu o caminho que lhe interessava, da figuração impressionista à metafísica, do cubismo à simetria da luz e da forma concreta à sensualidade da curva”, pontua a curadora.
Em vida, o artista foi aclamado pelo público e também pela crítica. Seu trabalho foi reconhecido pelos mais importantes nomes da área, de Sérgio Milliet a Mário Pedrosa, de Samson Flexor a Waldemar Cordeiro. Em 1955, o júri da III Bienal de São Paulo conferiu a ele o prêmio de melhor pintor nacional.
Então com 40 anos de idade, recebia o reconhecimento máximo de seu trabalho em meio ao acirrado embate entre figuração e abstração que havia na época. Dacosta era uma das raras unanimidades daquele contexto. Para Denise Mattar, a aceitação de sua obra era resultado de um percurso particular de um pintor excepcional, que sabia estabelecer diálogos com as obras de artistas que o interessavam e manter-se, ainda assim original.
Seguindo uma trajetória cronológica, a exposição A cor do silêncio tem início com os primeiros trabalhos do jovem pintor. Paisagem Urbana (1937) e a icônica Autorretrato (1938) são deste período. Com forte influência dos movimentos parisienses e do naturalismo com acentos impressionistas, as telas já enunciavam uma das principais características de sua obra: enquanto predominava o realismo expressionista de cunho nacionalista de artistas como Di Cavalcanti e Portinari, ele mantinha-se fiel às suas predileções.
Nos anos 1940, Dacosta volta-se à pesquisa estrutural da imagem, trilhando uma fase de descobertas. Neste período, interessa-se pelas figuras longilíneas e pela metafísica de De Chirico, cuja influência é nítida em trabalhos como Ciclistas (1941) e Carrossel (1945). Ao contrário do artista italiano, entretanto, as telas do brasileiro são de clima solar, não associado a angústias, mas ao lúdico, tema constante ao longo de sua vida.
Após uma temporada de viagens e estudos nos Estados Unidos e na Europa, o pintor retorna ao Brasil no final dos anos 1940 e, num primeiro momento, retoma as figuras alongadas que já realizava anteriormente. Em seguida, inicia uma fase geométrica, cheia de oposições. “O claro é contraposto ao escuro, a frente é também perfil, a luz se define pela sombra. O artista distorce cabeças, decupa rostos e corpos em triângulos e círculos e, a partir deles, elabora contrastes marcados por linhas estruturais ortogonais ou curvilíneas, numa construção quase musical.
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Em 1952, já casado com a também pintora Maria Leontina, o artista parte para (de)composições geométrico-figurativas. É dessa a série com a qual recebeu o prêmio na Bienal de 1955. Em Sobre a Horizontal (1954), retrata uma natureza-morta apenas entrevista, construída com traços ortogonais, decomposta em figuras geométricas e pintada a têmpera, em azuis, ocres suaves e brancos luminosos, sobre intenso fundo negro.
Pouco a pouco, Dacosta abandona as alusões figurativas, alcançando um construtivismo lírico e singular, cada vez mais conciso. Trabalhos como Em Branco (1956), Em Roxo (1957) e Em Verde (1958) pertencem a este momento e mostram a precisão compositiva e o apurado cromatismo do pintor. A crítica considera essa fase como o ápice de sua carreira. O artista, entretanto, não compartilhava dessa opinião. “Ele nunca foi seduzido pelo movimento concretista e nem mesmo pelos neoconcretos, era fiel apenas a ele mesmo e à sua busca interior”, pontua Denise Mattar.
O artista toma então um caminho de regresso à figuração, processo de retomada que se estendeu pelos anos 1960. As linhas retas começam a se flexibilizar e as curvas se insinuam ao espectador, a exemplo de Mulher com o rosto apoiado sobre a mão, Figuras (década 1950) e do conjunto de quatro obras intituladas Figura com Chapéu (1958 – 1961).
No final da década de 1960, e até seus últimos anos, o artista realiza as sensuais Vênus, sempre marcadas por linhas sinuosas, criadas pelo desenho livre e sem amarras recém-descoberto. Figura e Pássaro, 1964, Vênus e Pássaro, 1969/70, Figura, 1964, são exemplos dessa fase, que se tornou um sucesso no iniciante mercado de arte da época.
Serviço: |
Dacosta – A cor do silêncio, individual de Milton Dacosta |
Local: Galeria Almeida e Dale |
Endereço: Rua Caconde, 152 | Jardim Paulista – São Paulo |
Abertura: 18 de agosto, sábado, das 11h às 14h |
Período expositivo: de 20 de agosto a 24 de novembro |
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h |
Telefone: 11 3882-7120 |
Entrada gratuita |