Performance-instalação da autora no Parque Lage traz a emoção do local de encontro de seus pais, Rute Casoy e Sergio Bernardes
A história da autora Mana Bernardes começa no Parque Lage. Foi lá que sua mãe, a poeta e arteterapeuta Rute Casoy, recebeu o inusitado convite do seu pai, o cineasta Sergio Bernardes, para vestir um macacão cheio de guizos e dançar numa sala de espelhos para a cena do filme “Madripérola”. Nove meses depois da gravação nasceu a artista visual e escritora, que narra o encontro em seu livro “Ritos do Nascer ao Parir”. Agora, Mana retorna a esse local tão especial na sua trajetória para autografar sua obra durante a Virada Sustentável, às 15h, no dia 19 de outubro.
Mana vestirá com Rute-mãe, figura central do livro, dois vestidos de papel unidos por uma enorme saia de 30 metros, feita de tyvek reciclado de um cenário criado por ela para um espetáculo de teatro. No grande vestido, os manuscritos da autora em suas mais de mil páginas de caderno ganham a cor bordô, impressos com tinta feita de beterraba, e na barra da grande saia cordas se transformam em cicatrizes, em cordões umbilicais. No centro, Rute e Mana iniciam a leitura unidas pela saia-mãe. Homens e mulheres convidados seguram as cordas e alternam seus lugares, chagando ao centro para assumir o protagonismo da leitura na performance-cortejo, acompanhados pelo músico Thiago Queiroz, irmão da artista. O grupo começa a performance no Jardim Francês às 16h, e sairá em cortejo até chegar na borda da piscina, onde o vestido será erguido e ficará exposto para o público durante o evento.
“O Parque Lage, como espaço da narrativa do início do livro, se faz como espaço literal e literário para abrigar esse vestido. E faz com que o público possa experienciar as palavras amalgamadas e garranchadas da escrita originalmente dos cadernos que nele estão estampadas. Vivemos o fracasso de uma sociedade sem ritual, tudo é banalizado em alienações contínuas da falta de espaços de contemplação e filosofia sobre a própria vida e sua passagem. Expor pela primeira vez o vestido de “Ritos do nascer ao parir” é fazer com que o espaço da Virada Sustentável seja a ocupação desse ritual de cultura e dinâmica de relação”, celebra Mana.
Sobre “Ritos do Nascer ao Parir”
Foi a partir da decisão de ser mãe e de seu desejo de criar que Mana Bernardes, num voo entre Rio e Portugal, começa a escrever “Ritos do nascer ao parir” (lançamento da editora Bazar do Tempo). As primeiras 30 páginas manuscritas naquela ocasião transformaram-se em mais de mil, tomadas pela caligrafia que é característica do seu trabalho de artista visual. E nesse tom íntimo, de quem mergulha em sua própria história e transborda em folhas de cadernos, Mana dá protagonismo a sua mãe Rute, numa autobiografia poética, longe de ser um livro sobre maternidade e das relações idealizadas entre mãe e filha, amiga e mulher.
Finalizado, “Ritos do nascer ao parir” conta com 376 páginas, nas quais Mana recupera episódios da infância, os encantos e percalços de uma criação não linear, para entender o seu lugar como mulher no mundo hoje. A separação dos pais, as mudanças constantes de escolas e cidades, um acidente carregado de culpa, uma doença grave, o peso da exigência precoce de autonomia, um abuso, a descoberta da sexualidade e do amor, o trabalho, o casamento – o que em sua narrativa vira excesso de vida. A história de Mana é singular e universal, provoca uma identificação automática no leitor. A maneira com que narra tem ritmo e vocabulário próprios, que embalam essa conversa desenhada em pequenos episódios. São 95 ritos que podem ser lidos de forma contínua ou independentes.
“Com a retirada do véu, que eu mesma nunca ousaria fazer, o que se lê às vezes pode fascinar, e outras doer, gerar repulsa. O que importa é que continuamos sempre, apesar dos fatos, interlocutoras, em constante provocação. Quando falamos ou calamos, com raiva ou com ternura. Seguimos”, aponta Rute Casoy, a Rute-mãe, como Mana muitas vezes se refere. Torturada na ditadura, portadora de silêncios e mistérios, Rute é a personagem que conduz a narrativa. Mana escreve sobre sua mãe para poder reescrever a relação das duas e da ancestralidade feminina de sua família materna, de origem ucraniana. Nesse caminho de autoconhecimento e reencontro com um novo feminismo, ela descobre os inúmeros nascimentos e renascimentos possíveis quando olhamos de frente para nós mesmas.
“’Ritos do nascer ao parir’ é um ato radical de resistência e de oposição à atual barbárie banalizada e institucionalizada em que vivemos. Porque é fruto do exercício genuíno de ‘prestar atenção’. De se olhar por inteira e se deixar olhar inteira entregue íntegra intimamente. E porque as memórias da Mana revelam a sua atenção, desde muito menina, sobretudo à beleza e à importância das coisas frágeis. E nos inspiram poeticamente a ‘prestar atenção’. Não se trata de um livro sobre maternidade. Longe disso. Nem tão pouco uma autobiografia documental a partir dos fatos incrivelmente cinematográficos que ela viveu. (…) O livro da Mana é um chamado de humanidade”, afirma Maria Duarte, diretora de produção da performance de lançamento do livro.
Ficha técnica | Performance:
Mana Bernardes: concepção
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e o Universo das Artes primeiro!
Maria Duarte: direção de produção
Guilherme Mattos: supervisão e direção
Jade Mariani: Estampa do vestido
Lala Costa: modelagem e costura
Agustinho Coradello: serigrafia à base de beterraba
Thiago Queiroz: música
SERVIÇO |
Parque Lage: Sábado, 19 de outubro de 2019 |
15h: Lançamento do Livro e autógrafos, no Jardim Francês |
16h: Início da performance e cortejo |
17h: Instalação/exposição do vestido (piscina) |
RITOS DO NASCER AO PARIR |
de MANA BERNARDES |
Categorias: Literatura brasileira, Autobiografia. |
Editora: Bazar do Tempo |
Formato: 14 x 21 cm |
Número de páginas: 376 |
ISBN: 978-85-69924-58-6 |
Preço: R$ 72,00 |