A Inspiração
Uma viagem para Santiago, no Chile. Foi a primeira vez que o estilista Gustavo Carvalho viajou para fora do Brasil e isso ampliou o seu olhar, pois se deparou com um comportamento urbano cheio de atitude e influenciado pelo sportswear, uma expressão de moda mais individualista. Esse profundo mergulho serviu para reafirmar o DNA da marca que apontou a necessidade de dedicação a um eixo de criação livre e sem tempo pré-estabelecido para suas novas criações.
Ao retornar para São Paulo, esse carioca, residente em São Paulo, começou uma busca sobre o seu papel na sociedade como criador e como pessoa. O ano de 2015 é o grande ponto de partida de uma história que começa lá em 2013 com as manifestações de junho, que levaram milhões de jovens as ruas. A utopia jovem, carente por política voltada aos ideais de uma minoria bastante expressiva, o levou a vivenciar experimentações até ontem novas. Gustavo teve um hiato de um ano que o permitiu vivenciar uma realidade bastante diferente da qual estive inserido em São Paulo, nos últimos três anos…
Trocou sua casa pela rua, passando a maior parte do tempo dedicando-se a observação da nova construção da cultura urbana – adentrou ocupações, residiu em uma delas por cerca de três meses lidando com tantos contrastes, perspectivas e cenários totalmente análogos aos seus.
Na ocupação artística Casa Amarela despertou um desejo de começar a pintar, construir e questionar a partir de formatos e conceitos de sua metodologia de trabalho, despertando um lado artista, mas não apenas a arte na produção, mas também como questionar, no olhar e no indagar…
Ao mergulhar nos escritos do cantor Cazuza, um dos grande poeta do século, entendeu o que é ser artista; e após essa experiência artística – política da ocupação, estava na hora de pular para o próximo degrau, então, sua próxima vivencia foi o teatro oficina, do diretor José Celso Martinez.
No teatro o designer encontrou as peças que faltavam para montar o seu quebra-cabeça de desejos e vontades – a arquitetura de Lina Bo Bardi; nos parangolés de Hélio Oiticica; os manifestos de Oswald de Andrade, o Pau Brasil – para questionar essa relação da arte e do vestuário que serviu para libertar seu corpo, suas intimas ideias, então começou a se inventar como plataforma de criação – Fez performances teatrais, Drag Queen, happenings para entender que não existe limites para arte, e que nós mesmos somos a maior expressão de nossas ideias e conceitos.
A Coleção
A coleção de Inverno 2016 é construída a partir de todas essas experimentações quando o estilista pulou de cabeça a fim de encontrar uma linguagem que não permitisse apenas construir roupas, mas sim trazer a questão da arte para a produção e o pensar de moda.
O álbum Dark side of the moon, do Pink Floyd com o seu surrealismo sonoro é base da coleção que traz como inspiração a ideia da ocupação artística, pois, as roupas dessa temporada da Gustavo Carvalho é uma experiência guiada pela forma, pela liberdade dos corpos, por isso os gêneros (masculino e feminino) saem de cena e entram apenas as roupas. Drags, perfomers e modelos dialogam entre si nesta coleção que busca retratar o ano de 2015, abordando uma variedade de cores, pontuadas pelo preto – amarelo, cinza, vermelho, dourado, verde, rosa.
A malharia muito presente faz uma referência ao norte e nordeste do País e ao pau brasil. O lado questionador da coleção aparece também nos tecidos de reaproveitamento de materiais – o tapete de plástico da casa do estilista, reutilização de peças sem uso, assim como, o gabardine, jeans, suplex, moletinho, moletom, brocado, couro, pele sintética, neoprene e um patchwork feito de fragmentos de quadros.
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A coleção conta ainda com um processo de beneficiamento e nove estampas exclusiva feitas com grafite, bordado, pintura sobre tecidos a fim de mudar a materialidade de cada matéria-prima que serviram de base para shapes abertos, retos e longilíneos influenciado pelo grande número de imigrantes africanos em São Paulo.
A apresentação
Na edição de Inverno 2016, da Casa de Criadores o estilista Gustavo Carvalho apresentou a coleção “Ocupações Artísticas”, off calendário. Depois da apresentação de encerramento do evento, as portas do hangar, no Campo de Marte se abriram e de maneira surpreendente o público foi recepcionado por alguns perfomers pintados que iniciaram esse happening dançando; logo em seguida os modelos entram, desfilando em meio ao público que ocupava o espaço fazendo parte dessa ocupação.
Depois que todos os looks cruzaram a passarela, entra a fila final com designer (Gustavo Carvalho) mascarado dando o start numa dança levada por uma trilha eletrônica abrindo caminho para uma drag queen vestida de noiva com uma cauda enorme que era pisada pelo público que parecia instigar sua apresentação. No fim da trilha essa ocupação se desfaz como um flashmob que pretende levar vida a espaços ociosos.
FICHA
Foto:Marcellus kimontait
Beleza: Rafael Guapiano
Produção: Theo (Ayelen) Cerda
Acessórios: Óculos Triton Eyewear , Lapidação Azteca
Trilha: Felipe Rosa
Video: Henrique Smith
Lookbook: Kaique Talles Camargo
Estampa: Studio Aurum
Texto: Rafael Moura
Intervenção Performática: Grupo de estudos/nas artes do corpo
Assistente desfile: Andre Bergamaschi
Direção Criativa: Gustavo Carvalho
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