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Os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz… Dedico-os à humanidade.
Portinari, Agência Reuters, 1957.
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Guerra e Paz, de Candido Portinari, de volta a Nova York
Após quatro anos sob a guarda do Projeto Portinari, a obra-prima do pintor será reinaugurada na sede ONU, em cerimônia-show no grande Plenário da Assembleia Geral.
Doados pelo Brasil à ONU em 1956 e inaugurados em setembro do ano seguinte, os painéis Guerra e Paz, de Candido Portinari (1903-1962), voltaram à sede da instituição, em Nova York, plenamente restaurados e após quatro anos em itinerância nacional e internacional promovida pelo Projeto Portinari. A monumental obra-prima, já reinstalada em seu local de origem – o hall da Assembleia Geral da ONU –, e atualmente coberta por um véu translúcido, será reinaugurada nos Estados Unidos em 8 de setembro, durante cerimônia conduzida por um filme-espetáculo com direção de Bia Lessa.
Entre os convidados estarão Chefes de Estado, Delegados, Embaixadores da ONU, autoridades, artistas, intelectuais, e celebridades do mundo inteiro. “A ideia é propor uma cerimônia que inspire a reflexão de todos sobre a pungente mensagem final de Portinari no contexto atual, sobre os limites da humanidade hoje do ponto de vista humano, ecológico e econômico, e a necessidade imediata de transformação do viver no planeta, fortalecendo a essência da missão da ONU, de transformar aflições em esperança, guerra em paz”, explica João Candido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, filho único do pintor.
O Projeto Portinari planeja apresentar no grande Plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) um filme-espetáculo, com direção de Bia Lessa, que evidencia a ideia de construção de um mundo mais justo, mais respeitoso do sagrado da Vida, conclamando para isso a convergência das diferentes culturas, da diversidade linguística e artística dos povos e das contradições humanas. A obra estabelece uma relação direta entre o que está sendo apresentado ao vivo e imagens que mostram o diálogo entre a música, a literatura, o cinema, a fotografia, a filosofia, a ciência e a estatística. Ao final do espetáculo, os painéis estarão descobertos para a apreciação do público presente. “O filme-espetáculo propõe a discussão pela qual Portinari deu a vida ao pintar essa obra monumental. A nossa ideia é mostrar que a busca pela paz deve ser um projeto permanente do homem”, afirma Bia Lessa.
A cerimônia na sede da instituição representa a última etapa do Projeto Guerra e Paz, que permitiu que o público tivesse acesso a mais importante obra de Portinari – hoje os painéis não podem ser vistos nem mesmo durante as visitas guiadas à instituição. A obra volta para o hall de entrada da Assembleia Geral da ONU após restauração integral em ateliê aberto ao público e apreciação de mais de 360 mil pessoas no Brasil e na França durante os quatros anos em que permaneceu sob a guarda do Projeto Portinari. “O maior desejo de Portinari era a paz, a fraternidade, a justiça. Desejo ético, que faz com que essa obra vá muito além da arte. Os painéis Guerra e Paz representam também a cultura de paz exercida historicamente pelo Brasil”, afirma João Candido.
Portinari e os Estados Unidos
A relação do pintor Candido Portinari com os Estados Unidos começou em 1935, quando participou com a tela Café de exposição no Instituto Carnegie, em Pittsburgh, e foi premiado com a Segunda Menção Honrosa – no ano anterior dada a Salvador Dalí. Quatro anos depois, Portinari pintou os painéis Jangadas do Nordeste, Cena Gaúcha e Noite de São João para exibição na Feira Mundial de Nova York. Em 1940, apresenta a mostra Portinari of Brazil, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), na qual foram apresentadas 180 obras do pintor. Nesta ocasião Portinari é intensamente celebrado nos EUA, pintando os retratos da família Rockefeller, do pianista Arthur Rubinstein, da princesa Helena Rubinstein, entre muitos outros. Sua obra O Môrro é adquirida para a coleção permanente do MoMA.
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Em 1941, a Universidade de Chicago publica Portinari, his life and art, primeiro livro no mundo dedicado à vida e obra do pintor, com prefácio do artista norte-americano Rockwell Kent. Nesta ocasião, por suas firmes convicções sobre a questão racial, Portinari é convidado a participar de exposição na Galeria de Arte da Universidade de Howard, em Washington, inaugurada pela primeira-dama dos EUA na época, Eleanor Roosevelt. Ainda na capital americana são inaugurados quatro grandes afrescos de Portinari na Biblioteca do Congresso, em 1942, com o tema A Descoberta das Américas. O convite a Portinari foi feito pelo poeta norte-americano Archibald McLeish, então diretor do espaço.
Projeto Guerra e Paz
O Projeto Guerra e Paz começou em 2007, quando o Projeto Portinari, com apoio do Governo Federal e empresas estatais e privadas, deu início às negociações com a ONU para trazer os murais ao Brasil. O desejo antigo de João Candido Portinari de tornar esta obra-prima accessível ao público — já que os painéis só podem ser vistos pelos delegados dos Estados Membros —, começou a se concretizar quando a instituição anunciou a necessidade de uma reforma em sua sede nos Estados Unidos. “Pode-se afirmar que o ponto de partida deste projeto foi o decisivo pronunciamento de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, feito pelo Presidente do Brasil à época, Luiz Inácio Lula da Silva, que, pela primeira vez na história dos discursos de abertura — sempre proferidos pelo Brasil — reconheceu a importância de Guerra e Paz como dois grandes ‘embaixadores’ da essência da missão da ONU”, lembra João Candido.
Em 2009, Guerra e Paz saíram de Nova York para restauração e apreciação dos brasileiros. No ano seguinte, os murais foram apresentados no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para, em seguida, serem restaurados em ateliê aberto ao público, no Palácio Gustavo Capanema. Após a temporada no Rio, foi inaugurada a exposição Guerra e Paz, de Portinari no Memorial da América Latina, em São Paulo, apresentando pela primeira vez junto aos painéis quase uma centena de estudos do pintor para Guerra e Paz. A mostra, que recebeu o prêmio de Melhor Exposição do Ano pela Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA, seguiu então para sua última etapa nacional, em Belo Horizonte, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
Em 2014, o Projeto Portinari conseguiu — após longa e delicada articulação com a Presidência da França e o Grand Palais —, cujo momento decisivo foi o encontro da então Ministra da Cultura Marta Suplicy com sua colega francesa Aurélie Filipetti e com a presidência da Réunion des Musées Nationaux, realizar a etapa internacional da itinerância da obra. Guerra e Paz foram para Paris para exibição no Salão de Honra do Grand Palais. Foi a primeira exposição individual de um pintor naquele espaço, um dos mais nobres do mundo para a arte. A exposição, que ficou em cartaz por um mês, também mostrou a intensa relação do pintor com a França, por meio de fotos, documentos e cartas.
Este ano, além da reinauguração na ONU, o Projeto Portinari está trabalhando na concretização de um documentário sobre toda a itinerância dos murais. “O filme Guerra e Paz vai narrar a trajetória emocionante que percorremos com os painéis. Convidamos a Carla Camurati para dirigir e fizemos questão de registrar todos os passos do Projeto nesses cinco anos. São imagens belíssimas, históricas, que queremos levar ao grande público. Pensamos fazer parcerias com canais de televisão e distribuir DVDs para escolas públicas no Brasil”, conta Maria Duarte, diretora executiva do Projeto Guerra e Paz.
Patrocinadores e apoiadores
A concretização da cerimônia de reinauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da ONU, em Nova York, só foi possível com o patrocínio da TAM Linhas Aéreas e da Multiplus. Também foi fundamental o Apoio Financeiro do BNDES, sem o qual o Projeto Guerra e Paz não seria possível, bem como o apoio da ONU, do Itamaraty e do Ministério das Relações Exteriores.
Guerra e Paz, de Candido Portinari, de volta a Nova York
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