GAL reflete sobre loucura em sua primeira obra para ambiente virtual

Em ‘Experiência XSINDZIVXS’, artistas de grupo de teatro de São José do Rio Preto inspiram-se no Hospital Colônia de Barbacena e na trajetória do Dzi Croquettes. Estreia tem ensaio aberto, bate-papos e sessões online, por meio do ProAC Expresso LAB

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Grupo de teatro sediado em São José do Rio Preto (SP) com 10 anos de trajetória, que traz para sua pesquisa temas urgentes como a incomunicabilidade e a intolerância, o Grupo de Apoio à Loucura (GAL) estreia em março seu mais novo trabalho, “Experiência XSINDZIVXS”, o primeiro para o meio digital. De 22 de março a 14 de abril, o público poderá acompanhar gratuitamente a programação online pelas mídias digitais do grupo, que promoverá um ensaio aberto, seis bate-papos sobre temas tratados na obra e seis apresentações seguidas de rodas de conversa.

Em “Experiência XSINDZIVXS” (lê-se disindisivis), cinco personagens são deixadas em um hospital psiquiátrico e, por meio de seus depoimentos, relatam suas vidas a partir dos conceitos de loucura impostos pela sociedade, refletindo sobre suas experiências e lugar no mundo. A obra inspira-se no caso do Hospital Colônia de Barbacena, Minas Gerais (conhecido como “Holocausto Urbano”, retratado no livro de Daniela Arbex), onde 60 mil brasileiros morreram por diferentes causas, desde frio, fome, doenças e eletrochoques. A maioria das pessoas internadas no hospital psiquiátrico, inaugurado em 1903, não tinha transtornos mentais. Eram mulheres, pessoas negras, LGBTs, prostitutas, pessoas com epilepsia, alcoólicos, pessoas que fugiam dos padrões aceitos na sociedade.

Outra referência do GAL para a construção do espetáculo foi a trajetória do Dzi Croquettes, transgressor grupo de teatro que quebrou tabus na década de 1970, sob o regime militar, promovendo rupturas estéticas e artísticas, com homens vestidos de mulheres no palco, usando do glamour e da irreverência para driblar a censura. A partir dessas realidades distintas, o grupo reflete sobre temas como o racismo, o feminismo, a loucura e a censura.

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“Nosso foco foi unir esses extremos, ainda que não parecidos. Como estariam aqueles que dizem tudo através do riso, se estivessem presos a uma realidade de descarte humano?”, indaga Murilo Gussi, fundador do GAL, que na obra assina a direção e a iluminação. “Partindo da premissa do significado do nome do espetáculo, XSINDZIVXS, quer dizer indizíveis, o que não pode ser dito, não pronunciável, aquele que diz o que não se pode ser dito, levantamos temas que se fazem necessários à reflexão além do palco”, acrescenta. Temas esses considerados ainda tabus ou pouco discutidos pela sua complexidade, como, por exemplo, a diversidade sexual, racismo, desigualdade social, padrões de normalidade, entre outros que constroem a dramaturgia, as personagens e seus objetivos.

O elenco criador é formado por Christina Martins, Diego Neves, Suria Amanda, Cassio Henrique e Daniel Bongiovani. Clayton Nascimento (Cia. do Sal) é responsável pela preparação de elenco e Jandilson Vieira (Grupo Redimunho), pelo dramaturgismo. Ambos foram orientadores do GAL no processo de criação, através do Programa Qualificação em Artes. A construção do espetáculo teve início em 2018. Em 2019, o grupo esteve imerso na pesquisa dramatúrgica e no desenvolvimento e experimento de algumas cenas. Em 2020, o grupo interrompeu o processo no formato presencial e passou a investigar as possibilidades para o audiovisual, o que resultou em “Experiência XSINDZIVXS”.

“Na construção dessa dramaturgia, passamos a compreender que somos fruto de uma sociedade que tem como base a razão, que de maneira inconsciente teme a loucura. Suas convicções pautadas nos princípios cristãos expurgam todos aqueles que não se enquadram na normalidade vigente”, continua o diretor. Ele observa que grande parte da dramaturgia surgiu do olhar identitário das próprias artistas, que questionam as masculinidades, os comportamentos, os silêncios, as intolerâncias e a negação de seus corpos políticos no mundo. “Experiência XSINDZIVXS propõe passar a mensagem através da graça e da poesia àqueles que não toleram nos ouvir, à classe que desvalida tudo e todos que não alcançam seus padrões normativos. Damos voz e visibilidade àqueles que representamos e que estão à margem”, reflete.

As apresentações on-line têm início em 30 de março e vão até 14 de abril, sempre às terças-feiras, 19h, e às quartas, 22h, pelo YouTube (bit.ly/YouTubeGAL) e Facebook (@grupodeapoioaloucura). Ao fim de cada sessão, será realizada uma roda de conversa com o elenco, direção e público. Serão abordados processo de criação, universo e temática propostas pelo trabalho e sua aproximação com a atualidade, além de temáticas de resistências vividas pelos artistas do GAL.

Na semana que antecede as apresentações, o público poderá acompanhar um ensaio aberto e três bate-papos com convidados sobre assuntos tratados pelo projeto, com mediação de artistas do grupo. Na segunda-feira (22/3), às 17h, tem ensaio aberto (o elenco participará remotamente, de suas casas), e, às 20h, bate-papo sobre “A História da Loucura e a (des)razão humana”, com a historiadora e psicóloga Jessica Oliveira, e mediação de Murilo Gussi. A partir da análise do livro “História da Loucura”, de Michel Foucault, a discussão abarcará questões sobre como pensamos e nos relacionamos com a loucura e qual o projeto de loucura que a sociedade contemporânea criou.

Na terça (23/3), a conversa será sobre “Teatro de Resistência – O Corpo Preto em Cena”, com o ator, diretor e professor de teatro Clayton Nascimento, mediada pela atriz Christina Martins. Quarta-feira (24/3), a atriz e ativista do Movimento Negro de Catanduva (MNC) Jessica Souza abordará o tema “Racismo, Orgulho Preto e Arte Negra”, com mediação do ator Diego Neves.

A transmissão dos bate-papos será pelo Instagram (@_grupodeapoioaloucura) e os demais encontros serão às segundas-feiras. Em 29 de março, o tema a ser discutido será “Identidade no Teatro, Refletindo sobre o lugar do indivíduo na arte”, com Jandilson Vieira, diretor de arte e ator. Em 5 de abril, será “Censura e LGBTfobia”, com a ativista trans de direitos humanos Evelyn Guttierrez. Encerrando a série, dia 12 de abril, Nathalia Fernandes, atriz, diretora e produtora cultural, falará sobre “As ondas do Feminismo e atualidade”, com mediação da atriz Suria Amanda.

Sobre o GAL

Fundado em 2010 pelo multiartista Murilo Gussi, o GAL (Grupo de Apoio à Loucura) tem em seu repertório três montagens a partir da obra do dramaturgo Tennessee Williams, “CONDENADA!” (2011), “BLANCHE!” (2012) e “Me deixa Ouvir” (2014), e os trabalhos “PUTO!” (2016) e “Cabarexistência” (2017), esse último com dramaturgia de Gustavo Colombini e orientação de Georgette Fadel.

“BLANCHE!” trouxe a parceria do Projeto de Qualificação em Artes “Ademar Guerra”, sendo orientado por artistas como Alexandre Dal Farra, Imara Reis, Cassio Pires, André de Araújo, Leonardo Antunes e Márcia Baltazar. Sua relevante pesquisa e flerte com a performance foram citados no livro “Evocações da Arte Performática” [2010-2013], organizado por Paulo Aureliano da Mata e Tales Frey.

O grupo tem participações em festivais como FIT de São José do Rio Preto (2014 e 2018); FRINGE, em Curitiba (2014) e Satyrianas, São Paulo (2016). Também é idealizador da MADRE (Mostra de Artes da Diversidade e Resistência), realizada em parceria com outros coletivos de São José do Rio Preto, já com três edições.

Com o projeto “Experiência XSINDZIVXS”, o grupo foi um dos selecionados pelo Edital ProAC Expresso LAB 36/2020, “Produção e Temporada de Espetáculo de Teatro com Apresentação Online”, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado.

Sinopse:

XSINDZIVXS: vem de INDIZÍVEL, As Indizíveis.1 O que não pode ser dito. 2 Que ou quem foi anulado/excluído por não condizer com a normalidade. 3 Não pronunciável, não apresentável, impróprio, inapropriado, censurado. 4 Aquele que diz o que não pode ser dito. Faz o que não pode ser feito. É aquilo que dizem para não ser.

Cinco personagens são deixadas em um hospital psiquiátrico e por meio de seus depoimentos relatam suas vidas, a partir dos conceitos de loucura impostos pela sociedade.

Ficha técnica:

Elenco criador: Christina Martins, Diego Neves, Suria Amanda, Cassio Henrique e Daniel Bongiovani
Direção e iluminação: Murilo Gussi
Coreografia: Diego Neves
Trilha sonora: Magia Negra, Diego Neves e Lucca Lourenço
Letra: Christina Martins e Diego Neves
Orientações artísticas através do Programa Qualificação em Artes e Preparação de elenco: Clayton Nascimento
Orientações artísticas através do Programa Qualificação em Artes e Dramaturgismo: Jandilson Vieira
Fotografia e design gráfico: Maju Pereira
Captação e edição de vídeo: Marcelo Nogueira e Camila Côrtes
Suporte de edição: Daniel Bongiovani
Produção: Suria Amanda
Assessoria de imprensa: Graziela Delalibera
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 35 minutos

SERVIÇO:
Experiência XSINDZIVXS, do Grupo de Apoio à Loucura (GAL). Temporada de estreia: 22 de março a 14 de abril. Ensaio aberto (22/3, 17h) e apresentações seguidas de bate-papo (30/3 a 14/4, terças-feiras, 19h, e quartas, 22h): YouTube (bit.ly/YouTubeGAL) e Facebook (@grupodeapoioaloucura). Bate-papos com convidados (22, 23, 24 e 29/3, 5 e 12/4, 20h): Instagram (@_grupodeapoioaloucura). Gratuito.

 

PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

22 de março, segunda-feira

17h: Ensaio aberto

20h: Bate-papo “A História da Loucura e a (des)razão humana”, com Jessica Oliveira, historiadora e psicóloga. Mediação: Murilo Gussi

A partir da análise do livro “História da Loucura”, de Michel Foucault, desenvolveremos uma discussão sobre os estigmas e constituições da “desrazão”, suas práticas concretas e simbólicas de asilamento e as implicações com o tempo presente. Como pensamos a loucura? Como nos relacionamos com a loucura? Qual o projeto de loucura que a sociedade contemporânea criou?

Jéssica Oliveira é historiadora, psicóloga e psicodramatista. Atualmente, é psicóloga clínica e educadora socioemocional na Escola Coopen. Militante feminista do Coletivos Juntas, dirigente sindical do Sinpro-RP (Sindicato dos Professores da Rede Privada), membro da comissão de Historia e Memória do CRP-SP.

23 de março, terça-feira

20h: Bate-papo “Teatro de Resistência – O Corpo Preto em Cena”, com Clayton Nascimento, ator, diretor e professor de teatro. Mediação: Christina Martins

De que modo a História do Brasil nos eliminou dos processos de educação, criação artística e do pertencimento social? Como as atuais narrativas da cena podem nos ajudar a repensar e a recontar a História das artes e da educação do nosso povo?

Clayton Nascimento é ator, diretor e professor de teatro. Formado pelo Célia Helena e na ECA/USP, o artista ainda estudou na SP Escola de Teatro e na Escola de Arte Dramática. Foi orientador no Programa Ademar Guerra, e atualmente é professor do Teatro Escola Célia Helena.

24 de março, quarta-feira

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20h: Bate-papo “Racismo, Orgulho Preto e Arte Negra”, com Jessica Souza, atriz. Mediação: Diego Neves

E quando você fecha o olho, é o preto que você vê! Preto! Então, abre seu olho.

Jéssica Souza, atriz e ativista, usa sua arte como protesto junto ao Movimento Negro de Catanduva (MNC). Aos 23 anos, ela começou a vida artística aos 9 anos de idade. Passou por alguns grupos da sua cidade, Catanduva (SP), entre os quais, Grupo Velha Estação, Cia. Cabra Bão e Flor de Chita.

29 de março, segunda-feira

20h: Bate-papo “Identidade no Teatro, Refletindo sobre o lugar do indivíduo na arte”, com Jandilson Vieira, diretor de arte e ator. Mediação: Cassio Henrique

Um bate-papo sobre teatro, dramaturgias, atuação e as criações a partir do nosso lugar no mundo.

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Jandilson Vieira atuou como orientador no Programa Qualificação em Artes em 2019 e 2020. Atuou como educador no Instituto Criar e no Programa Jovem Monitor Cultural e no projeto Residência Artística Mulheres Negras, Projeto de Mundo em Audiovisual. Integra o Grupo Redimunho desde 2010, onde é assistente de direção, diretor de arte e ator.

30 de março, terça-feira

19h: Apresentação seguida de bate-papo com elenco, com mediação de Murilo Gussi

31 de março, quarta-feira

22h: Apresentação seguida de bate-papo com elenco, com mediação de Christina Martins

5 de abril, segunda-feira

20h: Bate-papo “Censura e LGBTfobia”, com Evelyn Guttierrez, Trans Ativista de direitos humanos. Mediação: Daniel Bongiovani

A ignorância é a origem de todos os preconceitos. Uma conversa sobre a necessidade de refletir sobre novas estratégias de revolução e liberdade.

Evelyn Gutiérrez,31 anos, é Trans Ativista de direitos humanos. Coidealizadora e co-fundadora da Casa Nem RJ, coordenadora estadual LGBTT do PSOL- SP, idealizadora do Capacita Trans e também do CosturaNem. Produtora Cultural, e fotógrafa.

6 de abril, terça-feira

19h: Apresentação seguida de bate-papo com elenco, com mediação de Cassio Henrique

7 de abril, quarta-feira

22h: Apresentação seguida de bate-papo com elenco, com mediação de Diego Neves

12 de abril, segunda-feira

20h: Bate-papo “As ondas do Feminismo e atualidade”, com Nathalia Fernandes Ribeirão, atriz, diretora e produtora cultural. Mediação: Suria Amanda

Uma conversa sobre feminismo interseccional através do tempo. O que de fato carregamos desde sua origem e como dialogar com a nossa atualidade.

Nathália Fernandes é mestre em finanças solidárias aplicadas em coletivos culturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), docente no Curso Técnico em Arte Dramática do Senac Franca, atriz, diretora e produtora cultural. Em São José do Rio Preto, dirigiu a Cia. Cênica no espetáculo de rua feminista “De mais ninguém”.

13 de abril, terça-feira

19h: Apresentação seguida de bate-papo com elenco, com mediação de Daniel Bongiovani

14 de abril, quarta-feira

22h: Apresentação seguida de bate-papo com mediação de Suria Amanda

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