Fungos e caramujos compõem obra sobre novos futuros

Bruno Ferreira e Eva Castiel projetam vida após mudanças climáticas na mostra gratuita A trama do limo; exposição ativa os sentidos para expor resiliência, renovação e união

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Pouco a pouco, as mudanças climáticas transformam o planeta em um lugar impróprio à vida. A exposição “A trama do limo”, de Bruno Ferreira e Eva Castiel, traz o olhar sobre o colapso ambiental em curso, as mudanças profundas na maneira de habitar a Terra e os novos futuros.

Através do cultivo de seres vivos, como fungos e caramujos, os artistas paulistanos mostram que resiliência, regeneração e união são pontos-chave em realidades projetadas. A mostra instiga os sentidos, é gratuita e será exibida até 29 de janeiro na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.

A instalação remete a uma cena surreal. De um buraco no teto pende um volume grande e amorfo de terra úmida, sustentado por cintas amarelas. Dele, nascem fungos esparsos, enquanto que, no chão, caramujos-autômatos vagam de maneira insólita, emitindo um som metálico.

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“Os fungos estão entre os raros seres que têm a capacidade de transformar a matéria morta em viva. Vão na contramão da destruição, das catástrofes naturais e do desmatamento que crescem vertiginosamente. Insistem em brotar do limo da terra, nutrindo os solos e as espécies parceiras, por meio de uma extensa rede subterrânea”, diz Bruno Ferreira.

O título da exposição — “A trama do limo” — faz referência a essa complexa teia de comunicação e interdependência, intrínseca aos humanos também.

Abaixo do grande torrão de terra fértil, caramujos-autômatos evocam a imagem da lentidão, daquilo que demora para acontecer e que a vida contemporânea insiste em apagar. São seres que carregam sua própria casa nas costas e que, no âmbito da História da arte, têm um caráter surrealista e mágico. Segundo a curadora Mariana Leme, a obra traz uma urgência de imaginarmos novos futuros para seres humanos e não humanos.

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O cheiro da terra suspensa é espalhado pelo ambiente, desperta o olfato e gera estranhamento. Combinado à movimentação e cores da obra viva, convida o público a repensar a natureza enquanto um lugar idílico, estático, ou que existe apenas para satisfazer as vontades humanas.

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“A presença de matéria viva é rara em instituições de conservação, como bibliotecas e museus, porque representam o risco iminente da contaminação, da deterioração e da transformação. Mas, nesse caso, foi liberado por ser um elemento de composição fundamental para trazer a reflexão sobre a atividade do ser humano no mundo”, diz Eva Castiel.

Eva Castiel promove encontro de gerações

Artistas de diferentes gerações, Eva Castiel e Bruno Ferreira colaboram pela segunda vez em uma exposição. Do interesse pelo uso de formas orgânicas nasceu “Hiância”, em que apresentaram uma instalação de grandes proporções composta por um conjunto de vórtices dentro de copos de vidro com água, além de montanhas de gesso e uma programação sonora, em 2021, na Oficina Cultural Oswald de Andrade.

Eva Castiel é paulistana, iniciou sua carreira nos anos 1980 e trabalha com instalações, vídeo e arte pública. Ao longo de sua carreira tem colaborado com outros artistas e participado de grupos — como o Casa Blindada, que integrou de 2000 a 2006. Dessa abertura à criação coletiva e às trocas com jovens emergentes surgiu a parceria com Bruno Ferreira, artista expoente nascido no interior de São Paulo, que desenvolve trabalhos em pintura e escultura.

Serviço:

A trama do limo
Artistas: Eva Castiel e Bruno Ferreira
Curadoria: Mariana Leme
Onde: Biblioteca Mário de Andrade, r. da Consolação 94, República, São Paulo
Quando: 12 de novembro de 2022 a 29 de janeiro de 2023
Horário: seg. a sex., das 9h às 21h. Sábados e domingos das 9h às 18h
Grátis

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