GALERIA ESTAÇÃO
ELISA BRACHER: TERRA DE NINGUÉM
Com uma instalação, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras e esculturas, a individual “Terra de Ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação, em São Paulo, propõe, a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais
Pelo gesto do fazer, presente de modos diversos na produção e no percurso artístico de Elisa Bracher, “Terra de ninguém”, individual da artista na Galeria Estação, em SP, expõe a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais. A exposição, que estreia em 28 de agosto, sábado, às 11h, e permanece em cartaz até 2 de outubro de 2021, apresenta 35 obras dispostas em três espaços da Galeria, entre elas, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras, esculturas e uma instalação.
Na entrada da Galeria Estação, uma enorme escultura em madeira angelim curvada na parede e pousada no chão, inclina-se em direção ao espectador. Na realidade, esse trabalho parte da forma das gamelas, esses antigos utensílios nos quais se guardavam alimentos e refeições, e no espaço expositivo desequilibra o nosso olhar e perde a sua funcionalidade originária.
A segunda escultura, um cubo aberto feito em pau a pique – técnica usada para a construção de antigas casas populares do interior –, é cortada, agora não mais, como era tradicionalmente, por uma árvore, mas por uma canha. A terceira é uma escultura em madeira e cerâmica materializada em três blocos de madeira empilhados, nos quais as casinhas típicas do interior, feitas de pau a pique, encontram-se encaixadas, deixando aparentes somente as suas fachadas. A quarta retoma a plástica das casinhas encaixadas nas estruturas, mas, desta vez, com os blocos pregados na parede e posicionados um ao lado do outro. A quinta escultura traz uma base de terra redonda em declive, com uma estrutura de madeira apoiada na parte superior.
A instalação expõe os vestígios de madeiras, mármores e cerâmicas, materiais que aparecem apoiados uns nos outros, como se tentassem delimitar um espaço entre o interno e o externo da obra. Como pontua Elisa Bracher: “Esta exposição apresenta trabalhos iniciados há mais de dez anos. Desenhos e gravuras mostram montanhas e paisagens que se desfazem e se reconstroem com o passar do tempo. As esculturas só aconteceram no momento em que encontraram lugar para estar. No momento em que acertamos fazer a exposição na Galeria Estação, os trabalhos vieram a existir. Em mim já habitavam, mas faltava o sítio que os acolhesse. A instalação Restos em novo corpo é a transição”.
As cinco esculturas e a instalação que serão mostradas ao público, e que trazem elementos da tradição da cultura material brasileira, dialogam com os desenhos. Em seu processo, Bracher parte do material, é ele que sugere a forma e a construção da imagem. De maneira diversa das linhas das gravuras, construídas com a precisão de ferramentas em metal sobre papel de arroz, nos desenhos as colinas traçadas em linhas finas e frágeis sugerem um desprendimento, um afastamento do solo. “Elas pairam sobre uma superfície manchada com um colorido de oxidação ou sangue coagulado. São visões de longe, muito longe, de lugares que estão por lá, mas que ninguém enxerga de perto”, afirma Tiago Mesquita em texto curatorial.
Por sua vez, o trabalho com as monotipias presentes na exposição parte de um diálogo com o maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo. Bracher exercita nessa linguagem visual a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Trata-se de uma paisagem plástica que dialoga com a pesquisa do pianista.
A pesquisa de Felicíssimo se debruça sobre um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos. Para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos compôs o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte. Tanto na sinfonia como na pesquisa de Bracher, a forma manifesta no espaço não se desvincula da abstração da sonoridade; em Felicíssimo, a paisagem sonora amplia os sentidos pela percepção da paisagem plástica.
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO “TERRA DE NINGUÉM” DE ELISA BRACHER COM POCKET SHOW DE MÔNICA SALMASO E DO PIANISTA RODRIGO FELICÍSSIMO.
Com a participação especial da cantora Mônica Salmaso, acompanhada em um pocket show do maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo, a vernissage de abertura da exposição “Terra de ninguém”, individual de Elisa Bracher na Galeria Estação, que acontece dia 28 de agosto, sábado, às 11h, relaciona o trabalho em monotipia da artista com a pesquisa musical de Felicíssimo.
Nas monotipias, Bracher exercita a noção de paisagem visual, com a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Por sua vez, a pesquisa de Felicíssimo sobre paisagem sonora parte de um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos; para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos concebeu o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte.
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SERVIÇO |
Exposição individual “Terra de ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação. |
Abertura: 28 de agosto de 2021, sábado, às 11h. |
Data: 30 de agosto (segunda) ao dia 2 de outubro (sábado). |
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h / Sábados, das 11h às 15h. |
Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 – Pinheiros – São Paulo / SP | CEP: 05428-001 |
Telefones: 11 3813.7253 e 11 3813.6355 |
www.galeriaestacao.com.br |
SOBRE A GALERIA ESTAÇÃO
Com um acervo entre os mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não erudita. A galeria foi responsável pela inclusão dessa linguagem na cena artística contemporânea, ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas dentro e fora do país.
A Galeria Estação trabalha com obras de conhecidos autodidatas oriundos de várias regiões do Brasil, como Agostinho Batista de Freitas, Alcides dos Santos, Amadeo Luciano Lorenzato, Artur Pereira, Aurelino dos Santos, Chico Tabibuia, Cícero Alves dos Santos-Véio, G.T.O, Gilvan Samico, Itamar Julião, João Cosmo Felix-Nino, José Antônio da Silva, José Bezerra, Manuel Graciano, Maria Auxiliadora, Mirian Inês da Silva, Neves Torres, entre outros.
Atualmente a galeria vem incorporando ao seu elenco artistas pertencentes ao circuito artístico contemporâneo cujas obras dialogam com a criação não erudita, como José Bernnô, Germana Monte-Mór, Moisés Patrício, Santídio Pereira e André Ricardo.
Partindo dessa rara competência, o espaço consegue oferecer um panorama histórico e atual de uma produção que ultrapassou os limites da arte popular, ao mesmo tempo em que investiga nomes que, independentemente da formação, trabalham com elementos da mesma fonte.