Desenho – Produção Artística, Passo a passo 17 de como desenhar por Rosângela Vig

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Você também pode ouvir esse artigo na voz da própria Artista Plástica Rosângela Vig:

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
Alva! Natal da luz, primavera do dia,
Não te amo! Nem a ti, canícula bravia,
Que a ti mesma te estruis,
No fogo que derramas!

Amo-te, hora hesitante em que se preludia
O adágio vesperal, tumba que te recamas
De luto e de esplendor, de crepes e de auriflamas,
Moribunda que ris sobre a própria agonia!

Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta que, entre
Os primeiros clarões das estrelas no ventre,
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada.

Trazes, a palpitar, como um fruto do outono,
A noite, alma nutriz da volúpia e do sono;
Perpetuação da vida e iniciação do nada…
(BILAC, 2007, p. 61)

Passo a passo 17 de como desenhar

Somente um grande escritor é capaz de traduzir em palavras o mundo que o cerca. Em seu soneto, Olavo Bilac descreveu melancolicamente um entardecer, como o findar de um dia e o romper da noite, e de seus elementos. O olhar de um poeta será sempre o de encantamento pela vida. Para ele, o Belo está em pequenos detalhes e nas cenas triviais, como a simplicidade de um entardecer.

Esse olhar espiritualizado se repete na Arte e o artista traduz em cores, as passagens do dia. Aquele que pinta ou desenha o firmamento em uma cena, transpõe para a tela ou para o papel em branco, a metamorfose de nuances que transitam com o passar das horas. Pelas mãos do pintor, o céu ensolarado, sem nuvens cobre-se de vários azuis e de outras cores, que podem variar dependendo da posição do sol. Um céu azul pode não ser completamente azul, aos olhos de um bom observador. Na figura 1, é possível perceber as matizes que inundam o céu límpido. As cores variam de cima para baixo, de azul claro vívido (Fig. 2), para outro tom mais claro e um terceiro, de suave amarelo, quase branco. Um olhar apurado pode levar a perceber mais cores. Cada mudança de tom é discreta, quase imperceptível ao olhar e acontece gradativamente.

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Entretanto, algumas nuvens podem ousar emergir nesse límpido céu e amenizar o calor do sol. Vale a pena observar esse firmamento (Fig. 3) com ralas nuvens em sua coordenada coreografia. Feito algodão desfiado, elas não são uniformes e encobrem parte do azul, contrastando sua brancura.

E a paisagem ainda é bela, mesmo que as nuvens intimidem o dia ensolarado (Fig. 4). Ainda esparsas, mas já pesadas, elas vão encobrindo vagarosamente o espaço, deixando claro que a natureza tem sua força e que chover é preciso. Nessa imagem, a cor é cinza na parte inferior das nuvens e branca em sua parte superior, devido à claridade do sol que ainda incide sobre elas. Note também que, à medida que ficam perto das montanhas, as nuvens ficam menores. À medida que se aproximam da parte superior da cena, elas se tornam maiores, porque estão próximas do olhar e distantes do ponto de fuga. As montanhas também devem ser observadas na imagem. As mais próximas são verde escuro e as mais distantes são de um azul mais escuro que o céu.

Ainda que o sol se esconda quase completamente (Fig. 5), as nuvens brancas se tornam cinzas e azuis, de cima para baixo, formando uma espécie de dégradé, à medida que se tornam mais pesadas, pela chuva que ameaça cair. Na próxima imagem (Fig. 6), com o céu inteiramente encoberto, as cores que prevalecem são cinza, nas porções inferiores das nuvens; e branco, nas superiores. Isso porque além do céu tempestuoso, ainda é dia e a luz do sol incide acima das nuvens, sobre elas. Note ainda que em todas as imagens com nuvens, as nuances não são chapadas, ou seja, alternam-se suavemente.

Mas é concebível que eu concorde com nosso poeta e teça aqui um parágrafo somente para enaltecer a tarde. É esse o momento em que o sol se curva no horizonte, deixando seus rastros coloridos de luz. É na tarde que se abre a porta para a noite, para as estrelas e para o sonho. E nada é mais belo que o céu numa tarde de verão, no Brasil. Se há nuvens esparsas (Fig. 7), elas são pintadas à mão pelo astro rei, e se matizam de rosa, de amarelo, de laranja e de lilás. Se se avolumarem (Figuras 8 e 9), pode o sol, embora acanhado, imprimir luz na parte inferior. Se o sol não dá conta de iluminar todas as nuvens, elas se matizam de tons de cinza e de azul mais escuro que o céu.

O final de tarde sem nuvens compõe o cenário de Veneza, na figura 11. No desenho feito com lápis, é perceptível dois tons de azul claro, de cima para baixo e um pouco acima da linha do horizonte o amarelo bem suave, como visto nas figuras 1 e 2. Na parte superior da imagem 12, o azul escuro foi aplicado gradualmente, possibilitando um efeito de fim de tarde. Para que não se escureça em demasia uma obra, o ideal é que se trabalhe primeiro com as cores claras e depois com as escuras, como no caso do azul marinho. Observe a imagem e perceba-lhe a linha do horizonte, o ponto de fuga, a procedência da luz e onde ela incide sobre a cidade. Observar é contemplar.

A Arte é essa forma de ver o mundo com o olhar de encantamento, como fez Olavo Bilac em sua poesia sobre a tarde. Apurar essa percepção é treinar os sentidos para o que é mais profundo. O simples por de sol (Figuras 13 e 14) cria uma linda cena, se a ela forem acrescentados os elementos do espírito. Treine sua sensibilidade apenas abrindo a janela e observando as imagens que se apresentam ao olhar; caminhe pelas ruas com a alma aberta, aguçada; extraia da vida o que há de mais doce. Uma obra não precisa do supérfluo, apenas do essencial. Deleite-se com o que agrada a alma.

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Referências:

  1. BILAC, Olavo. Antologia Poética. Porto Alegre: Ed. L & PM Pocket, 2007.

As figuras:

Fig. 1 – Dia ensolarado e céu límpido na cidade, Rosângela Vig.

Fig. 2 – Três tons de azul, em dia ensolarado, Rosângela Vig.

Fig. 3 – Céu com poucas nuvens, Rosângela Vig.

Fig. 4 – Céu com nuvens pesadas, Rosângela Vig.

Fig. 5 – Céu nublado, Rosângela Vig.

Fig. 6 – Céu completamente nublado, Rosângela Vig.

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Fig. 7 – Nuvens em um final de tarde, Rosângela Vig.

Fig. 8 – Nuvens em um final de tarde, Rosângela Vig.

Fig. 9 – Nuvens em um final de tarde, Rosângela Vig.

Fig. 10 – Nuvens em um final de tarde, Rosângela Vig.

Fig. 11 – Veneza, lápis de cor, 2015, Rosângela Vig.

Fig. 12 – Veneza, lápis de cor, 2015, Rosângela Vig.

Fig. 13 – Final de tarde, Rosângela Vig.

Fig. 14 – Final de tarde, Rosângela Vig.

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