Desenho – Produção Artística, Passo a passo 13 de como desenhar por Rosângela Vig

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.
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Prédios

O Arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva
E desce refletido na poça de lama do pátio
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,
Quatro pombas passeiam.
(BANDEIRA, 2008, p.118)

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Passo a passo 13 de como desenhar

A chuva pode amenizar o calor do asfalto. Pode ela banhar o calçamento ressequido, acinzentado e sem vida da rua. E pode ser que após a tempestade a caminhada seja um convidativo programa. E os tempos antigos guardam reminiscências de um urbano poético, comportado, sem as afobações da modernidade, sem os trânsitos impedidos, sem a violência descomedida. Esse urbano equilibrado ficou num passado remoto, deixou suas lacunas, seus saudosismos. E ficaram na memória aquelas imagens do arrastar de passos apressados, das ruas ainda vazias, dos prédios alinhados, ainda limpos das pichações e do vandalismo barato que, como um câncer, corrói patrimônios, destrói parte da Cultura e parte da História.

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Essa cidade, ainda bonita e ainda acolhedora ficou nas fotografias e na Arte e será tema do desenho de hoje. O encanto ficará por conta do cinza do grafite, que reforça a ideia de urbano e de graça da cena. Por essa cidade, as pessoas irão circular tranquilamente, sem os receios e sem as inquietações que roubam a poesia do urbano. Para essa cidade (Fig. 1), serão usados papel texturizado de tamanho A4; lapiseira grafite 0,9; lápis 4B ou 6B; esfuminho, réguas e esquadros.

Fig. 1 – Cidade grande antiga, Prédios, Rosângela Vig.
Fig. 1 – Cidade grande antiga, Prédios, Rosângela Vig.

Como a única exigência da Arte é ter um espírito livre, solte seu traço e sua criatividade, deixe que seu lápis faça o trabalho, permita que ele corra sobre o papel em riscos livres, descomprometidos. Descomplique, seu trabalho não precisa ser idêntico à cena que você vê, faça a sua interpretação do mundo, das coisas que existem, permita que sua imagem tenha identidade, que seja a sua imagem. Siga apenas as dicas de ponto de fuga e de sombras, o resto fica por conta do acaso.

O início de meu trabalho foi com a linha horizontal, onde minha cena se assentou. Tracejei as linhas verticais dos prédios, feitas com o esquadro, para certificar de que ficassem paralelas e retas em relação ao papel. Veja no vídeo, como eu alinho esses riscos. A partir daí iniciei o restante das linhas dos prédios e das janelas. Assim como o desenho de Florença, esses prédios estão em ruas de diferentes posições. Imagine, situe as ruas em sua cidade e faça com que os prédios obedeçam esses diferentes pontos de fuga (Fig. 2). Note que em meu desenho, há um prédio, cuja posição é frontal. Nesse caso, não é possível ver suas laterais, apenas sua frente.

Fig. 2 – Cidade grande antiga com pontos de fuga, Prédios, Rosângela Vig.
Fig. 2 – Cidade grande antiga com pontos de fuga, Prédios, Rosângela Vig.

Quando todos os prédios já estiverem desenhados, delineie as janelinhas e as portas, seguindo os pontos de fuga de cada um deles. Faça-os seguindo sua intuição, seu ponto de vista, decore os prédios com detalhes em suas paredes. O mesmo deve ocorrer com as pessoas da cena. As que estão mais próximas são maiores, as que estão mais distantes, menores e menos nítidas de se ver. Mesmo para as pessoas que estão próximas, não se preocupe com excesso de detalhes, procure fazer traços soltos, como se elas estivessem em pleno movimento, em meio a uma caminhada, na rua. Sugira traços e detalhes, por meio de riscos soltos. É isso o que tornará seu trabalho uma verdadeira obra de Arte.

Inicie a pintura, sempre de cima, para baixo, no papel, começando pelo céu. Como a cena é após a chuva, o céu ainda está nublado. Para isso utilize o lápis 6B ou 4B para a pintura e o esfuminho em leves movimentos circulares, para dar o aspecto de nuvens.

Fig. 3 – Cidade grande antiga, poças de água, Prédios, Rosângela Vig.
Fig. 3 – Cidade grande antiga, poças de água, Prédios, Rosângela Vig.

A luz dessa cena vem da parte superior. Ajuste as sombras das pessoas e dos prédios no sentido contrário, onde a sombra se projeta, no chão. Como o céu ainda está nublado, a sombra não pode ser chapada, ela deve ser um pouco esfumada. Para as poças de água (Fig. 3), faça leves traços circulando-os irregularmente, mas não os pinte, nem os contorne muito, apenas deixe de pintar o asfalto, nesses locais. Lembre-se de que a água funciona como um espelho e reflete tudo o que está acima. Portanto faça apenas leves reflexos das pessoas e dos prédios que estão acima de cada poça.

Como o trabalho foi feito com lápis grafite, se for preciso, apague com a lapiseira borracha, se for necessário, os locais que precisam ficar mais claros. Confira e alinhe tudo com a régua e com o esquadro. E passeie por sua cidade, ouvindo os sons de antigamente, o burburinho das pessoas, os olhares distraídos, ou simplesmente sentindo o cheiro da chuva no asfalto.

O urbano tem seus segredos e suas poesias, basta que o artista se encante. Seu olhar deve ser puro como o de uma criança. Afinal, “nada se parece tanto com o que chamamos de inspiração, quanto a alegria com que a criança absorve a forma e a cor” (BAUDELAIRE, 2008, p.19). Assim nasce a obra.

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Confira o vídeo da produção da obra Prédios:

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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:

Referências:

  1. BANDEIRA, Manuel. Bandeira de Bolso. Porto Alegre: L & PM Pocket, 2008.
  2. BAUDELAIRE, Charles. Sobre A Modernidade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2007.

As figuras:

Fig. 1 – Cidade grande antiga, Prédios, Rosângela Vig.

Fig. 2 – Cidade grande antiga com pontos de fuga, Prédios, Rosângela Vig.

Fig. 3 – Cidade grande antiga, poças de água, Prédios, Rosângela Vig.

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