Desenho – Estudo de Cores, Passo a passo 3 de como desenhar por Rosângela Vig

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Você também pode ouvir esse artigo na voz da própria Artista Plástica Rosângela Vig:

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Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

As primeiras cores que me causaram grande impressão foram o verde claro e cheio de seiva, o branco, o vermelho-carmim, o preto e o amarelo-ocre. Essas lembranças remontam a meus três anos. Vi essas cores em diferentes objetos que hoje não visualizo tão claramente quanto as próprias cores.” (KANDINSKY, 1991, p.69)

Passo a passo 3 de como desenhar

Fig. 1 – Final de tarde efeitos do sol sobre as nuvens, com cores laranja e amarelo. Foto de Rosângela Vig.
Fig. 1 – Final de tarde efeitos do sol sobre as nuvens, com cores laranja e amarelo. Foto de Rosângela Vig.

Ainda na infância, Kandinsky 1 já revelava uma percepção diferenciada do mundo. Seu talento, associado à sensibilidade aguçada e à paixão pela cor, acabaram por ilustrar as mais lindas obras abstratas. As cores, como marcas registradas de seu abstracionismo, distribuem-se harmoniosamente em suas obras, revelando um objetivo maior de sua arte, o de levar a pintura à condição de música. E é fácil se encantar pela Arte-música de Kandinsky. Suas cores puras rodopiam em meio a formas geométricas e a linhas, e tudo parece se mover numa eterna tentativa de acomodação, como se a obra adquirisse vida, movimento e um significado espiritual. Kandinsky conhecia a importância do uso da cor e de seus efeitos em uma obra. E a cor deve ser vista como elemento de vida na Arte, porque tudo tem cor, tudo tem nuances.

Fig. 2 – Mar em dia ensolarado. Foto de Rosângela Vig.
Fig. 2 – Mar em dia ensolarado. Foto de Rosângela Vig.

Com um olhar mais apurado, pode-se perceber que um final de tarde ensolarado é amarelo e o céu se matiza de diferentes cores (Fig. 1); que a natureza se matiza com diferentes tons de verde durante as estações do ano; que o mar em dia ensolarado é azul (Fig. 2) e em dia nublado é cinza (Fig. 3); e até mesmo uma folha em branco pode não ser totalmente alva, porque recebe as cores das luzes que a iluminam.

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Essa percepção de cores sobre objetos ficou muito bem representada na figura 4. Os pontos mais iluminados de cada objeto recebem tonalidades mais claras de uma mesma cor e, nas áreas em que a luz não incide, os tons vão ficando gradualmente mais escuros. O incrível efeito da obra consiste em não haver mistura das cores, as nuances estão puras, não se mesclam, o que torna a obra ainda mais bela e inusitada. Na figura 5, as cores quentes do céu remetem à idéia de calor, de um final de tarde. A luz permeia a árvore que emerge e que se colore de amarelo. Os pontos não iluminados variam entre os tons de azul e de verde.

Fig. 3 – Mar em dia nublado. Foto de Rosângela Vig.
Fig. 3 – Mar em dia nublado. Foto de Rosângela Vig.

E, como elemento de vida, as cores ainda podem ser bem combinadas e contrastadas, para promoverem um lindo efeito no trabalho e uma agradável impressão ao olhar. Na obra de Carolina Saidenberg (Fig. 6), a seriedade do azul e do preto, na escada e no muro, é quebrada pelos pássaros em cores puras que, em revoada, saltitam e levam vida à cena. A combinação perfeita das tonalidades permitiu o encanto e a poesia da obra.

Fig. 4 – Um estranho no Ninho, Patrícia Amato.
Fig. 4 – Um estranho no Ninho, Patrícia Amato.

A brincadeira com a cor também está presente nas obras de Paulo Byron (Figuras 7 e 8). Na figura 7 o artista utilizou fundo marrom acompanhando as tonalidades de pele das personagens, mas investiu nas cores puras para criar uma cena alegre e repleta de movimento. Mesmo sob o fundo preto, o menino da figura 8 parece empinar pipa em local iluminado, tal é o efeito proporcionado ao olhar, pelo uso das cores primárias 2 e claras em meio a cores neutras e escuras.

Fig. 5 – A Natureza Emergiu, Patrícia Amato, 2015.
Fig. 5 – A Natureza Emergiu, Patrícia Amato, 2015.

Os contrastes e as combinações de cores são detalhes que atraem o olhar para uma obra. Para Kandinsky:

Como num combate, como numa batalha, elas vão saindo do tubo, essas forças viçosas, jovens que substituem as velhas. No meio da paleta há um mundo estranho; os restos das cores já utilizadas que, longe dessa fonte, vagueiam pelas telas em encarnações necessárias. Há ali, um mundo que veio à existência pela vontade do pintor, para os quadros já pintados, mas que foi também criado e determinado por causas acidentais, pelo jogo enigmático das forças estranhas ao artista. (KANDINSKY, 1991, p.91)

Fig. 6 – Escadarias, Carolina Saidenberg.
Fig. 6 – Escadarias, Carolina Saidenberg.

Ao artista, cabe descortinar esse mundo oculto, decifrar seus códigos e levar suas nuances para uma tela em branco, de forma livre, espontânea. A ele, cabe a missão de ouvir seu espírito e fazer uso das cores e das formas que mais representam seu pensar e o mundo que o cerca. A quem contempla, cabe a deliciosa missão de fruir e de se extasiar.

Fig. 7 – Berimbau, Paulo Byron.
Fig. 7 – Berimbau, Paulo Byron.
Fig. 8 – Ao Sabor do Vento, Série Brincadeiras Infantis, Paulo Byron, 2013.
Fig. 8 – Ao Sabor do Vento, Série Brincadeiras Infantis, Paulo Byron, 2013.

1 Site com obras de Wassily Kandinsky: www.wassilykandinsky.net

2 Cores primárias são as cores básicas, vermelho, amarelo e azul. As outras cores originaram-se das primárias.

Cores Primárias

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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:

Referências:

  1. BAYER, Raymond. História da Estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. Tradução de José Saramago.
  2. FARTHING, Stephen. Tudo Sobre a Arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.
  3. GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
  4. KANDINSKY. Olhar sobre o Passado. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1991.
  5. KANDINSKY. O Futuro da Pintura. Lisboa, Portugal: Edições 70. 1970.

As figuras:

Fig. 1 – Final de tarde, efeitos do sol sobre as nuvens, com cores laranja e amarelo. Foto de Rosângela Vig.

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Fig. 2 – Mar em dia ensolarado, Foto de Rosângela Vig.

Fig. 3 – Mar em dia nublado, Foto de Rosângela Vig.

Fig. 4 – Um estranho no Ninho, Patrícia Amato.

Fig. 5 – A Natureza Emergiu, Patrícia Amato, 2015.

Fig. 6 – Escadarias, Carolina Saidenberg.

Fig. 7 – Berimbau, Paulo Byron.

Fig. 8 – Ao Sabor do Vento, Série Brincadeiras Infantis, Paulo Byron, 2013.

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