Com curadoria de Daniel Rangel, mostra abre em 19 de agosto inaugurando a entrada do artista na galeria e marcando seu retorno ao mercado de arte
“Ivald Granato era, e ponto final. Um artista que nasceu para as artes; um pintor que nasceu para as cores e pincéis. Um ser à serviço do fazer artístico cuja liberdade e a experimentação foram marcas preponderantes de uma movimentada trajetória transdisciplinar”, afirma Daniel Rangel, curador da exposição Seres, que a Dan Galeria inaugura no dia 19 de agosto.
A mostra traz para o público peças do Acervo Ivald Granato, empresa criada por sua família para conservar e difundir seu legado de 50 anos de dedicação rigorosa, livre, experimental e ininterrupta para a arte brasileira.
Granato, que morreu precocemente há sete anos, em julho de 2016, foi um artista plural. Pintor e um dos pioneiros na arte performance no Brasil, transitou entre desenho, pintura, escultura, performance, vídeo e múltiplos suportes, linguagens, estilos, lugares e pessoas.
Conectado a todos os movimentos de vanguarda, para Rangel, ele foi um pop-surrealista na década de 1960, um performático-tropicalista na década de 1970, e um roqueiro-expressionista na década de 1980. Segundo Jacob Klintowitz, crítico de arte brasileiro, o artista tinha sua própria linguagem, intitulada por ele de “Granatês”.
Em Seres, a curadoria explora esse universo inventado por Granato, marcado por sua força colorista, traços expressivos e uma constante pulsação rock and roll, que destaca os vários seres criados pelo artista. No recorte escolhido pelo curador, o figurativo, abrange meados dos anos 1980 até o ano 2000.
“O figurativo está voltando com força total no mundo e por isso minha escolha. Mas Granato é tão múltiplo que poderia ter diversos outros recortes: só desenhos, ou só abstratos, ou só surrealistas e muitos outros”, complementa Rangel.
O recorte marca, contudo, uma época áurea do trabalho de Granato. Nesse período, seu atelier na avenida Henrique Shaumann com a Avenida Brasil era um ponto de encontro dos mais efervescentes de São Paulo, reunindo a nata dos artistas e intelectuais. Em 1987, Granato foi capa da revista Veja São Paulo, que o chamou de “O Agitador dos Pincéis”.
É para se destacar também o sucesso que ele fez na Alemanha, encantando inclusive a princesa Gloria Thurn und Taxis que criou um atelier para o artista em seu castelo em Regensburg, de onde desenvolveu uma série de obras, algumas presentes nesta mostra.
A exposição evidencia como os Seres de Granato são únicos ao mesmo tempo que estão conectados entre eles, a semelhança vai além da visualidade. Para o curador, as figuras retratadas incorporam trejeitos comuns, presentes na personalidade expansiva do artista.
Nela o público encontrará possíveis autorretratos multifacetados, como um ‘pavilhão de eus’, citando o músico suíço Walter Smetak, além de esboços, cadernos do artista, anotações e mais objetos.
Sobre a pintura figurativa, o curador explica que um resgate dela vem sendo feito, conduzida por uma crescente produção identitária na qual os artistas reproduzem seus entornos. O tão evidenciado atualmente “lugar de fala” na sociedade, incluindo o meio artístico, se torna necessário ao incorporar novas vozes, formas, cores e sons, cuja experiência é vívida e real.
“Desde os anos 1960, ou até mesmo desde Marcel Duchamp, ‘arte e vida’ se misturam e tangenciam a produção contemporânea. Nesse sentido, Granato representou o que ele era de fato, a vanguarda. O espaço-ser da experimentação artística, cujo tempo é histórico, e por isso, circular, que incorpora o passado, revisitado aqui, a partir de uma visão atual. Os Seres de Granato são a essência dele mesmo, e de sua pintura”, afirma o curador.
A mostra marca a chegada do artista ao acervo da galeria, que segundo Peter Cohn, fundador da Dan, significa um resgate de um momento histórico da arte brasileira. “Ele é parte integrante deste movimento significativo que rompeu todas as barreiras após os concretistas e neoconcretistas”, explica. “O Granato é um ícone do movimento vanguarda dos anos 70.” Para Peter, o artista é um dos líderes deste movimento por sua postura contundente e irreverente. Ulisses Cohn que atua ao lado do pai na Dan Galeria complementa. “Sua entrada na galeria dá continuidade para a evolução da arte brasileira que percorremos, como galeria de percurso”, pontua. “Ele vem completar a linha do tempo e ocupar o lugar da vanguarda, da expressão contestadora, da pluralidade estética. Renova nosso programa artístico.”
A jornalista Alice Granato, filha do artista, dirige o Acervo e participa ativamente da exposição. Ela comemora o retorno do pai ao mercado de arte com a representação da Dan Galeria. “Uma alegria ver a obra do meu pai viva, pulsante e com seu merecido lugar na história da arte”, afirma. “Ele deixou um legado de máxima importância e trabalhamos muito, minha família e eu, para preservar e difundir sua obra e memória.”
Sobre o Acervo Ivald Granato
Desde a morte de Ivald Granato, em 2016, sua família começa a trabalhar na preservação de sua obra e memória. Granato deixou um verdadeiro tesouro para as artes plásticas do Brasil e do mundo. Produziu de forma obsessiva e plural e construiu um acervo e arquivos grandiosos ao longo de meio século de trabalho.
Em abril de 2017, foram iniciadas as atividades de conservação preventiva, gestão de risco, catalogação e acondicionamento de obras. Em 2018, foi criada a empresa Acervo Ivald Granato, com o objetivo de cuidar, preservar e divulgar o trabalho, a trajetória artística e sua memória. Estão à frente da empresa, a viúva do artista, Laïs Granato, os três filhos de Granato, Alice, Diogo e Pedro, e seus enteados, Nelson e Marcelo.
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O Acervo tem uma atuação permanente nas redes sociais e mídias. Em 2019, foi realizada a primeira grande exposição após a morte do pintor, a retrospectiva no Sesc Belenzinho “My name is Ivald Granato- eu sou”, com curadoria de Daniel Rangel, que reuniu 500 obras, e produção de Ana Helena Curti e Fernando Lion. A família de Granato participou da exposição, ao lado da equipe do Sesc.
A exposição, de extrema importância e abrangência, mostrou as várias fases do seu trabalho e foi também uma grande homenagem à sua vida e obra. Trouxe um painel iconográfico sobre ele, 30 vídeos-entrevistas com artistas, amigos, jornalistas e críticos de arte, dirigidos por Alice Granato, reconstruiu seu atelier, com a ajuda de Diogo Granato, e teve também a colaboração de Pedro Granato em todas as esferas. A mostra exibiu três salas em Realidade Virtual idealizadas por Rangel e dirigidas por Tadeu Jungle.
Ainda em 2019, quando o artista completaria 70 anos, é lançado o documentário “Granato 70” de Rogério Gallo no Canal Arte 1, com uma grande entrevista com Granato (gravada em 2010), ilustrada por suas obras e fotografias. Em 2020 a Mostra “My name is Ivald Granato- Eu sou” seguiu para o Sesc Guarulhos e ganhou o Prêmio Arcanjo de Cultura na categoria de artes visuais.
O Acervo, que permanecia na casa-atelier de Granato desde sua morte, ganha agora uma sede própria na Vila Madalena, em São Paulo, com um trabalho contínuo de preservação e pesquisa da obra, coordenado pela conservadora responsável Talita Desserie Santos e pela documentarista Fernanda Gonçalves. Somente o ano passado, com apoio do Proac Expresso, foram tratados e digitalizados mais de cinco mil arquivos do artista que estão disponíveis para pesquisa na página www.acervoivaldgranato.org
Sobre a galeria
A Dan Galeria foi fundada em 1972, em São Paulo, por Gláucia e Peter Cohn. Nos primeiros anos de atividade, a galeria concentrou-se na arte moderna brasileira, apresentando obras de importantes artistas do movimento modernista de 1920, tais como Di Cavalcanti, Antonio Gomide, Ismael Nery, Tarsila do Amaral entre outros.
Ainda nos primeiros anos de funcionamento, artistas como Alfredo Volpi, Cícero Dias, Antonio Bandeira e Yolanda Mohalyi foram incorporados ao grupo representado pela galeria que, ao longo das últimas décadas, expandiu-se também para a produção internacional e para a arte contemporânea.
O departamento de arte contemporânea foi criado em 1985 por Flávio Cohn, filho do casal fundador. Posteriormente, seu irmão Ulisses Cohn também se associou ao quadro de direção da Dan. Juntando pesquisa histórica e sintonia com o mercado internacional, nos últimos vinte anos a galeria exibiu obras de Lygia Clark, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Gonçalo Ivo, Ascânio MMM, Macaparana, Sérgio Fingermann e artistas internacionais como Sol LeWitt, Antoni Tapies, Jesus Soto, Cesar Paternosto, Eduardo Stupía, Adolfo Estrada, Knopp Ferro, Ian Davenport, Max Bill, Joseph Albers, além dos britânicos Tony Cragg, Kenneth Martin e Mary Martin.
A Dan Galeria incluiu mais recentemente em sua seleção, importantes artistas concretos: Francisco Sobrino, François Morellet e Getúlio Alviani, bem como os artistas geométricos abstratos históricos: Sandu Darié, Salvador Corratgé, Wilfredo Arcay e Dolores Soldevilla, só para mencionar alguns dos cubanos do grupo Los Once (The Eleven).
O fotógrafo brasileiro Cristiano Mascaro; os artistas José Spaniol e Teodoro Dias (Brasil); os internacionais, Tony Cragg (G. Bretanha), Lab [AU] (Bélgica) e Jong Oh (Coréia), se juntaram ao departamento de Arte Contemporânea da galeria. A Dan Galeria sempre teve por propósito destacar artistas e movimentos brasileiros desde o início da década de 1920 até hoje.
Ao mesmo tempo, mantém uma relação próxima com artistas internacionais, uma vez que os movimentos artísticos historicamente se entrelaçam e dialogam entre si sem fronteiras.
Serviço
Seres Ivald Granato
Quando: 19 de agosto a 21 de outubro
Dan Galeria – Rua Estados Unidos, 1638 – São Paulo, SP
Horários: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 13h
Entrada gratuita
Classificação indicativa: livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida
e-mail: info@dangaleria.com.br