Foi por intermédio de Jim Morrison, vocalista do The Doors, que conheci William Blake, notável artista inglês do século XIX.
Eu li duas biografias sobre o líder do Doors e em ambas, ainda que de maneira distinta, Blake, encontrava-se presente como uma das grandes influências do músico, afinal, foi justamente uma passagem textual escrita pelo artista e utilizada por Aldous Huxley que inspirou Morrison a nomear sua banda como “The Doors” (“As Portas”, em Português).
Eis o referido trecho:
“Quando as portas da percepção se abrem, as coisas parecem ao homem como realmente são: infinitas“.
Desde esse contato inicial que tive com o nome de William Blake, meu interesse por suas obras sempre foi crescente. O primeiro aspecto de seu legado artístico que me cativou foram suas telas, que são repletas de simbologias diversificadas e moldadas por uma aura profundamente mística.
Admiro em suas pinturas as constantes aparições de figuras celestiais que tendem a despertar curiosidade e vislumbre no espírito daqueles que as contemplam. Além do meu apreço por seus quadros e desenhos, recentemente, buscando aproximar-me de suas produções textuais, aventurei-me na leitura de um livro intitulado “O Casamento do Céu e do Inferno & Outros Escritos”.
Na edição que adquiri, há vários poemas e frases do artista, e todos eles transbordam enigmas através de suas palavras, sugerindo certos significados, embora estes pareçam estar sempre cuidadosamente velados e construídos para serem lidos e percebidos apenas intuitivamente.
Dessa forma, a maneira como Blake escrevia é bastante singular e suponho que muitas pessoas tendam a desistir facilmente da leitura pela dificuldade de interpretá-la de forma clara e direta. Mas eis este justamente um dos pontos que considero mais atraentes e valiosos na totalidade das obras de nosso artista: o desafio que ele propõe; o mistério que ele deixou para ser desvendado.
Acredito que até este ponto, o leitor percebeu que destaquei acima dois aspectos comuns que se fazem presentes tanto nas pinturas quanto nas poesias do artista inglês, a saber, a forte presença da religiosidade e a atmosfera mística, sendo que ambos são bastante simbólicos e sugestivos.
Parece-me que não é possível que haja estudos ou aprofundamentos de análises de suas produções, sem que haja também conscientização (ainda que básica) dos dois pontos que citei acima. Blake, ao longo de sua vida, teve contato com obras clássicas de Ocultismo e desde a infância, dizia ter visões de entidades espirituais.
Essas informações podem cooperar para que penetremos em suas criações artísticas e tentemos desvendar os mistérios que as mesmas legam, e também nos indicam que Blake nutria grande atenção à intuição humana, mostrando, inclusive, certo afastamento da razão que imperava durante o período histórico em que viveu.
Contudo, é importante citar que o conhecimento de tais fatos não significa, necessariamente, a compreensão plena (ou mesmo parcial) de suas produções, pois já me deparei com estudiosos que sabiam de tais detalhes e cujas interpretações sobre as poesias e telas de Blake eram divergentes.
Dessa forma, torna-se dificultoso encontrar e/ou postular um sentido objetivo para as produções do artista inglês. Aliás, pergunto-me se é realmente possível desvendar o que uma obra de arte carrega como mensagem (se é que há mensagem – seja ela proposital ou mera obra do acaso).
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Talvez, tentar desvendar uma produção artística seja algo demasiadamente arriscado, especialmente se tratando de William Blake, uma vez que a interpretação envolve a racionalidade, a conceitualização e a reflexão e a arte, por sua vez, não é uma linguagem racional.
Assim sendo, penso que a contemplação livre e espontânea que se dá através dos sentidos é o caminho mais nobre e verdadeiro que existe na relação entre o ser humano e a obra de arte. Esse instante mágico e único no qual o espectador se desliga do mundo físico que o cerca enquanto contempla uma obra, pode ser a chave para abrir as portas da percepção, referidas por Blake.
Por tais motivos, por hora, esta é minha interpretação e proposta reflexiva: a arte é a chave que desvenda o que existe por trás das portas da percepção, e quando nos permitimos adentrá-las, nos afastamos do mundo material e de suas leis, e reconhecemos o infinito, que sugeri intermináveis possibilidades e que está além do espaço e do tempo.
Portanto, ao invés de tentarmos examinar racionalmente as figuras e palavras de William Blake, tentando postular significados conceituais e encadeamentos a elas, talvez devêssemos simplesmente intuí-las através de nossa percepção, para que assim, nos conectemos com as portas que nos guiam para suas profundezas herméticas.
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JULIANA VANNUCCHI
Sorocaba – São Paulo
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