“Algumas Observações sobre o Legado Artístico de Düher” por Juliana Vannucchi

Juliana Vannucchi é graduada em Comunicação Social, licenciada em Filosofia e Editora-chefe do site Acervo Filosófico.
Juliana Vannucchi é graduada em Comunicação Social, licenciada em Filosofia e Editora-chefe do site Acervo Filosófico.
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Caríssimos leitores, abaixo, prazerosamente compartilharei com vocês as principais percepções que tive com as pinturas de Düher, como elas me afetaram esteticamente e porquê tanto me intrigam todas as vezes em que as aprecio e a elas me entrego.

Antes de mais nada, ouso dizer que talvez Düher tenha sido o pintor mais extraordinário de toda a vasta história da arte, embora, de certa forma, seu talento tenha sido parcialmente ofuscado por outros grandes artistas renascentistas de sua geração. Se não foi o mais primoroso e talentoso que já existiu, certamente é um dos que mais se destacou e, muito possivelmente é o pintor mais brilhante que já surgiu na Alemanha.

Comecei a explorar o universo de Düher há cerca de dois anos atrás, e a porta de entrada para as obras deste grande gênio foi uma gravura sombria, datada de 1513, na qual ele retratou a morte, o diabo e um cavaleiro juntos. Quando vi esta impactante imagem pela primeira vez, fiquei fascinada e instigada, tentando supor que tipo de discussão e/ou reflexão poderia surgir entre tais personagens. Que encontro inusitado: um mortal, a morte, em si, representada fisicamente, e o diabo, um antigo e familiar companheiro do ser humano. O que será que um representa para o outro? O que um sente pelo outro? A morte segura uma ampulheta e parece estar tentando mostrá-la ao cavaleiro que, por sua vez, aparentemente (ainda que assombrado, sufocado, talvez), persiste em ignorar as duas aterrorizantes figuras que o cercam e que, abruptamente interromperam sua trajetória. E que aspecto simbólico: penso que o Diabo e a morte, de uma maneira ou de outra, sempre, ainda que em diferentes intensidades e tempos, interrompem a jornada da maior parte dos seres humanos, assim como, na gravura de Düher, interromperam friamente o caminho do cavaleiro. É também possível observar um crânio no chão (lado esquerdo da imagem), na frente do cavaleiro, que talvez represente seu inevitável destino – e não seria esta a marca da finitude que se encontra adiante de nossa estrada, de nossa vida? Mais claramente falando, o crânio, parece-me, expressa a morte, o fim que se expõe no caminho que o homem percorre.

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Às minhas curiosas e intermináveis especulações, somaram-se a admiração pelas incríveis qualidades técnicas da pintura deste grande artista alemão, que se fazem presentes não apenas nesta pintura em questão, mas também em todas as outras que foram por ele produzidas. Düher criou obras cujos detalhes minuciosos são deslumbrantes. Os desenhos de cunho realista, isto é, aquelas em que ele retrata objetos baseados no mundo real, como, por exemplo, uma lebre, leão, mãos e plantas, possuem uma notável harmonia e uma refinada sutileza em cada mínimo aspecto, sendo que tais características resultam num incrível perfeccionismo, de tal forma que as pinturas parecem ser verdadeiras fotografias. A habilidade de Düher era imensa e esse tipo de produção realista, evidencia tal fato. O pintor, inclusive, chegou a escrever um livro sobre geometria, o que demonstra sua afinidade e atenção pela perfeição das formas, pelo equilíbrio e pela simetria de imagens.

Tudo me encantou neste brilhante homem! Além dos desenhos de cunho realista, há também certos simbolismos místicos e celestes flutuando em grande parte de suas telas, embora tais elementos estejam “ocultos”, apenas esperando que os espectadores tentem desvela-los (tal como eu mesma fiz acima). Conforme o artista alemão escreveu certa vez: “Só uma mente árida não possui autoconfiança para encontrar o caminho de algo que está além, arrastando-se por alguma trilha gasta, contente de imitar os outros e sem a iniciativa de pensar em si mesma”.

“Melencolia I” (1514), por exemplo, consiste numa verdadeira e atraente complexidade de enigmas. Já me deparei com inúmeras e divergentes interpretações dessa obra, mas acredito que seja inútil tentar desvendá-la. Há duas figuras angelicais centrais na gravura. Há também materiais de construção espalhados pelo ambiente. Além disso, note-se que um dos seres celestiais carrega consigo uma chave. Pendurados na parede encontram-se um quadrado contendendo números, e uma ampulheta. É possível perceber também um terceiro objeto: uma balança (que se liga, inclusive, com um dos signos do zodíaco – libra, significando o equilíbrio), além de uma escada. Há ainda algumas figuras geométricas preenchendo o ambiente da tela.

Perceba que acima realizei uma descrição puramente física, e é extremamente dificultoso especular se há ligação lógica entre os elementos mencionados (ou seja, se existe encadeamento, se havia uma ideia primordial de Düher em liga-los uns aos outros e atribuir-lhes sentido), ou se se trata somente de um monte de itens despojados intuitivamente de forma desconexa. Seriam os sagrados espíritos, um prelúdio da melancolia? Será que estes seres são os arquitetos deste sentimento que assola os homens?

No quadrado mágico (que se tornou bastante conhecido), é possível notar que a soma de todas as fileiras horizontais ou verticais, culmina curiosamente no número 34. Esse resultado também é obtido numa soma feita na diagonal e também em várias outras combinações. Além disso, é um tanto complicado fazer suposições. Conforme já citei, existem diversas interpretações e leituras disso. Pode, por exemplo, ser referência a uma data uma passagem bíblica ou outra coisa. Certamente esse tipo de especulação cabe mais à matemáticos e apreciadores de numerologia. Será que os anjos se aborreceram por suas criações ou destinos divinos? Estão cercados de instrumentos e de ferramentas, mas parecem exaustos e entediados. Ou estariam eles simbolizando o próprio ser humano em seus momentos de angústia? O fato é que essa misteriosa e complexa obra de Düher, que é tão hipnótica e envolvente, certamente jamais será desvendada em sua plenitude, e isso a torna extremamente fascinante.

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O que vemos até hoje em relação ao legado de Düher, é uma sucessão de tentativas subjetivas de interpretar os símbolos dispostos em suas várias telas, mas não há nenhuma conclusão final, objetiva e plausível, e esta situação proporciona uma atmosfera abstrata e misteriosa ao legado deste grande pintor alemão. Há vários caminhos e possibilidades de interpretação que podem ser tomados, mas de maneira geral, as produções de Dürer ainda permanecem sendo um dos grandes mistérios da história da arte.

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JULIANA VANNUCCHI 
Sorocaba – São Paulo
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