Aldemir Martins – Expressionismo Contemporâneo por Rosângela Vig

Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.
Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Massas geométricas
Em pautas de música
Plástica e silêncio
Do espaço criado.
Concha e cavalo marinho.
O mar vos deu em corola
O céu vos imantou
Mas a luz refez o equilíbrio
Concha e cavalo marinho.
(MORAES, 2009, p.174)

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Num longo abraço o mar desperta a areia, cobrindo-a carinhosamente em delicada tentativa de envolvê-la em plenitude, de acordá-la para a manhã que desponta na imensidão. Corre por vezes quilômetros para depois desnudá-la novamente. Em meio à amorosa dança, o sol emerge curioso no horizonte, ávido por granjear seu espaço no infinito azul. O dia vai dissipando a escuridão noturna; cria laços com a doçura da manhã que vai lentamente se esparramando no dia quente; espreguiçando-se na tarde morna, para novamente adormecer no berço azul marinho da noite. Ao olhar desatento, as cenas corriqueiras são apenas mais um dia que começa e que termina. Aos olhos de um atento artista, cada passagem emana cores e formas; exala perfumes e vapores; manifesta pensamentos; transmuta formas; envolve Poesia. Ao olhar atento do artista, as cenas do dia e da noite transformam-se em temas, protagonizam telas e fazem parte de seus sonhos. Assim é a obra de Aldemir Martins (1922-2006), o artista cearense do sertão do Cariri.

Autodidata, nosso pintor foi também desenhista, ilustrador e escultor. Sua obra fez passeios por cores vivas, granjeou a forma livre e expressiva, pintou a beleza das praias, com seus coqueiros, com as várias tonalidades do céu, do sol e do mar em vários momentos do dia. Suas obras tiveram como protagonistas vários tipos brasileiros, além de animais como cavalos, galos, peixes e seus encantadores gatos.

Ainda jovem o artista já demonstrava seu talento, que nunca deixou de lado, mesmo quando serviu o exército em 1941. Chegou a criar um grupo de artistas plásticos cearenses; participou de várias exposições; mudou-se para o Rio de Janeiro em 1945 e, em 1946 para São Paulo, incluindo várias coletivas ao currículo. A Bienal de São Paulo, de 1951, está entre as premiações e medalhas do artista. Sua obra percorreu o Japão, a Suécia, a Itália; faz parte de acervos de museus e de várias galerias no Brasil e no mundo; e ilustra seu livro Aldemir Martins, Linha Cor e Forma, de 1985.

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E talvez por uma linha o cearense iniciasse seus trabalhos, como se um fio resolvesse tecer imagens aleatórias. As cores somente complementam as imagens, em tons translúcidos, quentes, vivos e repletos de movimentos. E é o mover da brisa que ameniza o calor da praia, na cena da primeira imagem que ilustra esse texto. Junto com a brisa, a água avança sobre a areia, abraça-a e a solta lentamente como se houvesse um ritmo musical embalando a cena. As cores quentes do sol e da areia são brandas diante do azul que o céu emana.

E o leve movimento das linhas contorna a família de gatos amarelos (Fig. 2) que parecem sossegados, atentos ao espectador, como se posassem para a cena. Ali, as cores são vivas, como estão os animais. A família de gatos azuis (Fig. 3) por sua vez, evidencia a seriedade e o olhar questionador. Sempre ajustando o equilíbrio de cores, com os tons quentes e frios, o artista continua sua seqüência com o Gato Amarelo (Fig. 4) e com o Gato Vermelho (Fig. 5). Em todas as obras, as ondulações das linhas esboçam leves e soltos movimentos, como se os gatos estivessem se aninhando em seu espaço, olhando por vezes para cima ou para baixo; para um lado ou para outro. Suas cores vivas têm certa transparência, com pontos escuros, promovendo ao olhar a impressão final de iluminação e de sombras, o que acentua o movimento de personagens e de cenas. O uso de cores vivas e o movimento, permitiu que seu estilo figurasse como Expressionismo Contemporâneo.

Aldemir Martins deixou o mundo menos colorido em 2006, quando partiu para sempre, mas suas obras ainda encantam o olhar e podem ser vistas em museus e galerias como a Brazil Gallery, no link bg1.com.br/loja/categoria-produto/artistas/aldemir-martins/page/4. A jornada por suas obras permite que o olhar divague nas cores alegres, puras sem que a mistura lhes modifique o sentido inicial. E o passeio pode continuar na busca de sensações de alegre requinte, da elegância de seus gatos coloridos, silenciosos e enigmáticos.

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Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, para
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fadiga
Toma seu banho
Passando a língua
Pela barriga.
(MORAES, 2013, p.48)

Brazil Gallery: bg1.com.br/loja/categoria-produto/artistas/aldemir-martins/page/4

Referências:

  1. FARTHING, Stephen. Tudo Sobre a Arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.
  2. KANDINSKY, Wassily. Olhar Sobre o Passado. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1991.
  3. SCHILLER, Friedrich. A Educação Estética do Homem. São Paulo: Ed. Iluminuras, 2002.
  4. MORAES, Vinícius. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
  5. MORAES, Vinícius. A Arca de Noé. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013.

ROSÂNGELA VIG
Sorocaba São Paulo
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Colunista no Site Obras de Arte
E-mail: rosangelavig@hotmail.com

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