Afonso Tostes lança o primeiro livro sobre sua obra, na Galeria Mul.ti.plo.
Entre a cidade e a natureza revê a trajetória do artista a partir de imagens de sua obra e relatos sobre o processo de trabalho, desde o início de sua produção até os dias de hoje.
Lançamento ocorre no dia 3 de maio, às 18h, em meio à exposição As coisas que ainda existem, onde ele apresenta trabalhos inéditos em carvão.
Em meio à sua exposição em cartaz na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, Afonso Tostes lança o primeiro livro sobre sua trajetória artística. Editado pela Cobogó, Entre a cidade e a natureza revê a trajetória do artista a partir de imagens de suas obras e relatos sobre o seu processo de trabalho, desde o início de sua produção até os dias de hoje. O lançamento acontece no dia 3 de maio (terça-feira), às 18h. Na mostra As coisas que ainda existem, Tostes apresenta 16 trabalhos inéditos, incluindo peças esculpidas em carvão. A exposição abriu no dia 10 de março e vai até 6 de maio, com entrada franca.
Ainda menino, Afonso Tostes tomou gosto pelas viagens, transitando entre Belo Horizonte, onde nasceu, e fazendas no interior de Minas Gerais. Ali, contemplando porteiras e árvores, currais e cavalos, desenvolveu o gosto pela investigação da natureza e sua relação com o homem, algo que é marca de sua trajetória artística. Sua produção artística, iniciada no fim dos anos 1980, é reunida pela primeira vez em livro, Afonso Tostes: Entre a cidade e a natureza, que a Editora Cobogó lança em 2020.
Os textos do curador Daniel Rangel, organizador da publicação, costuram a produção artística de Tostes, desde as pinturas dos anos 1990 até as esculturas, às quais o artista passa a se dedicar majoritariamente a partir dos anos 2000, aos processos de trabalho e as viagens de pesquisa que levam a elaboração das obras.
Afonso Tostes: Entre a cidade e a natureza acompanha os deslocamentos do artista em textos que não seguem o tom da análise crítica de obras de arte. Como afirma o organizador do livro, a proposta foi “criar uma espécie de caderno de viagens, um grande perfil poético do artista com fartas doses de imagens de sua produção escultórica”.
A publicação é dividida em quatro capítulos: Caminhos, Cidade humana; um segmento central com dois ensaios sobre o fazer artístico de Tostes; e Natureza humana. Caminhos dá conta das influências e dos primeiros deslocamentos do artista – nascido em 1965, ele deixa Belo Horizonte em 1987, onde estuda na Escola Guignard, rumo ao Rio de Janeiro, onde permaneceu até 2016, quando mudou-se para São Paulo. Com ateliê no Bom Retiro, bairro na região central da capital paulistana, o artista se alimenta “das ruas do comércio, dos artigos populares, dos transeuntes e da vibração do entorno”, como escreve Daniel Rangel. E completa: “As fugas seguem essenciais para a criação: Tostes é um artista-viajante-explorador, que troca e permuta coisas e saberes; se integra, incorpora e retribui. Sua produção é formalizada, assim, pela prática no ateliê, onde convive e interage com aquilo que recolheu”. Trabalhos em óleo sobre papel e tela são recorrentes neste início de carreira – “Tostes é, sobretudo, um desenhista. Toda a sua obra estrutura-se pelo desenho. Um desenho técnico, quase naturalista de traço firme e rápido”, escreve Rangel.
No segundo capítulo, Cidade humana, mergulha em sua produção escultórica. É a partir de uma reforma em seu ateliê, que havia sido ocupado com ferramentas que não eram do artista, que Tostes despertou o desejo de esculpir. Um dos pontaletes usados para sustentar a laje durante as obras, por exemplo, viria a se tornar objeto seminal de seu processo. São desse período séries célebres como Escoras, em que estruturas de madeira parecem segurar paredes (expostas em museus, galerias e na Bienal do Mercosul de 2005). Na sequência, Tostes se volta para a produção da série Ferramentas, enxadas, foices e machados, entre outros, com os cabos esculpidos, relacionando o tempo e os significados diversos dos materiais.
O segmento central do livro traz dois ensaios que observam a obra de Tostes a partir de óticas distintas, um “interlúdio textual”, como define Daniel Rangel. O primeiro, de Paulo Herkenhoff, Afonso Tostes: Pequeno glossário conotativo fora de ordem alfabética, reúne verbetes-capítulos que, a princípio, tratavam da exposição Tronco, realizada na Casa França Brasil, em 2013. Revisto e concluído para o livro em 2019, o texto de Herkenhoff aborda a obra de Tostes em verbetes tais como Boia-fria, Calo, Carpintaria. Há ainda o ensaio Afonso Tostes: artesão da vida, assinado pelo babalorixá Adailton Moreira Costa, do terreiro Ilê Omiojuarô, onde Tostes se iniciou no candomblé. O relato une o conhecimento sobre os orixás e a relação com o artista, “filho de Obaluaê, Aparodé de Oxóssi”, como escreve o autor. Para ele, “os olhos de Tostes pensam e emitem mensagens, e muitas vezes precisamos estar livres para entender essa comunicação aberta exuniana”.
O último capítulo, intitulado Natureza humana, é uma imersão na última década de produção de Tostes, quando fica mais marcante a característica de artista-viajante, suas excursões à natureza e um retorno às próprias raízes. Estão nesse capítulo obras como Baque virado, instalação que compôs a primeira exposição de Tostes no MAM do Rio de Janeiro em 2011, e o paiol achado em ruínas na fazenda de um primo no interior de Minas Gerais e reconstruído na Casa França Brasil em 2013, ou ainda a série de Remos, de meados de 2019. Nos textos finais do livro, o Rangel relata as conexões entre as obras e os deslocamentos na vida do artista: “Afonso Tostes, que um dia saiu das montanhas para o mar e de lá subiu de volta pelo rio, retornou para a mata de onde partiu.”
Sobre o organizador
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Daniel Rangel é mestre e doutorando em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, graduado em comunicação social em Salvador, Bahia. Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo, diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Desenvolveu projetos curatoriais para a 8ª Bienal de Curitiba, Brasil (2015), a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2013) e a 2ª Trienal de Luanda, Angola (2010). Realizou ainda curadorias de mostras individuais de importantes artistas brasileiros, como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Eder Santos, Marcos Chaves, Marcelo Silveira, Rodrigo Braga e Arnaldo Antunes, e com este último recebeu, pela mostra “Palavra em Movimento”, o prêmio APCA 2015, de Melhor Exposição de Artes Gráfica.
Sobre o artista
Afonso Tostes nasceu em 1965, em Belo Horizonte. No final dos anos 1980, mudou-se para o Rio e iniciou os estudos na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Laje, onde foi aluno de Daniel Senise, Charles Watson, entre outros. Começou sua trajetória com a investigação de formas orgânicas, inicialmente tendo como suporte a pintura e, mais tarde, voltando-se para a escultura. Sua primeira individual foi feita em 1996, no Centro Cultural São Paulo, onde mostrou suas pinturas. Em 2000, expôs telas de grandes dimensões no Paço Imperial, no Rio. Foi em 2001 que mostrou suas esculturas, na galeria carioca Paulo Fernandes. Desde então, mostra os desdobramentos de sua pesquisa escultórica em exposições como a Bienal do Mercosul (2005), a individual Baque Virado (MAM-RJ, 2011), entre outras. Atualmente vive e trabalha em São Paulo.
Serviço:
Lançamento de livro
Título: Afonso Tostes: Entre a cidade e a natureza
Local: Mul.ti.plo Espaço Arte
Data: 3 de maio (terça-feira)
Horário: 18h às 20h
Visita à exposição: até 6 de maio, de segunda a sexta-feira, das 11h às 18h
Tel: +55 21 2259-1952
End: Rua Dias Ferreira, 417, 206 – Leblon – Rio de Janeiro
Entrada franca
www.multiploespacoarte.com.br