Fabiano de Abreu, neurofilósofo e psicanalista, analisa que os motivos comportamentais, sociais e culturais que leva o outro a julgar o seu próximo reside na ausência de autoconhecimento e auto-aceitação.
Embora estejamos em uma época em que a diversidade e o respeito ao diferente tem sido pauta de diversas discussões e manifestações artísticas, culturais e sociais, ainda não evoluímos o suficiente como sociedade para nos livrarmos totalmente dos nossos pré conceitos e julgamentos.
O neurofilósofo e psicanalista Fabiano de Abreu, que atua como pesquisador da mente humana e de padrões comportamentais, têm procurado entender o que leva uma pessoa a julgar o próximo. Segundo suas análises, os motivos podem estar primeiramente dentro do próprio julgador: “As pessoas que criticam e julgam as escolhas e o comportamento dos outros, na verdade, não os aceitam como são, e querem que eles sejam e ajam conforme as suas necessidades e vontades particulares. Elas não conseguem aceitar os outros como são pois são egocentristas. Enxergam a si mesmas como potencialmente superiores e são desprovidas de humildade. Falta-lhes maturidade emocional e empatia para entender as nuances que revelam os motivos dos outros.”
O vício do julgamento
Para Abreu, existe um círculo vicioso para muitos no que diz respeito a julgar e avaliar o outro: “isso porque não se trata da vontade de tentar compreender as atitudes, comportamentos e a personalidade alheia, mas é apenas um impulso para satisfazer suas próprias certezas e reafirmar suas verdades que satisfazem a uma única pessoa, que é ela mesma. Os julgadores profissionais agem sempre como se o outro fosse um objeto de estudo para que eles possam se auto-afirmar e se vangloriar de ser melhores do que aqueles que eles julgam. E esse movimento constante de olhar para fora, os impedem de avaliar a si mesmos.”
Diferença entre opinião construtiva e julgamento
O estudioso salienta que expor uma opinião construtiva não é um julgamento, nem uma crítica, é uma mera observação: “a crítica e o julgamento se dão quando o observador se julga no direito de fazer uma interpretação pejorativa do fato ou do indivíduo, quando acusa, desdenha, diminui, e invalida o outro. O observador que quer contribuir para a evolução do seu próximo não vai julgar, vai conduzir a conversa no sentido de se igualar com o outro e não, se mostrando superior a ele.”
Segundo suas observações, entender o outro e responder às suas ações usando a cognição e a empatia considerando a sua personalidade é necessário: “mesmo quando se quer contestar algo que foi dito ou feito é um ótimo mecanismo que evita conflitos e, tem mais chances de atingir o objetivo, que é a conquista da confiança daquele que desejamos ajudar com a nossa opinião. Nos faltam espelhos quando enxergamos algo de errado nos outros. É temeroso ter que avaliar a si mesmo e perceber que muitas das nossas ações não são corretas. Julgar apenas aponta a sujeira e coloca o dedo na ferida, mas não promove a assepsia nem cura o ferimento.”
Tenha compaixão
Para o neurofilósofo, aqueles que criticam e julgam excessivamente, desconhecem o significado de empatia e compaixão: “Devemos ter compaixão com os outros, com o nível de entendimento, com a condição emocional que contemplam as suas histórias de vida. Devemos aceitar que eles só poderão oferecer o que eles têm, e principalmente, que eles terão que seguir por caminhos que eles mesmos escolherem, e precisamos compreender que não temos o poder e nem devemos querer ter o controle sobre as suas escolhas. O que eles escolhem viver e fazer são caminhos que fazem parte do aprendizado que eles precisam absorver e cabe a nós apenas aceitar, e entender, que o que acontecer a partir das suas escolhas será sempre o melhor para ele.”
Falta de autoconhecimento leva ao julgamento do outro
Para Abreu, o julgador não percebe o próprio defeito e sempre acredita que está certo, não aceitando a opinião alheia, e demonstrando profunda aversão por “feedbacks” negativos: “Ele, o julgador, tem uma dificuldade absurda em admitir os próprios erros, porque busca a perfeição em si, e nos outros, e quando percebe que outras pessoas não o validam com a mesma perfeição que ele se projeta, ele se revolta e os ataca com severa agressividade, com palavras ofensivas e atitudes desagregadoras. Não podemos nos deixar influenciar pelas pessoas que criticam e julgam a nossa vida, pois não sabemos se elas vieram mediante a uma verdade, uma vaidade, ou uma enfermidade. Mas devemos ter a hombridade de nos analisar friamente para fazer as mudanças necessárias em nossas atitudes, e pensamentos.”
Por esse motivo, o neurofilósofo aponta que a mudança que queremos ver no outro deve começar em nós: “Devemos emitir opiniões acerca do comportamento alheio, com base em nosso próprio crescimento e maturidade, mas somente se formos solicitados. Caso não tenham solicitado a nossa opinião, que tenhamos a sensatez de nos manter em silêncio. Devemos sempre expor as nossas visões no formato de palavras que carreguem um encadeamento de ideias, que leve o outro a uma ascensão e não a um rebaixamento. Quando elevamos o outro, conquistamos um espaço em suas vidas através da nossa própria experiência e evolução. Nesse contexto, nossas opiniões sempre serão bem vindas, e serão recebidas como um presente. E não como uma crítica, julgamento e condenação. Aqueles que criticam e julgam e se sentem bem após emitirem as suas opiniões regadas de “achismos” subjetivos, na verdade, estão querendo fugir da necessidade urgente de olhar para as suas próprias vidas. Afinal, o outro sempre carrega aspectos que são ou já foram nossos. Também por isso é sempre tão mais fácil enxergar no outro aquilo que não conseguimos enxergar em nós mesmos.”