A Contemporaneidade
Frestas – Trienal de Artes
Exposição “O que seria do mundo sem as coisas que não existem?” – Sesc Sorocaba
por Rosângela Vig
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O Artista é, decerto, o filho de sua época, mas ai dele se for também seu discípulo ou até seu favorito. (SCHILLER, 2002, p.50)
Talvez seja essa a melhor frase para se explicar a Arte que se apresenta na Contemporaneidade. Schiller viveu na segunda metade do século XVIII e expressou seus pensamentos a respeito de uma educação por meio da Estética. Nas palavras acima, o filósofo deixa clara a ideia de que a Arte deve seguir seu curso, sua época e o pensamento do tempo em que se insere. Sob esse prisma, ela emerge das mãos do artista “do mundo”, que propõe novos conhecimentos, novos questionamentos e pode despertar o espectador para o novo. Mais que o encantamento, a obra, nesse sentido suscita um raciocínio, como um jogo, o Jogo da Arte. E a Arte Contemporânea mostra bem esse lado por meio de um constante metamorfosear, assim como é a própria sociedade.
A Arte Conceitual entrou nessa contemporaneidade artística como uma forma de indagar, de interrogar e de desassossegar. A expressão Arte Conceito foi citada pela primeira vez em 1961, pelo filósofo Henry Flynt e, mais tarde, Sol Lewitt cunhou o termo Arte Conceitual, em um artigo para o Jornal Artforum. Esse novo formato de Arte em que se permitia incluir e fomentar debates, abriu caminhos para muito do que se apresenta em Arte hoje, como as instalações, as performances, as intervenções, os vídeos e os áudios.
Desatrelado do rigor da forma, debruçado em sua ideia, o artista permitiu que a ideia fluísse livremente pelo material que a ele se apresentava. A liberdade estética remete novamente ao pensamento de Schiller (2002, p.21), quando menciona que a Arte “é filha da liberdade e quer ser legislada pelas leis do espírito, não pela privação da matéria”. O objeto artístico desse formato, talvez não tão ligado à questão do Belo ou do Sublime, levou o artista a um “fazer” livre, sem a preocupação com padrões, mas com um discernimento a respeito da representação de sua ideia.
Governados por esse pensamento, os artistas da Trienal de Artes, apresentam no Sesc de Sorocaba, até o mês de fevereiro de 2015, uma mostra com instalações, vídeos, áudios, pinturas, fotografias e esculturas. As obras apresentadas suscitam esse olhar para o contemporâneo, levantam questões a respeito da sociedade, de seus problemas e, mais que isso, promovem uma possibilidade de novos diálogos, por meio do objeto artístico. A frase, “Nossa proposição é o diálogo”, na entrada do saguão principal do evento, deixa claro esse objetivo.
Entre os temas propostos, estão a passagem do ser humano pelo planeta, seu rastro de sujeira, de degradação e de poluição; a questão da água; a religião; entre outros pontos polêmicos e discutíveis. Em meio a tudo isso, é permitido o envolvimento do espectador, que se insere na obra, como parte dela e como parte do problema. É possível tocar, interagir, perceber e sentir a Arte por completo.
Aos gregos da Antiguidade, talvez uma mostra como essa causaria assombro, no quesito de beleza, ao que a contemporaneidade responderia com a questão do gosto, na Arte. Mas o artista da atualidade ainda poderia adicionar que a liberdade da Arte Contemporânea permite sobretudo, a construção de algo que se aproxima mais da representação de sua ideia, ainda que não seja baseada em moldes de beleza pré-estabelecidos ou de realidade. O papel dessa Arte não é pois, a destruição de valores clássicos, mas consiste em destacar a importância da ideia e do espírito criativo do artista em sua forma de interpretar o mundo. E não se pode deixar de lembrar que, mesmo para Platão (2004, p.87), a Arte figurativa era vista como uma interpretação da realidade, representava o modo como o artista via as coisas.
E sobretudo a questão do gosto pelo objeto artístico não está atrelada à representação de uma realidade relacionada a dimensões e a proporções, mas a um juízo reflexivo que atua sobre forças individuais. Essa busca pelo que agrada aos sentidos foi se delineando através dos tempos, na forma de períodos e mudando de aspectos. O fazer artístico está, dessa forma, ligado a uma ideia de ajuizamento que visa produzir experiências estéticas intensas.
E para terminar,
“Quem se atreveria a atribuir à Arte, a função estéril de imitar a natureza?” (BAUDELAIRE, 2007, p.65).
Depoimento do Consagrado Ator Paulo Betti sobre Frestas, Trienal de Artes:
Fotos da Exposição:
Crédito fotos: Rosângela Vig. Obra de Malu Saddi, crédito site Sesc.
Confira também:
- Website Oficial Frestas, Trienal de Artes: frestas.sescsp.org.br
- Fan Page da Trienal de Artes no Facebook: www.facebook.com/frestas.trienal.artes
Nossos agradecimentos ao Sesc Sorocaba, e conforme está apresentado em seu site, segue:
“A TRIENAL – Idealizado pela equipe do Sesc Sorocaba e com curadoria geral de Josué Mattos, Frestas – Trienal de Artes é um projeto transdisciplinar com foco nas artes visuais com três diferentes núcleos expositivos imbrincados e contará com espetáculos de teatro, intervenções musicais e performances, que acontecerão entre 23 de outubro e 3 de maio de 2015.
A Trienal surge em resposta a um antigo anseio da equipe do Sesc Sorocaba de dar nova forma ao Terra Rasgada, realizado pela instituição na década de 1990. Com parceria da Secretaria de Estado da Cultura e da Prefeitura Municipal, o Terra Rasgada teve grande impacto tanto para o público sorocabano quanto para os artistas da cidade. A partir dessa experiência local, a cidade estende seu olhar para fora: Frestas pretende criar espaço para outras formas, significados e dimensões para as artes visuais em Sorocaba.
Além de desenvolver processos educativos visando a formação de público, incentivar a produção artística local, processual e permanente e apresentar trabalhos de artistas que nunca expuseram no Brasil, a Trienal tem por interesse central reunir artistas de diferentes partes do mundo em Sorocaba, em um movimento de descentralização dos polos de arte contemporânea.”
Artistas Plásticos:
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- Adela Jussic
- Adrian Melis
- Afonso Tostes
- Amilcar Packer
- Ana Gallardo
- Ana Tomimori
- Andrés Aizicovich
- Anton Steenbock
- Barbara Wagner
- Bayrol Jimenez
- Bil Luhmann
- Bjorn Eric Haugen
- Brigida Baltar
- Bruno Kurru
- Bruno Moreschi
- Cristina Garrido
- Bruno Vilela
- Caetano Dias
- Cao Guimarães
- Lucas Bombozzi
- Beto Magalhães
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- Daniel Santiago
- Dionisio González
- Emmanuel Lagarrigue
- Evandro Machado
- Faycal Baghriche
- Felippe Moraes
- Fernando Arias
- Irmãos Guimarães
- James Webb
- Joana Corona
- Jonas Arrabal
- Julia Kater
- Kauê Garcia
- Kristina Norman
- Laura Belem
- Leonora de Barros
- Luisa Nobrega
- Lume
- Malu Saddi
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- Marcela Armas
- Marcelo Moscheta
- Maya Watanabe
- Neha Choksi
- Nuria Guell
- Priscila Fernandes
- Raquel Stolf
- Regina Parra
- Rithy Panh
- Rochelle Costi
- Rodrigo Torres
- Romuald Hazoume
- Sandra Cinto
- Société Réaliste
- Tamara Kuselman
- Valérie Mréjen
- Vasco Araújo
- Veronica Stigger
- Véio
- Victor Leguy
- Waléria Américo
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Referências:
BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade, 6a. ed., São Paulo, Editora Paz e Terra, 2007
BAYER, Raymond. História da Estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. Tradução de José Saramago.
DUROZOI, Gérard; ROUSSEL, André. Dicionário de Filosofia. 3a. Edição. Campinas: Papirus, 1999.
FARTHING, Stephen. Tudo Sobre a Arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 2004.
SCHILLER, Friedrich Von. A Educação Estética do homem. 4a. edição. S.Paulo: Ed. Iluminuras, 2002
ROSÂNGELA VIG
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