“Ao contrário dos fotógrafos viajantes prefiro interagir com a minha cidade. Nasci no bairro do Engenho Novo, e dividi a minha adolescência entre a Tijuca e a Zona Sul. Minha crise de representação com uma fotografia explícita, literal e maniqueísta, me levou a praticar uma fotografia reflexiva. Ela foi em parte inspirada no olhar desviante de um fotojornalismo simbólico desenvolvido no Jornal do Brasil, no período da ditadura militar, para burlar os censores que só viam o óbvio”. Rogério Reis
O Centro Cultural Justiça Federal abre no sábado, 11 de junho, a exposição Onde está o sujeito? do fotógrafo Rogério Reis, que apresenta uma visão panorâmica do trabalho do renomado fotógrafo brasileiro que transita com tranquilidade pelo fotojornalismo e pela arte tanto no Brasil quanto no exterior. A exposição, que marca 45 anos de trajetória do fotógrafo, reúne fotos, ensaios, vídeos e objetos expostos no percurso das seis salas do primeiro andar do CCJF. Nessa atual montagem o público terá a oportunidade de ver trabalhos novos e inéditos do período pandêmico como Exaustão, Phebolitos, Encobertos e outros ressignificados especialmente para essa mostra.
Com curadoria de Evandro Salles, a exposição traz cerca de 100 obras distribuídas em nove séries que reúnem uma espécie de antologia do vasto trabalho poético de Reis. “Ver e rever, muitas vezes, a obra fotográfica de Rogério Reis, em suas diferentes séries e momentos profissionais, permite que se descubra uma vertiginosa continuidade de busca que se processa através da câmera-olho do artista. Trata-se de uma continuidade de procura, um mesmo olhar que persiste, obstinado, desde as imagens produzidas como documentação jornalística, quando ainda trabalhava em longos plantões em jornais cariocas, até as recentes imagens feitas durante a pandemia, nas quais grita a ausência de pessoas, em um silêncio que busca a todo tempo as vozes que ali não estão, mas que em verdade contextualizam as cenas. Entre um momento e outro, abre-se um universo de criações no qual a imagem liberta-se de suas premissas técnicas, definidas pelo uso clássico da fotografia documental, para alcançar a dimensão de realizações plenamente poéticas”, diz o curador Evandro Salles.
Onde está o sujeito? Mostra também uma releitura das séries famosas de Rogério Reis como “Na lona” (1986 – 2002), “Surfistas de trem” (1989), “Ninguém é de ninguém” (2011-2014), “Linha de Campo” (2013) e “Micro-ondas”(2004), como também “Exaustão” ( 2019) e o recém finalizado “Voo de papel”, inspirado no documentário “Le Grand Cirque Calder” (1927), de Jean Painlevé. A série foi iniciada em 2009 por conta de um convite feito ao artista para produzir um trabalho a propósito do ano da França no Brasil. Com um mini 14 Bis de papelão Reis realiza uma experiência lúdica nas ruas de Paris e o resultado são imagens de forte conceito e simbolismos históricos. Já o novo “Phebolitos” (2021 – 2022) é resultado do trabalho que o fotógrafo produziu com sabonetes Phebo durante a pandemia. “São sabonetes que através do uso desacelerado entraram no meu campo de interesse e ganharam formas diferentes ao longo do isolamento doméstico da pandemia”, diz Reis. “Encobertos” (2020) é outra das séries inéditas de Rogério que serão expostas no CCJF. Com o subtítulo O espaço é de quem ocupa, o trabalho revela na paisagem vazia os “burrinhos sem rabo”, que mesmo sem descarregar as suas mercadorias (cadeiras de praia e guarda-sóis), marcaram presença na orla para garantir seus territórios e, por razões de sobrevivência, pressionar os governantes para liberar o uso das praias diante dos primeiros sinais da curva descendente do Covid-19.
“Onde Está o Sujeito? apesar de não ser uma retrospectiva, organiza-se como ampla antologia que proporciona ao público uma viagem a parte significativa dessa extensa busca-olhar de Rogério Reis: desde uma pequena mas densa seleção de suas fotos jornalísticas, que enquadram momentos e personagens fundamentais da recente história brasileira, passando por séries emblemáticas como Surfistas de Trem, Na Lona (registros carnavalescos), Linha de Campo, Ninguém é de Ninguém ou a dramática e violenta instalação Micro-Ondas, para chegar até séries recentes e inéditas feitas durante a pandemia de COVID-19 como Phebolitos e Exaustão. Oportunidade extraordinária de nos debruçarmos sobre a obra de um de nossos grandes artistas da fotografia”, complementa Salles.
Onde Está o Sujeito? fica ambientada no Centro Cultural Justiça Federal até 24 de julho.
Rogério Reis nasceu no Rio de Janeiro, em 1954, onde ainda vive e trabalha. Formou-se em jornalismo pela Universidade Gama Filho em 1978, quando já trabalhava há um ano como fotógrafo do Jornal do Brasil. Teve uma breve passagem pelo jornal O Globo no ano seguinte, antes de retornar ao Jornal do Brasil, onde permaneceu entre 1980 e 1982, passando depois à revista Veja, com a qual colaborou durante os anos de 1983 e 1984. Entre 1985 e 1989 integrou a seção carioca da agência F4 e, no final de 1989 fundou, com Claus Meyer e Ricardo Azoury, o atual acervo Tyba, no qual atua até o hoje. Foi editor de fotografia do Jornal do Brasil no período compreendido entre 1991 e 1996. Em 2002 seu retrato do poeta Carlos Drummond de Andrade sentado na praia de Copacabana serviu de base para uma escultura de Leo Santana que hoje é uma das referências turísticas do Rio de Janeiro. Rogério inspirou o personagem do fotógrafo de mesmo nome do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, baseado no livro de Paulo Lins.
Conta que a fotografia apareceu na sua vida ainda na adolescência, por influência do ambiente da contracultura, onde se buscava então profissões menos convencionais. No rastro dos Domingos da Criação, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), importantíssima experiência desenvolvida pelo crítico mineiro Frederico de Morais, Rogério teve aulas com o húngaro George Racz, nas oficinas de fotografia do Bloco Escola deste museu no início dos anos 70, e posteriormente nos cursos do fotógrafo americano Dick Welton no seu estúdio do Chapéu Mangueira no Leme. O trabalho de Rogério está presente em importantes acervos como: Biblioteca Nacional da França, Paris (2021); Chengdu Contemporary Arts Park Museum, China (2017), Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (2017), Museu Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires (2016), MAR-Museu de Arte do Rio (2015), Maison Européenne de la Photographie, Paris (2014, 2012, 2010 e 2008), MAM-Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro (2002), MAM-Museu de Arte Moderna, São Paulo (1999), Douglas Nielsen Collection no Tucson Museum, EUA (1996), Coleção MASP/Pirelli, São Paulo (1995).
Onde está o sujeito? Rogério Reis
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Curadoria: Evandro Salles
Abertura: sábado, 11 de junho de 2022
Exposição: de 12 de junho a 24 de julho de 2022
CCJF – Centro Cultural Justiça Federal
Av. Rio Branco, 241 – Centro Rio de Janeiro RJ – (21) 3261-2550
De terça-feira a domingo, de 11h às 19h