Livro foi criado em conjunto na pandemia por autoras brasileiras que vivem no Chile, Suécia e Brasil
Livro de poesia feminista no DNA, “Fio de corte” será lançado dia 13 de janeiro, às 19h, na livraria Travessa de Ipanema, no Rio, pelas autoras Angela Brandão, Ilana Eleá e Lucelena Ferreira. Os versos retratam a sexualidade, a linhagem de matriarcas, o amor, a intimidade, os filhos, a maturidade e o confinamento, por um olhar feminino de ruptura com padrões de gênero.
Angela, Ilana e Lucelena, que moram no Chile, Suécia e Brasil, respectivamente, contam que os textos foram apresentados, declamados e transformados em conjunto, via internet, durante o processo criativo. Muitas vezes, o poema de uma respondia ao da outra. São 114 páginas publicadas pela editora 7Letras. A crítica literária Heloisa Buarque de Hollanda aprova o resultado, na contracapa:
“Gostei muito mesmo. É um livro seguro, que desliza liquidamente e com firmeza do início ao fim. As três autoras têm grande afinidade, e é interessante ver as similaridades e diferenças entre elas ao correr da leitura. Por outro lado, essa dicção que enxergo nos textos me chama a atenção porque é uma forma bem nova e pessoal de ‘olhar para dentro para ver o que está fora’, que se sintoniza e, ao mesmo tempo, se distancia da poesia feminista recente. Os temas de ‘Fio de corte’ tratam da mulher de hoje, mas o tom é intimista. Entre o corpo e a alma parece não haver descontinuidade. Parabéns às autoras. É muito bom, na minha idade, ver que as minas, cada uma de seu jeito, estão pisando no acelerador. Bom demais.”
Felizes com a boa aceitação, as autoras reforçam que “Fio de corte” não são três livros escritos separadamente e reunidos sob um mesmo título. Conectadas em um grupo on line, as três trocaram ideias e experiências durante a feitura do livro. Foi um processo de criação conjunta. “A sintonia foi grande desde os primeiros encontros. O livro fala muito da perspectiva feminina no mundo machista, e foi pensado e tocado a seis mãos, como num concerto”, resume Lucelena, que uniu Angela e Ilana para o projeto. “É uma levantando a outra, sem rivalidade. Lidamos bem com o passar do tempo, somos quebradoras de estereótipos, rejeitando a ideia do sexo frágil.”
Angela conta que o encontro das três por meio da poesia trouxe novos ares durante o isolamento: “No meu caso, esse diálogo poético ocorreu em meio à aridez de um cotidiano de completo confinamento. E o ambiente de afeto que estabelecemos permitiu que as fragilidades daquele momento delicado emergissem nos versos, de forma íntima, desencapada”, completa.
Para Ilana, o livro é um convite ao diálogo, com mulheres falando com mulheres e com quem mais quiser chegar. “É uma conversa aberta. Na minha literatura erótica, falo da desconstrução do amor romântico entre pares, da abertura do casamento monogâmico, da ampliação de possibilidades nos relacionamentos. Tem espaço também para escrever sobre o gozo, sobre a vaidade que aprisiona, além da violência cotidiana contra a mulher”, detalha Ilana, que conta ter na família uma bisavó vítima de feminicídio.
Fotos antigas de mulheres inspiradoras e fortes saíram dos álbuns de família das poetas para ilustrar a abertura das três partes de “Fio de corte”. Estão lá a bisavó de Angela, a avó de Ilana e a mãe de Lucelena, antes dos poemas de cada uma. “Crescemos ouvindo mais as histórias sobre os homens da casa do que sobre elas. Com o livro, fomos nos reaproximando dessas matriarcas. A cadeia de transmissão não termina. Também somos mães de mulheres”, diz Angela.
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As autoras
Doutora em Comunicação pela PUC-Chile, Angela Brandão é jornalista, escritora, compositora de MPB e tradutora. Em 2008, lançou o primeiro disco autoral, hoje nas plataformas digitais. Em 2014, recebeu o prêmio de melhor canção no Festival de Música da Rádio Nacional. Em 2015, publicou o primeiro livro, “Quarentena amorosa”, sobre separações, que foi lançado simultaneamente no Brasil (editora Sextante) e no Chile (Planeta), chegando à lista dos mais vendidos por lá. Atualmente, Angela mora no Chile, tem dois filhos e trabalha como tradutora. “Fio de corte” é o primeiro livro de poemas. O próximo será um romance.
Ilana Eleá é autora de “Encontros de neve e sol” (e-galáxia), “Poemas acesos” (publicação bilíngue português italiano pela Patuá, com tradução de Giacomo Falconi) e “Emma e o sexo” (primeiro volume de trilogia erótica publicado pela e-galáxia e em audiolivro pela Pop Stories). É doutora em Educação pela PUC-Rio e mora na Suécia desde 2011. Pela biblioteca infantil que abriu ao público no jardim de casa em Estocolmo, a Bibliotek Barnstugan, ela ganhou um prêmio local como promotora de cultura. Membro do Mulherio das Letras na Europa, Ilana está presente em antologias poéticas organizadas pelo movimento. Hoje, estuda Sexologia, na Universidade de Malmö, enquanto finaliza o segundo volume de “Emma”.
Lucelena Ferreira é escritora, professora e pesquisadora. Seu primeiro livro de poesia, “Inquietudes”, foi bem recebido por nomes como Adélia Prado, Manoel de Barros e Fernando Sabino. É doutora em Letras e em Educação pela PUC-Rio e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Foi pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. É autora premiada pela Fundação do Livro Infantil e Juvenil, na categoria Livro Teórico, com “Por que ler?” (Faperj e ed. Lamparina). Em 2019, publicou “Mulheres na liderança” (na segunda edição, pela Matrix Editora). Ainda este ano, será lançado o infantil “Bela e o balé” (ed. Antigo Leblon). Como as amigas, tem dado uma palhinha nas redes sociais poesia da poesia do “Fio de corte”.