“Na verdade, sou mais um militante agnóstico. Talvez a arte seja minha fé”. – A. Gomez.
Certamente, ao redor do mundo, há muitos desenhistas habilidosos. No entanto, talvez haja uma quantidade maior de reprodutores do que de criadores. E é justamente esse aspecto que faz com que o quadrinista norte-americano Alejandro Gomez seja tão especial: a criatividade. Por meio de uma notável originalidade artística e intelectual, o artista norte-americano deu vida a um universo de quadrinhos de sua própria autoria, no qual há um pano de fundo metafísico-religioso muito interessante que explora a dualidade “Deus” e “Demônio” de uma maneira diferente daquela através da qual estamos acostumados a compreendê-los.
Em “The Leather Of The Whip”, encontramos uma ilustre atmosfera sombria que se desenvolve numa mescla de drama e terror. Na história, Deus é retratado como o verdadeiro trapaceiro e Lúcifer como o compassivo que planeja retornar ao céu possuindo o corpo de Jesus de Nazaré. Essa narrativa é encantadoramente apresentada através do talento de Alejandro Gomez, que desenhou personagens e cenários fascinantes, que em essência se distanciam totalmente da grande indústria, fato que levou o artista, assim, a trilhar seu próprio caminho e lutar para publicar sua história. Com muita determinação e com um dom especial que sempre o moveu a buscar concretizar seus sonhos, ele já chegou longe.
Conversamos com o Alejandro para conhecer melhor suas influências, seu processo de criação e produção que, aos poucos e cada vez mais, conquista admiradores e se populariza.
ENTREVISTA:
- Sua história em quadrinhos foi publicada há alguns anos atrás. Gostaria que comentasse a respeito de como foi o processo de produção e publicação. Também queria de saber há quanto tempo você trabalha profissionalmente como artista.
Sou artista profissional há quase cinco anos. Embora eu tenha começado com a história, “The Leather Of The Whip”, já há mais de uma década, foi nos últimos anos que aprendi verdadeiramente quais são as ferramentas da indústria. Publicar algo por si, significa muita pesquisa, muita tentativa e vários erros. Isso quer dizer que é necessário encontrar a empresa de impressão correta e estabelecer os critérios e formatos digitais adequados para os livros nos quais se está trabalhando. É necessário também se ater a certos detalhes, como fazer a contagem de páginas certa para o tamanho do papel certo, entre outros aspectos que compõe o procedimento. Mas os resultados finais valem a pena. Embora isso tudo deva ser mais fácil para aqueles que estão mais familiarizados com a tecnologia e até com as redes sociais.
- Conte-nos um pouco mais sobre você. Com quantos anos começou a esboçar seus primeiros desenhos? Há alguém na sua família que também possui talento artístico?
Desenho desde a minha infância. Eu venho de uma longa linhagem de artistas. Meu pai foi quem ajudou a me guiar, e foi ele que incentivou meus esforços criativos. Havia sempre um diferente estilo de arte sendo evidenciado e celebrado na minha família, indo do desenho à música. Sou filho de imigrantes que se mudaram da Colômbia para os EUA há mais de 60 anos. Nasci em Anchorage, no Alasca, EUA, mas fui criado em um estado diferente chamado Arizona, embora já faça uma década que vivo no estado de Washington.
- Além de histórias em quadrinhos e personagens, o que mais você gosta de desenhar?
Meu tipo favorito de desenho são retratos da vida real, especialmente os que são feitos com carvão. Ultimamente, tenho praticando arte digital.
- Além do RCCC, de quais outros eventos você já participou?
Além do RCCC, eu estive em um evento de terror em Seattle, WA, chamado “Crypticon”, do qual participei nos últimos três anos e em 2020, pretendo marcar presença mais uma vez. Além disso, pelo terceiro ano consecultivo, participarei da Comic Con de Lilac City, em Spokane, WA. Entre um e outro desses eventos, eu trabalhei em convenções menores e também em alguns eventos locais.
- Como é a vida de um artista como você nos Estados Unidos? É possível viver da sua própria arte? Eu estou perguntando justamente pelo fato de que no Brasil, é difícil uma pessoa conseguir viver de arte – embora, é claro, seja possível.
A vida de um artista nos EUA pode ser desafiadora, mas ao mesmo tempo gratificante. Certamente tudo se torna ainda mais desafiador se você não estiver no mainstream, como DC ou Marvel. As oportunidades existem para sustentar uma carreira, depois que você perceber o seu valor. Nas convenções, conheço artistas de muito sucesso em seus campos, que se estabeleceram há anos, mas que ainda podem, eventualmente, enfrentar dificuldades. Existem problemas comuns, como, por exemplo, o pagamento de aluguel, o seguro de saúde ou a alimentação. Você começa pequeno com as comunidades artísticas ao seu redor. O sucesso certamente não é medido apenas pelo status financeiro. As comunidades artísticas locais prosperam com a criatividade de outras pessoas e incentivam todos a participar de alguma forma de uma mídia ou de outra.
- Como surgiu a história presente em “The Leather Of The Whip”? De onde veio a ideia de criá-la?
A ideia para “The Leather Of The Whip” surgiu há quase 15 anos, quando eu morava em Seattle. Tudo aconteceu simultaneamente, pois eu queria criar quadrinhos e escrever uma história de ação e terror. Ao mesmo tempo em que pensei nisso, ouvi falar de passagens da Bíblia que foram omitidas, tal como a história da “Harrowing Of Hell”. Foi dito uma vez que antes de Jesus Cristo subir ao céu, ele primeiro desceu ao inferno para libertar todas as almas. Foi nesse momento que comecei a me fazer certas perguntas, como: “E se Jesus tivesse descontado sua raiva em tudo do inferno? No entanto, de certa forma, a história estava se tornando um tanto “comercial”, digamos, algo “pró-Cristo” e eu estava tendo problemas para tentar deixar a minha mensagem clara. Foi quando surgiu a ideia do corpo humano de Jesus de Nazaré ser possuído por Lúcifer. A partir daí, fiz Deus ser retratado como o malandro e dei a Lúcifer a chance de voltar ao céu, mas não antes de ir para o inferno, que é onde a história se passa.
- Você usou elementos religiosos em sua história. Você se considera um indivíduo religioso? Como define “Deus”, “demônio”, “certo” e “errado”?
Os elementos religiosos são o que a história exige e, às vezes, a história é grandiosa até mesmo para mim. Há um equilíbrio delicado que tento ter entre usar certas referências religiosas e teorias controversas, sem minar as crenças de ninguém. Não sou uma pessoa religiosa, mas estou contando uma história iconoclasta. Na verdade, sou mais um militante agnóstico. Talvez a arte seja minha fé. Mas tenho minhas próprias crenças que me ajudam quando o mundo parece grande demais. Eu definiria ‘Deus’ ou ‘Mal’ somente como palavras. A questão é sempre sobre o significado que há por trás delas.
- Como você define a arte?
Arte é a forma mais pura de mágica.
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- Quais são os planos para o futuro? Você está trabalhando em algum material novo?
“The Leather Of The Whip” terá um total de 13 livros, sendo que o capítulo sete foi lançado no mês passado. Logo depois, todos serão compilados em dois volumes separados, e para isso, espero que alguma campanha de financiamento possa me ajudar a chegar lá. No futuro, estarei em Seattle e Spokane para participar de algumas convenções. Além disso, contribuirei com outros criadores de quadrinhos independentes para suas séries de quadrinhos publicadas.
Para conhecer melhor o trabalho de Alejandro Gomez, e/ou entrar em contato com ele, acesse um dos links abaixo:
Site oficial:
www.theleatherofthewhip.com
Twitter:
twitter.com/agomezagogo
Facebook:
www.facebook.com/theleatherofthewhip
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JULIANA VANNUCCHI
Sorocaba – São Paulo
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E-mail: ju.vannucchi@hotmail.com