Exposição “A terra e os devaneios da vontade” da artista Patrícia Chaves no Laurinda Santos Lobo

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O Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo inaugura no dia 24 de Fevereiro a exposição “A terra e os devaneios da vontade” com obras inéditas de Patrícia Chaves e curadoria de André Sheik. Esta individual é composta por pinturas que resultam das explorações estéticas da imagem da infância feitas pela artista. Fortemente influenciada pela obra de Bachelard ela desenvolve uma poética que se dá no duplo da imaginação e materialidade. No arranjo desta exposição há a intenção de implicitar movimento em sua espacialidade – apoiadas num chão terroso as plantas e as crianças tateiam explorando limites – as séries se abrem e se fecham.

Sheik comenta que os jardins retratados pela artista talvez sejam tanto das delícias terrenas quanto dos desgostos, entre paraíso e inferno. Quanto à técnica dos trabalhos, ele ressalta o fato de que neles “o desenho, usualmente associado ao esboço, se torna pintura. Os traços em carvão ora são feitos antes da entrada da tinta, ora foram desenhados por cima dela”. Essa ação faz o curador relembrar das palavras do pintor Cézanne “A linha e o modelado não existem em absoluto. Não há diferença entre desenho e cor, uma vez que, na natureza, tudo está colorido”. A exposição ficará aberta ao público até o dia 25 de março.

SOBRE A ARTISTA

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Patrícia Chaves nasceu em Niterói, RJ no ano de 1992, atualmente vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. É graduada em pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Participou de diversos cursos, como aluna e também monitora, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

Em 2017 realizou a exposição individual “Transbordamentos da Infância” no Centro de Artes Calouste Gulbenkian com curadoria de Gabriela Dottori e Julio Ferreira Sekiguch. No mesmo ano participou da coletiva “Cabra-Cega” na Galeria Modernistas. Em 2016 realizou a individual “Cotidiano Escondido” e fez parte da coletiva “Nós Coloridos”. Sua primeira exposição aconteceu em 2012.

SOBRE O CURADOR

Andre Sheik nasceu no Rio de Janeiro em 1966, é músico, artista visual, crítico e curador. Pesquisador associado do N-imagem, da UFRJ, editor executivo da revista Concinnitas, da UERJ.

SERVIÇO
Exposição individual: A terra e os devaneios da vontade
Artista: Patrícia Chaves
Curadoria: André Sheik
Abertura: 24 de fevereiro, sábado, das 18h às 22h
Período expositivo: 25 de fevereiro até 25 de março de 2018, de terça à sexta das 10h às 19h e aos sábados e domingos das 12h às 20h
Local: Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo
Endereço: Rua Monte Alegre, 306 – Santa Teresa, Rio de Janeiro – RJ, 20240193
Telefone: (21) 2215-0618
Visitação gratuita
Mais informações: laurinda.cultura@gmail.com

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Patricia Chaves por Andre Sheik

A infância costuma ser idealizada pelos adultos, que têm suas próprias memórias construídas. Não é incomum escutar que “é preciso proteger as crianças; as crianças são puras e boas…” Há teorias psicanalíticas que defendem que a sexualidade infantil é um fato, mesmo que distinta daquela dos adultos. Sem mencionar aquilo que outrora já foi classificado como perversidade.

O assunto das pinturas de Patrícia Chaves é a infância, não uma qualquer, e sim aquela construída nas memórias dela. Diversas ações das personagens retratadas passam-se em meio a um ambiente que remete a quintal.

“Mesmo possuindo níveis de vinculação a memórias, as pinturas são idealizadas de formas diversas das que partem de experiências vivenciadas ou imaginadas; elas possuem a intenção de captar e expor algo que problematize a ingenuidade atrelada à infância. Neste sentido, todas são feitas „de memória‟, sem o uso de referência fotográfica como recurso técnico”, diz a artista.

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Em alguns dos quadros, vemos plantas que fazem e fizeram parte dos lugares habitados por Patrícia. Nelas, as crianças “brincam” em meio ao verde, e em contato com a terra.

“[…] temos realmente a impressão de que o sonhador que modela segue melhor os interesses do devaneio íntimo do que o sonhador que contempla” (Gaston Bachelard).

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Os jardins por ela retratados talvez sejam tanto das delícias terrenas quanto dos desgostos, entre paraíso e inferno. Para determinar – ainda que seja possível dizer que podemos ver insinuações de cunho sexual – seria preciso fazer um julgamento moral, do qual, aqui, eu me abstenho.

De um modo geral, os saxônicos costumam ser empiristas, partem direto para o embate da matéria, metendo a mão na massa; enquanto os brasileiros – europeus do Sul – tendem a ser racionalistas. Patrícia faz parte do primeiro grupo, sua pintura se dá na tela: mesmo que ela saiba o que vai pintar, não sabe, de antemão, como. Assim, o desenho, usualmente associado ao esboço, se torna pintura. Os traços em carvão ora são feitos antes da entrada da tinta, ora foram desenhados por cima dela. Para Cézanne, o desenho puro é uma abstração: “A linha e o modelado não existem em absoluto. Não há diferença entre desenho e cor, uma vez que, na natureza, tudo está colorido.” Muitos dos pigmentos das tintas, originariamente, são minerais, com cores da terra. Em grande parte dos trabalhos desta exposição, as cores avermelhadas contrastam com as esverdeadas e se realçam simultaneamente. Cézanne dizia também que pintar é contrastar. Contudo, a argamassa da pintura de Patrícia é a memória.

“Expressando-nos filosoficamente desde já, poderíamos distinguir duas imaginações: uma imaginação que dá vida à causa formal e uma imaginação que dá vida à causa material; ou, mais brevemente, a imaginação formal e a imaginação material” (Gaston Bachelard).

Não é o caso de entrar aqui na histórica comparação que confronta artes visuais com artes intelectuais, ou naquela que opôs a linha à cor na história da arte a partir do Renascimento. Cézanne diz que, à medida que pintamos, desenhamos, quanto mais a cor se harmoniza, mais a forma se precisa. Na contemporaneidade, pintar é desenhar e desenhar é pintar. O que importa é o acontecimento pictórico.

“A linguagem poética, quando traduz imagens materiais, é um verdadeiro encantamento de energia” (Gaston Bachelard).

Nas pinturas de Patrícia, há uma superficialidade com pouca perspectiva, seja geométrica ou atmosférica. São momentos de aparecimento/surgimento de imagens, que vão do esboço do desenho ao pictórico, e vice-versa. Deixar o quadro indeterminado é um procedimento cezanneano. A despeito da aparência de inacabadas de algumas telas, existe bastante elaboração. São gestos e pinceladas libidinais.

A pintura não é o quadro, é a vida. As imagens pictóricas de Patrícia Chaves se expandem, indagam a respeito de suas presenças no mundo, questionam o mundo. O ar de incompletude não chega a determinar se os quadros afirmam ou questionam. A feitura costuma ser rápida, todavia isso não determina se devemos dedicar um tempo longo ou curto a eles. São quadros para olhar ou para escutar?

“[…] vontade que sonha e que, ao sonhar, dá um futuro à ação” (Gaston Bachelard)

André Sheik, fevereiro 2018.

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