Estou próximo do povoado de Antofalla, na cordilheira dos Andes, em minha cabana.
Faz muito frio, a neve não para de cair, cenário deslumbrante.
Os jegues selvagens e as lhamas convivem pacificamente neste cenário. Os flamingos procuram alimento no lago. Puna é um deserto de cores variadas, do dourado da areia ao branco da neve, no alto da cordilheira dos Andes. Não é à toa que as montanhas estão cobertas de gelo. O sol aparece, mas o termômetro indica 13 graus abaixo de zero. As montanhas sagradas de Macon são tão claras que lembram dunas de areia.
Muito frio mesmo, acendo minha lareira.
Uma garrafa de vinho e um pão presenteado pela querida amiga Teresa de Antofalla.
Cobertas de pele de carneiro.
Lareira acessa.
Lá fora a neve não para de cair.
Vou ver meus carneiros, se estão protegidos. Eles estão todos juntinhos, se aquecendo.
Minha horta também protegida. Teresa perguntou-me:
– Pablo não sente solidão?
– Não, amiga querida, aqui tem tudo que preciso: paz.
– Mas e de pessoas?
– Quando sinto muita falta mesmo, vou até o povoado tomar uma taça de vinho com os amigos e jogar conversa fora.
– Gracias pelo carré de carneiro que me presenteaste. Vou prepará-lo com um molhinho de hortelã.
– Cuidado com teu retorno ao povoado, as trilhas são perigosas e está nevando muito. Amanhã cedo vou até o povoado comprar mantimentos e rever amigos. Acordar cedinho, ver a nevasca e ir com meu jeguinho, bem devagarinho.
– Não te preocupes, estou bem. Meu amigo, te pergunto novamente. O que esperas encontrar em Antofalla?
– Paz e amigos verdadeiros. Natureza. Isso não tem preço.
– É um povoado pobre, sem recursos, sem nada, esquecido no mundo.
– Não me importa, faremos dele um povoado feliz, temos a natureza, um povo solidário e amigo, receptivo, alegre, parceiros. Seremos felizes.
– Acordar cedinho e fazer um belo café.
– Quando me sinto sozinho, rezo, vou até o campo e admiro a natureza. Agradeço cada momento.
Em minha ida até o povoado encontrei Sebastian antigo morador de Antofalla. Contou-me como era a vida no povoado. Deu-me as boas vindas. Convidou-me para uma taça de vinho e falar da vida. Conhecer o povo da cidade.
– Meu amigo, a conversa está muito boa, mas a noite está chegando e preciso colher lenha para abastecer minha lareira, pois a noite promete ser muito gelada. Responda-me uma coisa: No caminho notei uma pequena capela, não entrei… Mas senti muita paz por lá passar. Em homenagem a quem ela é?
– É Nossa Senhora do Carmo, protetora do Chile e de nossa aldeia.
– Voltarei com mais tempo e lá, irei fazer minhas orações e meditações.
Pela trilha, fui colhendo gravetos, ao longe avistei um grupo de Lhamas pastando calmamente (Visão maravilhosa) e ao chegar em minha cabana, lá estava meu vizinho Raul, também antigo morador do povoado, que veio dar-me as boas vindas, com uma garrafa de vinho, é claro. Perguntou-me se estava precisando de alguma coisa.
Pela tarde da noite, combinamos sua volta, para um bom papo no dia seguinte para me contar a história do povoado.
Conforme prometido, Raul retornou no dia seguinte pela manhã, eu havia acabado de coar um café.
Contou-me um pouco da história do povoado e do vulcão que lá existe. Raul confidenciou em quase segredo: Não são todas pessoas que por aqui passam, que são recebidas como você, Sebastiam e Teresa. Senti tua energia, boa, iluminada que só trará o bem para o povoado. Sejas bem vindo amigo. E contes comigo no que precisares. Falou Raul.
Nunca vi Sebastiam, convidar em estrangeiro para sua mesa e tomar vinho com ele, nem Teresa levar um pão como boas vindas.
Só para seu saber: Sebastiam nosso patriarca e Teresa nossa Matriarca.
O Antofalla está em uma região quase desabitada, exceto pela pequena cidade de Antofalla, habitada por cerca de quarenta pessoas. Esta é a terra em toda a região, que é sem dúvida uma das mais remotas e desoladas da Argentina. Turismo aqui está ligada na maior parte com a exploração.
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O Antofalla é um vulcão do tipo estratovulcão ativo na Província de Catamarca, na Argentina. Encontra-se a oeste do Salar de Antofalla. Ruínas incas podem ser encontrados na cume do vulcão 1, conformando o que os arqueólogos chamam de “Apachetas” que são uma espécie de altar de adoração Inca. Tal Apacheta oferece a prova definitiva de inúmeros escaladas pré-colombiana. Possui 6.437 metros e três picos. Antofalla é uma palavra composta da língua Cunza e significa: o lugar onde o sol morre.
O sol morre mas a esperança de um mundo melhor renasce.
Raul perguntou-me: – Por que vieste para este fim de mundo?
– Amigo, cansei de tanto Stress, pressão, desilusões, pessoas falsas, na cidade grande, hoje só quero paz.
Depois de longas horas de boa conversa, Raul despediu-se pois precisava cuidar de sua horta e de sua criação de Lhamas, sua sobrevivência.
Fiquei muito feliz com sua visita e com a receptividade dos habitantes.
Gente simples e de bom coração.
Passado alguns dias de pura solidão, retornei ao povoado e parei na capela de Nossa Senhora do Carmo. Ajoelhe-me aos seus pés, Rezei muito e meditei, relembrei fatos passados, meditei muito e pedi sua ajuda. Saí com a alma aliviada, com certeza de ter feito a escolha certa. Minha gratidão a Nossa Senhora do Carmo, por esta iluminação e orientação em meu novo caminho.
Aqui vou ficar, achei meu caminho.
Lá fora nevasca caindo, muito frio.
Convidei Sebastiam, Teresa e Raul para aquele belo carré de carneiro que Teresa me presenteou, tragam um bom vinho chileno.
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Veja a Parte 2: www.obrasdarte.com/conto-recomecar-em-antofalla-chile-segunda-parte-por-edmundo-cavalcanti/
Autor: Edmundo Cavalcanti.
Minha gratidão para: Beatriz Ferraz Vaz Macia pela revisão do texto.
¹ Wikipedia.
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EDMUNDO CAVALCANTI
São Paulo – Brasil
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E-mail: cavalcanti.edmundo@gmail.com