Coletivo Cartográfico estreia Acerca do Fracasso das Formas

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Instalação coreográfica concebida pelo Coletivo Cartográfico
em parceria com o artista visual Jorge Soledar será composta por
móveis e gesso e ocupará todo um galpão no bairro do Bom Retiro

Revisar a efemeridade do ato coreográfico como ação capaz de transformar o real, a partir de uma instalação com materialidades e objetos, que serão traumatizados irreversivelmente pela ação de artistas, é o ponto de partida de ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS, instalação coreográfica, que problematiza e põe em choque as fronteiras entre a dança contemporânea, a performance e a escultura. O espetáculo-instalação de dança contemporânea, novo trabalho do Coletivo Cartográfico, estreia dia 10 de junho, sábado, às 19 horas, no Galpão Mungunzá com ingressos gratuitos.

Em ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS – contemplado na 20ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo – o Coletivo Cartográfico, formado em 2011 pelas artistas Carolina Nóbrega, Fabiane Carneiro e Monica Galvão, dá continuidade à pesquisa do grupo, apoiada no embate entre corpo e ambiente.

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O novo trabalho, criado em parceria com o artista visual Jorge Soledar, ocupa todo o espaço de um galpão de 230 m2 no bairro do Bom Retiro, com móveis domésticos, gesso e ferramentas de construção civil, criando um ambiente que é ao mesmo tempo uma casa e um canteiro de obras. A cada dia, as três artistas do grupo realizarão roteiros de ação distintos, que irão pouco a pouco corroer a instalação inicial, numa narrativa continuada de destruição, que durará um mês (de 10 de junho a 2 de julho, sábados e domingos das 19 às 22 horas com abertura do galpão às 18 horas). Pode-se chegar ou sair desse acontecimento a qualquer momento nesse intervalo de tempo.

Gelo, isopor, tijolo, metal e lâmpadas

ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS é um desdobramento de um trabalho anterior do Cartográfico, a série fracassos, composta por seis performances diferentes, cada uma criada a partir do embate irreversível entre os corpos das artistas e alguma materialidade específica, que definia toda a ação coreográfica, a saber: gelo, isopor, tijolo, metal e lâmpadas. Tratavam-se, portanto, de materialidades brutas e industriais, sem marcas de historicidade, que eram destruídas durante a performance, mas passíveis de serem substituídas por peças idênticas. No atual trabalho, o Coletivo Cartográfico irá forjar um elemento industrial (gesso) a móveis domésticos usados, impossíveis de serem substituídos, sendo sua destruição uma experiência mais evidente de morte.

As integrantes do Coletivo narram o quanto o processo de ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS foi atravessado pelo atual esfacelamento da política nacional e internacional, que destruiu a possibilidade de fé numa perspectiva mais igualitária de vida em sociedade através do aprofundamento da social democracia. Segundo elas, esse processo, por hora, não gerou uma ruptura com os modos de existir que vinham sendo tecidos, mas uma continuidade indigesta e dolorosa, sendo essa existência cotidiana decadente e derruída, o pano de fundo da instalação, que apresenta indivíduos em processos de simbiose e destruição de sua própria experiência cotidiana, exposta agora como vazia e arbitrária.

Instalação e ambiente sonoro

O Coletivo Cartográfico encontrou, entre suas pesquisas e as do artista visual Jorge Soledar, o comum interesse pela relação não hierárquica entre corpos e materialidades e a potência escultórica e performativa que resulta desse encontro. Sendo assim, o processo de co-autoria com o artista foi uma via muito potente de aprofundar a mescla entre a coreografia e a escultura. Afinal, Jorge Soledar inclui em suas instalações escultóricas, a presença de corpos humanos como elementos igualados à materialidades e objetos (como gesso, madeira e manequins) mas que também provocam algum tipo de distúrbio à estabilidade da matéria, que é destruída a partir de alguma ação humana.

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Também integrará a instalação coreográfica pesquisas de trilha sonora, iluminação e figurino, concebidas por um grupo de artistas convidados a participar do processo de criação do trabalho. A proposta foi a de que esses elementos fossem concebidos a partir de uma lógica performativa e não de uma lógica espetacular ou ficcional.

O músico Gustavo Lemos, que trabalha com ambientes musicais imersivos, irá desenvolver a sonoridade do trabalho junto à ação coreográfica, a partir dos ruídos produzidos por vários microfones de contato que serão engessados junto aos móveis da instalação. A iluminação, assinada por Vinícius Andrade, jogará com a sobreposição dialética do próprio trabalho (a casa e o canteiro de obras), com cômodos iluminados por luminárias domésticas, sobrepostos por uma instalação com luzes industriais. Já Gabriela Cherubini, responsável pela criação dos figurinos, propôs a indumentária também como uma materialidade a ser destruída pela ação das performers, através de roupas usadas compradas em brechós, nas quais o processo de corrosão já foi iniciado pelo desgaste do uso e por pequenos cortes e desfiamentos feitos pela figurinista.

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Fomento à dança

ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS é o resultado final de um projeto contemplado pela 20a edição do Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo que, assim como a 21ª edição, foram lançadas e iniciadas ainda em 2016. Segundo o Coletivo Cartográfico a atual gestão acaba de destruir este edital, sendo essas duas edições anteriores, as últimas que irão ainda testemunhar um modo de criação em dança que havia sido possível na cidade de São Paulo nos últimos 20 anos, através da luta de muitos artistas da dança. Elas narram que o Fomento era a única política pública existente no município aberta à pesquisa e à experimentação, que permitia aos grupos ultrapassarem muito a visão da linguagem da dança como a de produção de espetáculos. Continuam explicando que, ao cancelar o processo do edital em curso para a 22ª edição e em seguida lançar um novo edital, sem a realização de nenhuma consulta pública, a Secretaria Municipal de Cultura descaracterizou por completo o Fomento, através de uma atitude ilegal e desrespeitosa, que fere os princípios da Lei de Fomento à Dança através de um pensamento super conservador que vê a linguagem apenas como produção e circulação de espetáculos. As artistas do Cartográfico insistem que a justificativa da Secretaria de que essa atitude teria partido de uma necessidade de maior democratização do edital não é verdadeira, pois ela diminui muito as possibilidades da dança enquanto ação política de transformação objetiva e subjetiva da cidade.

Elas contam o quanto o próprio processo de ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS se torna impossível de agora em diante, a não ser que a Secretaria revogue sua decisão. Afinal, além da própria instalação coreográfica que será apresentada, o projeto envolveu inúmeras outras ações, elas sim, de democratização, como a residência artística do Coletivo Limiar, um grupo de dança contemporânea de jovens bailarinos do Campo Limpo, periferia da zona sul, formado a partir das orientações de uma das integrantes do Cartográfico oferecidas através do Programa Vocacional. Para que os integrantes do Limiar participassem da residência, de duração de três meses, eles receberam uma bolsa de pesquisa, sem a qual seria impossível que pudessem se deslocar até o centro para trabalhar. Durante o período, o Coletivo Cartográfico e outros artistas que integram a ficha técnica do projeto, partilharam suas práticas, reflexões e modos de existir, buscando a construção de um processo artístico-pedagógico de contágio, que destruísse a noção de autoria e permitisse que o jovem grupo ganhasse autonomia para seguir com a pesquisa a partir de seus próprios interesses. No novo edital lançado isso seria completamente inviável e o Cartográfico defende que a perda desses modos de ação artística na cidade de São Paulo é imensurável e lamentável.

Para roteiro:

ACERCA DO FRACASSO DAS FORMAS – Abertura da Instalação Coreográfica no dia 10 de junho, sábado, às 19 horas, no Galpão Mungunzá (espaço aberto desde as 18 horas). Concepção e Criação de Instalação Coreográfica – Jorge Soledar e Coletivo Cartográfico (Carolina Nóbrega, Fabiane Carneiro e Monica Galvão). Performance – Coletivo Cartográfico. Concepção de Ambiência Sonora – Gustavo Lemos. Concepção de Iluminação – Vinícius Andrade. Concepção de Figurino – Gabriela Cherubini. Laboratório de Pesquisa Corporal – Maristela Estrela. Design Gráfico – Artefactos Bascos. Produção – Coletivo Cartográfico e Viviane Bezerra. Residência Artística – Coletivo Limiar. Parceria de Produção do Espaço – Cia Mungunzá. Registro de Foto e Vídeo – BRUTA FLOR Filmes. Parcerias Artísticas – Pontogor, Coletivo Teatro Dodecafônico, Núcleo Cinematográfico de Dança, Subversiva_a festa e Movediça. Temporada – Até 2 de julho – sábado e domingo das 19 às 22 horas (abertura do espaço às 18 horas). Recomendados para maiores de 10 anos. GRÁTIS.

GALPÃO MUNGUNZÁ – Rua Rodolfo Miranda, 350 – Bom Retiro (próximo a estação Armênia do Metrô). Informações – (11) 96463-1723 e coletivocartografico@gmail.com. Capacidade – 80 pessoas.

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