Meus riscos verdes de luz,
Caminhos dentro de mim,
Estradas verdes de mar,
Abertas largas sem fim.
(…)
Vou rodando. Vou dançando,
Tecendo meu pau de fita.
Sementes vou semeando
Nos campos da fantasia.
Vou girando. Vou cantando,
E não me chamo Maria.
(CORALINA, 2004, p.216)
Passo a passo 15 de como desenhar
A forma insiste na mente, instala-se no papel em branco ou na tela alva e se desmancha em cores. A ideia nasce, adquire forma e se complementa com as cores. O artista é responsável pela justa distribuição de tudo, onde antes era um vazio. As insurgentes linhas se ajustam entre si, e seguem delineando horizontes, paisagens, corpos, colorem-se de tonalidades, de luzes, de sombras, esboçam movimentos. Eis que a obra emerge e se torna ela própria e única, para o simples deleite do olhar.
A mente pode delirar em meio às formas, mas o artista controla esses ímpetos e segue suas próprias regras em seu fazer. Em meio a esses arrebatamentos, a liberdade insistisse e leva a mente às mais insólitas imagens, representa as mais improváveis cenas. E se nessas impossíveis cenas a vida fosse vista sob um caleidoscópio, ou como se estivéssemos por trás de um lindo vitral colorido? Movida por tal inspiração, fiz um estudo com trinta obras elaboradas a partir de formas geométricas. Deixei que a engenhosidade se derramasse em minha mente e que corresse livre pelo papel e pela tela. E o Tango no Caminito foi o primeiro dessa série de trabalhos.
O lindo e colorido Caminito (Fig. 1) fica em Buenos Aires, na Argentina e o lugar deixa mais que a impressão do Belo. Suas cores vibrantes; envolvem a alma com a alegria e o sensual ritmo do tango. Para esse artigo fiz um desenho especial, com um casal, no ponto máximo de um movimento do tango, no lindo Caminito (Fig. 2).
A intenção foi dar especial destaque para o movimento da dança e para as cores do lugar. As formas geométricas complementaram, uma vez que imaginei a cena vista por meio de um vitral colorido, ou de um caleidoscópio.
O trabalho se iniciou com uma linha diagonal, na folha. A partir dessa linha tracei um esboço do casal, com linhas arredondadas, como se os dois juntos formassem um triângulo invertido, com o lado mais estreito para as pernas do casal e os lados superiores para os ombros e o restante do corpo. Concluído isso, desenhei levemente suas cabeças, seus braços e suas pernas. Com a régua, acertei todas as linhas de seus corpos, para que ficassem retas e que não houvesse linhas tortas. O resto veio por conta do acaso. Com a régua repeti e prolonguei algumas linhas por toda a folha para o casario do Caminito. No chão, do lado direito, tracei uma escada, como se os pés do rapaz estivessem ali apoiados. A cor complementou o desenho. No colorido das casas e do comércio local, a alegria e a vida se acentuou. Na roupa do homem, a seriedade do preto contrastou com a sensualidade do vermelho do vestido da moça, com delicada renda na barra.
De olhos fechados, segui a imaginação, deixei que a mente, livre, perambulasse e que rodopiasse nas ruas de Buenos Aires, ao ritmo do tango.
Na série Mato Grosso do Sul, a artista Luciana Fischer retratou o cotidiano do lugar, fazendo uso das linhas. Incluiu nas cenas, seres típicos do lugar, traçados geometricamente, trazendo a tradição do lugar para a contemporaneidade da Arte. Tudo é comum na cena, o inesperado é o destaque para as formas, que parecem circundar o centro da imagem, levando mais que apenas a cor, mas deixando à mostra o movimento.
Na obra de Valdonês, as linhas retas estão ainda associadas à perspectiva. O tamanho exagerado dos pés dos personagens em suas duas obras acentua o ponto de fuga e aproxima a cena para perto do olhar. Nas duas imagens, os dois parecem repousar despreocupadamente, em relaxada posição. Ao redor dos protagonistas, há círculos, há formas geométricas e há sombras. A simplicidade na forma do coqueiro e dos pássaros de São Francisco possibilitam ao olhar o foco no tema central. A cor só completou, em rica combinação, o que já estava belo.
A autonomia levou os três artistas a utilizarem a forma e as linhas retas de maneira notável, seguindo por esses mundos onde a inventividade repousa. Como resultado, o Belo da Arte encantou, mais uma vez. E vale seguir as palavras de nossa grande e sábia poetisa. Cora Coralina sugere um viajar livre por esses mundos, alçando voo despreocupadamente. Deixe que a Arte seja como um lindo caleidoscópio, repleto de diferentes formas a cada novo olhar. Olhe tudo sempre de diferentes maneiras e recrie a Arte.
Confira o vídeo da produção da obra Tango no Caminito:
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Artigos sobre a História da Arte da Rosângela Vig:
Referências:
- CORALINA, Cora. Coleção Melhores Poemas: Cora Coralina. São Paulo: Global Editora, 2004.
As figuras:
Fig. 1 – Caminito, Argentina, Rosângela Vig, 2013.
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Fig. 2 – Tango no Caminito, Rosângela Vig, 2017.
Fig. 3 – A Boiada, Luciana Fischer.
Fig. 4 – Gruta Azul, Luciana Fischer.
Fig. 5 – Rede, Valdonês dos Santos Ribeiro.
Fig. 6 – São Francisco, Valdonês dos Santos Ribeiro.
ROSÂNGELA VIG
Sorocaba – São Paulo
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Colunista no Site Obras de Arte
E-mail: rosangelavig@hotmail.com