Sou apaixonado por artes plásticas, quem me conhece sabe disso! Tenho 18 anos de carreira e sempre me empenhei nas mais diversas funções que envolvem esse mundo lúdico e encantador. Além de artista plástico, sou curador, professor, colecionador e, claro, amante das artes. Adoro viajar em busca de conhecimento e para apreciar o que é feito mundo a fora. Minha mais recente viagem foi para São Paulo, para conhecer de perto os trabalhos expostos na 32ª Bienal de São Paulo.
Fiquei muito satisfeito pelo que vi por lá. A temática desde ano é “Incerteza Viva”, que propõe uma reflexão sobre como será o mundo daqui para frente diante de tantas incertezas. Nesta edição 180 artistas apresentaram seus trabalhos, e destaco três que me surpreenderam muito.
A primeira é a jovem artista mineira Laís Myrrha. Por coincidência, formamos juntos por volta dos anos 2000, na Escola Guignard. Intitulada “Dois pesos, duas medidas”, sua obra na bienal é composta por duas torres de oito metros de altura cada uma e formada por materiais diversos empilhados. De um lado está à torre com cipó, tora de madeira e palha, típicas das construções indígenas e, do outro, uma torre com tijolo, cimento, vergões de ferro, telhas e vidro, comuns nas construções modernas brasileiras.
Com isso, Laís propõe uma discussão sobre as questões da arquitetura moderna comparadas às edificações passadas indígenas, debatendo assim o modo de vida na atualidade. Essas duas torres sobressaem muito na bienal, não só pelo tamanho, mas também por sua localização. Elas se contrapõem, ou, melhor, são “intrusas”, com suas formas quadradas e concretas, em termos de arquitetura ao local em que foram instaladas, o Pavilhão Oscar Niemeyer. Esse pavilhão propõe uma arquitetura com curvas virtuosas típicas do próprio Niemayer.
A segunda artista que destaco é Wilma Martins, que mora no Rio de Janeiro, mas é mineira. Durante o evento de arte de São Paulo, ela apresenta a série “Cotidiano”. Suas pinturas, óleo sobre tela, bem monocromáticas, sempre em preto e branco. O mais interessante de suas obras é a forma como ela consegue reproduzir com a tinta as cores e texturas de um grafite de lápis. Todas as pinturas sofrem interferências, que se destacam pelo uso das cores. O uso da cor acontece quando ela mistura ao tema do cotidiano os elementos da natureza, como animais silvestres e paisagens intrusas na composição. O resultado é de um surrealismo interessantíssimo e de muito bom gosto e com grande qualidade plástica.
Agora, por fim, destaco um artista do sexo masculino, que nasceu em Salvador, mas mora na capital mineira. As obras de José Bento se caracterizam pelo uso da madeira. Para surpreender o público, ele levou para a Bienal um gigantesco tablado feito com tacos de madeira de demolição. Intitulada de “Chão”, a obra propõe uma interação com o público, pois algumas áreas desses assoalhos se sobrepõem a camadas de molas que afundam. Ao caminhar por cima dessa estrutura temos a sensação de instabilidade, muito interessante e instigante para todos, principalmente para as crianças que se divertem bastante com a obra.
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Fiquei encantado com o que vi. O curador Jochen Volz e os co-curadores Gabi Ngcobo, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen e Sofía Olascoag estão de parabéns pela grandeza desse espetáculo! A construção desta edição foi longa, começou em 2015, e todos os curadores acompanharam o processo de criação dos artistas. Como apaixonado pelas artes, aconselho quem puder ir, que vá! Essa edição possui um número menor de artistas, mas em termos de qualidade plástica é superior às que já visitei. A curadoria pensou em todos os detalhes, inclusive o restaurante faz parte do show. Vegano, o estabelecimento também se constitui em uma obra de arte instigante.
Em resumo, gostei muito! Por lá vemos obras medianas, boas e ótimas! Esses três artistas que citei acima, em minha opinião, se sobressaem não só por terem uma ligação com Minas Gerais, mas porque me surpreenderam em termos artísticos, plásticos e conceituais. Para quem se interessar, a 32ª Bienal de São Paulo pode ser visitada até o dia 11 de dezembro, que por coincidência é a data do meu nascimento!
*Glauco Moraes
Artista Plástico