Obras de Gisela Motta e Leandro Lima na exposição Contando Ovelhas Elétricas no Sesc Santo Amaro

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Nove obras – circuitos eletrônicos, ondas sonoras, lâmpadas fluorescentes, câmeras sensíveis ao calor
e outros artefatos fabricados – estão entre os componentes de surpreendentes demonstrações de
vida, que nos falam sobre os corpos, as cidades, as paisagens e a natureza.

A exposição CONTANDO OVELHAS ELÉTRICAS, aberta ao público em março último (fica até 26 de junho) no Sesc Santo Amaro e traz obras dos artistas Gisela Motta e Leandro Lima. A exposição tem curadoria de Paulo Miyada, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake e é parte integrante do projeto Desdobramentos – Acervo em Expansão.

As nove obras da dupla – produzidas desde 2007 – que fazem parte da mostra exploram a região ambivalente entre o sintético do natural e o natural do sintético. Circuitos eletrônicos, ondas sonoras, lâmpadas fluorescentes, câmeras sensíveis ao calor e outros artefatos fabricados estão entre os componentes de surpreendentes demonstrações de vida, que nos falam sobre os corpos, as cidades, as paisagens e a natureza.

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Para Paulo Miyada, as obras promovem relações inesperadas, permitindo que elementos sintéticos (elétricos, digitais ou, simplesmente, artificiais) apresentem propriedades relevantes de certos fenômenos naturais ou sociais. “Um circuito eletrônico como o que se encontra em um computador normalmente é uma ferramenta cuja forma decorre estritamente de parâmetros técnicos, sem preocupações formais ou significados estéticos; quando os artistas imprimem circuitos desse tipo com as vias de tráfego de grandes cidades, eles mudam de significado, deixando de atender um critério funcional e servindo como metáfora da circulação e ordenação urbana, ou a falta dela”, explica o curador.

Amoahiki, 2008, vídeo instalação, 8" HD loop, sonorizado projetado numa tela feita de múltiplas camadas de tecido. Foto: Divulgação.
Amoahiki, 2008, vídeo instalação, 8″ HD loop, sonorizado projetado numa tela feita de múltiplas camadas de tecido. Foto: Divulgação.

Blade Runner

Inspirada no livro Androides sonham com ovelhas elétricas?, romance do norte-americano Philip K. Dick que inspirou o roteiro do filme Blade Runner (1982), a exposição dos artistas Gisela Motta e Leandro Lima mostra obras que empregam técnicas e mídias diferentes, mas que funcionam em conjunto. “Entre elas há uma série de maneiras de relacionar artifícios de construção imagética com fenômenos naturais e sociais concretos em nossa realidade; quer dizer, são modos de reapresentar coisas que conhecemos bem de forma nova, com recursos técnicos especialmente escolhidos e desenvolvidos pelos artistas”, conta Miyada.

Entre as obras, destaque para Relâmpago (2015), que por meio de uma composição de lâmpadas tubulares, o violáceo da radiação luminosa dos relâmpagos é reproduzido, trazendo a potência e a fragilidade presentes em uma descarga elétrica. A peça é composta por lâmpadas do tipo activiva, que, segundo o fabricante, promove o bem estar e a produtividade do ser humano, além de estimular a fotossíntese. Fica evidente a observação dos artistas a respeito da dependência que o homem tem da energia elétrica, ao menos em perímetros urbanos. De um modo geral, o raio representa um poder ao mesmo tempo criador e destruidor, seja observando por um ponto de vista científico ou mitológico.

Calar (2011) apresenta dois canais de vídeo sincronizados e em cada vídeo há o rosto de uma pessoa captada com uma câmera térmica. As mudanças na temperatura da pele acontecem mediante ao toque do outro, que se faz perceptivel ao desenhar com frio ou calor no corpo do parceiro. Já a instalação sonora Cigarras (2009) traz buzzers, pequenos alto-falantes utilizados em alarmes, que são pré-programados de forma a simularem o som de centenas de cigarras. A cada 30 minutos a conversa evolui até todos os buzzers dispararem em um momento de alarde, anunciando algo que está por vir.

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Essa é terceira edição do projeto Desdobramentos – Acervo em Expansão, criado com o intuito de convidar artistas, com obras integrantes do Acervo Sesc de Arte Brasileira e em exibição permanente em diversos espaços do Sesc Santo Amaro, para realizar mostras individuais. Tal proposta tenciona instigar o público a acompanhar a narrativa dos processos de criação, bem como expandir as potencialidades que o encontro com a arte propicia.

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Calar, 2011, 2 canais de vídeo sincronizados, 12" loop. Foto: Divulgação.
Calar, 2011, 2 canais de vídeo sincronizados, 12″ loop. Foto: Divulgação.

Gisela Motta e Leandro Lima

A parceria de Gisela Motta e Leandro Lima, paulistanos nascidos em 1976, remete a seus anos de graduação em artes plásticas na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), concluída em 1999. Desde então, utilizam linguagens que abrangem vídeo, fotografia, objetos e gambiarras, empregando padrões, medidas, estruturas e suas variações para criar situações altamente construídas. Nelas, elementos naturais, matemáticos e artificiais emulam o comportamento orgânico, sintetizam fenômenos naturais e criam certa ambiguidade, apesar da sua aparente objetividade.

Com inúmeras participações em exposições no Brasil e no exterior, têm se consolidado como artistas que transitam entre os mais variados contextos artísticos, desde mostras com temáticas políticas contemporâneas até ambientes dedicados a determinados suportes tecnológicos. Com esse trânsito, a dupla demonstra que o escopo da arte não se restringe à discussão dos seus meios, ao mesmo tempo em que cada recurso técnico possui virtudes e possibilidades expressivas latentes que podem ser mobilizadas ou subvertidas pelo artista.

Para roteiro

CONTANDO OVELHAS ELÉTRICAS – Inauguração dia 19 de março, sábado, a partir das 10h30, no Espaço das Artes do Sesc Santo Amaro. Exposição com obras de Gisela Motta e Leandro Lima. Horário de Visitação – Terça a sexta, das 10h30 às 21 horas, sábados, domingos e feriados, das 11 horas às 18 horas. Livre. Grátis. Até 26 de junho.

SESC SANTO AMARO – Rua Amador Bueno, 505 – Santo Amaro. Telefone: (11) 5541-4000. Horário de atendimento bilheteria: Terça a sexta-feira, das 10 às 21h30 horas e sábado, domingo e feriado, das 10 às 18h30. Obs: O Estacionamento e a bilheteria permanecem abertos de acordo com o horário das programações. Estacionamento – Subsolo – 180 veículos, 34 vagas para motos (preço especial para shows: R$5,50 p/ comerciários e R$11 p/ não comerciários e 35 vagas no bicicletário (grátis). Observação: as motos pagam taxa equivalente aos veículos.

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