Toda crise traz oportunidades, diz o chavão popular. Com uma retração de 3,8% no PIB e inflação acumulada de 10,67% em 2015, mais os prognósticos econômicos complicados para 2016, alguns veículos de mídia já profetizam ser essa a pior crise econômica já vivida pelo país. Nesse cenário, houve também um substancial fortalecimento do dólar, com aumento de quase 50% no mesmo período, e a consequente diminuição do poder de compra do brasileiro.
A contrapartida disso, como sempre acontece nesse tipo de cenário, é um ganho de competitividade do produto nacional, que automaticamente fica mais barato em dólar e passa a ser mais atrativo no exterior. Números oficiais informam que 2015 trouxe também o maior superávit da balança comercial para um ano fechado desde 2011, com US$ 19,69 bilhões. Infelizmente, o responsável por esse resultado favorável foi a dramática redução nas importações, justamente por conta do efeito contrário, que faz com que o produto adquirido no exterior se torne muito caro. As exportações caíram de US$ 225 bilhões em 2014 para US$ 191 bilhões em 2015.
Ainda que provoque um impacto irrisório na balança comercial do país, um mercado que conseguiu aproveitar muito bem esse cenário de aumento do dólar e alavancar exportações para vários lugares do mundo, foi o da arte. Países importantes dentro do contexto da arte contemporânea como Estados Unidos e Inglaterra foram destinatários de grande parte dessas exportações.
Segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – APEX, o volume total de obras vendidas no exterior em 2014 foi de R$ 270 milhões, um salto de expressivos 97,4% quando comparado aos R$ 136 milhões de 2014. Porém é bastante sabido que uma coisa é penetrar um mercado, e outra bem diferente é se manter nele. A oportunidade do real barato abriu portas de galerias e colecionadores no mundo afora, mas quais são as reais perspectivas de uma perenização desses resultados ao longo dos anos?
Artistas, críticos e estudiosos concordam que houve não só um aumento, mas, também, uma maior profissionalização da produção da arte contemporânea brasileira. Rodrigo Naves, em “A Forma Difícil”, diz o seguinte: “certamente, passamos a ter um meio de arte mais profissional, no qual as instituições funcionam com mais regularidade e onde mais pessoas podem viver de atividades ligadas às artes visuais. Sem dúvida, há mais artistas trabalhando de forma contínua e empenhada, com melhores possibilidades de mostrar suas obras e de divulgá-las em livros e catálogos”.
Para além da opinião bem fundamentada do autor, busquemos fatos recentes e concretos que corroborem essa opinião: Em fevereiro, no dia do encerramento da 35a. Edição da ARCO Madrid, o jornal El País publicou matéria dando conta da importância da América Latina na feira, com menções importantes a artistas, colecionadores e galerias brasileiras.
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Estamos ainda no mês de março, e em 2016 já temos exposições individuais de pelo menos três artistas brasileiros em galerias importantes de Londres. A mineira Rosângela Rennó, o escultor carioca Alexandre da Cunha e o paulista Claudio Tozzi foram os escolhidos para mostrar seus trabalhos. A gaúcha Regina Silveira também conta com exposição individual, porém em Nova Iorque.
Diante de todos esses fatos, a leitura que se faz é que a arte contemporânea brasileira é de qualidade, reconhecida por colecionadores e instituições internacionais, e as exportações tendem a continuar em ritmo acelerado até em função de uma taxa de câmbio favorável. Portanto, há boas oportunidades de valorização de alguns trabalhos e alguns artistas. No cenário interno, o colecionador e o investidor atentos estão em condições bastante favoráveis para voltar a frequentar os espaços expositivos das galerias e reaquecer esse mercado, tão belo quanto promissor.
*Alexandre Romanini
Sócio diretor da Periscópio Arte Contemporânea
periscopio.art.br