Recordo ainda… E nada mais me importa
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta…Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos meus brinquedos de criança…
(QUINTANA, 2004, p.13)
Não poderia haver época melhor para provocar saudade. Da infância, as recordações que ficam são doces; as ambições são poucas; o tempo é longo e infindável; e a vida corre feliz. Tão feliz que não percebemos que essa felicidade verdadeira existe. Até que crescemos e percebemos que um dia ela se foi e que era real. E o tempo deixa as cicatrizes de um tombo, de um “dodói” que a mãe beijou, de um brinquedo que se quebrou, da pipa que foi laçada e até mesmo das palmadas e das broncas. É indiscutível a doçura da poesia de Mário Quintana e, suas palavras, aqui colocadas, traduzem a essência da exposição de Paulo Byron, no Círculo Militar de São Paulo.
A exibição, cujo nome é Memórias, carrega a essência de um tempo que se foi e da saudade que deixou. Entre as memórias que o artista escolheu, estão aquelas da infância, dos patinetes, das pipas e de suas rabiolas, dos carrinhos e das brincadeiras de boneca. Todas com muitos pés descalços pelo chão, em brincadeiras de rua, talvez despreocupados com a vida, ainda, mas com o único propósito de brincar até cair o dia. Mas estão também como memórias, obras que conduzem aos tempos antigos, das madrugadas, da vida boêmia, dos violões, da cantoria entre amigos e de seus instrumentos musicais. Os boêmios, em bares e botecos, de terno e de gravata, são o retrato de um “malandro” inofensivo que há tempos, foi a “cara” do Brasil e que deixou saudade. Saudade que fica novamente com as palavras de Quintana:
É a mesma ruazinha sossegada,
Com as velhas rondas e as canções de outrora…
E os meus lindos pregões de madrugada
Passam cantando ruazinha em fora!
(QUINTANA, p.14)
A saudade e os tempos antigos estão no traço do artista, que exibe um caráter único e inconfundível. Nas telas grandes, as personagens em perspectiva exagerada, levam à ideia de movimento e de aproximação. A sensação final é a de que estão caminhando para fora da tela. As cores sóbrias e sérias contrastam com o colorido de brinquedos, de objetos e de roupas, que se destacam e deixam as cenas alegres, repletas de vida e de luz. O artista ainda brinca com a textura e com os desenhos ao fundo, que parecem salientes e em relevo. O efeito final é sobretudo o de querer olhar, pela poesia das obras e pela saudade que provoca.
Exposição Individual “Memórias” de Paulo Byron
Círculo Militar de São Paulo
Rua Abílio Soares, 158, São Paulo
De 18 a 23 de junho, das 10 às 17 horas.
Curadoria de Silvia Farina.
Confira as obras do artista:
…
Inscreva-se para receber as Novidades sobre Eventos
e o Universo das Artes primeiro!
Gostou? [highlight]Deixa um comentário[/highlight]!
Referências:
EAGLETON, Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
QUINTANA, Mário. Quintana de bolso. Porto Alegre: Ed. & PM, 2004.
ROSÂNGELA VIG
Sorocaba – São Paulo
Facebook Perfil | Facebook Fan Page | Website
Colunista no Site Obras de Arte
E-mail: rosangelavig@hotmail.com
Exposição de Paulo Byron no Círculo Militar de São Paulo por Rosângela Vig | Obras de Arte
http://t.co/UA5ZBwAOa6 http://t.co/QkUOlkzkK1
Exposição de Paulo Byron no Círculo Militar de São Paulo por Rosângela Vig | Site Obras de Arte… http://t.co/rqWXiuGCzG