Arte Grega, História da Arte na Grécia Antiga por Rosângela Vig

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Você também pode ouvir esse artigo na voz da própria Artista Plástica Rosângela Vig:

Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.
Rosângela Vig é Artista Plástica e Professora de História da Arte.

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. (…)

Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever.

(LISPECTOR, 2008, p.11)

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também
Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre (segura) (…)
Do Caos Érebos e Noite negra nasceram.

Da Noite aliás Éter e Dia nasceram,
Gerou-os fecundada unida a Érebos em amor.
Terra primeiro pariu igual a si mesma

Céu constelado, para cercá-la toda ao redor (…)
(HESÍODO, 2006, p.109, v. 116 a 128)

A Arte se construiu, em forma de História e a partir de uma História; num dado momento em que o ser humano, inebriado pelas cores e pelas formas que o mundo lhe apresentava, aventurou pelo campo da estética, na árdua tentativa de imitar o que via.

Dispondo dos recursos de seu tempo, o artífice arriscou pelos caminhos da Arte, para encantar olhares e para despertar sensações e sentimentos com relação ao mundo. Na evolução de seu traço e de seu entalhe, está implícita uma narrativa da humanidade, com seus comprazimentos e seus anseios diante da vida.

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Paralelamente com a Arte, a capacidade de julgar o que é belo foi se remoldando pelos tempos, mas foi na Grécia antiga que se manifestaram as primeiras discussões acerca desse conceito. O apogeu da cultura desse povo foi marcado por atividades políticas, intelectuais e artísticas, que deixaram um legado de fundamental importância para a cultura ocidental.

A cultura grega se estendeu aproximadamente do século VII, a.C. até o V, a.C. considerado o período arcaico e do V, a.C. ao IV a.C., o clássico. As cidades da Grécia antiga foram construídas entre os séculos XII e X a.C., a partir de comunidades pobres, de início, que aos poucos enriqueceram e cresceram. Essas cidades entraram em contato com a cultura do Egito antigo, que inspirou os gregos. 

A influência egípcia ficou evidente no caráter simétrico e proporcional das esculturas de pessoas do período arcaico da Grécia, porém, desvencilhado do aspecto religioso, o escultor grego passou a trabalhar de forma mais livre, o que o permitiu modificar a aparência de imobilidade e de rigidez na obra.

Já nos séculos VI a.C. e V a.C., os artistas esculpiam em mármore, figuras masculinas, nuas, em posição frontal, deixando evidente a questão da simetria. A sugestão de movimento se dava pela postura e pelos gestos da cabeça e dos membros, o que conferia também um ar de naturalidade à obra, como o Discóbolo de Míron.

Há menções a respeito do Cânone, um conjunto de normas escritas pelo escultor Policleto, que estabeleciam as proporções corretas do corpo humano. Entre os temas das obras, destacavam-se principalmente as Olimpíadas e as cenas do cotidiano.

No século IV, Alexandre Magno, filho do rei da Macedônia, manteve a conquista de seu pai sobre a Grécia e a ampliou, abarcando a Pérsia e o Egito. Após sua morte, a cultura que se desenvolveu foi considerada a helenística, em virtude da Grécia ser conhecida como Hélade.

Nesse período, as figuras humanas femininas, que até então eram entalhadas apenas vestidas, passaram a ser feitas nuas ou seminuas (Fig. 1). Manteve-se o emprego do Cânone de Policleto, com relação à simetria e à posição de relaxamento das obras, que passaram a expressar também as emoções.

Para alguns artistas da Grécia clássica eram belas, as formas arquitetônicas, os templos eram construídos com uma base de três degraus e o atributo mais importante era a simetria entre o pórtico de entrada e o dos fundos.

Embora a Arte grega não tinha fins religiosos, os templos eram construídos para abrigarem as esculturas dos deuses, da chuva e do sol. Havia dois principais modelos estruturais: o da ordem Dórica, como o Parthenon (Fig. 2), feito em homenagem à Deusa Atena, com pilares mais grossos, firmados nos degraus elevados; e o da ordem Jônica, com colunas mais finas, apoiadas em degraus ornamentados.

A influência da arquitetura grega é visível, por exemplo no Lincoln Memorial, nos Estados Unidos, edifício construído entre 1914 e 1922 em estilo Dórico, projetado por Henry Bacon, em homenagem a Abraham Lincoln.

Da pintura grega, em virtude da fragilidade dos materiais, conservaram-se apenas alguns murais em tumbas dos séculos IV e III a.C., por outro lado, permaneceu uma grande quantidade de pinturas em cerâmica. No século VI a.C., os vasos e ânforas utilizados em rituais religiosos, também serviam para armazenar vinho, água e alimentos, mas devido a sua beleza, passaram a ser usados como objetos de decoração também.

Os vasos eram inicialmente pintados em preto, pelo artesão, depois a tinta era retirada, formando os desenhos. Exéquias foi considerado o grande pintor dessas figuras e seu discípulo, Eutímedes, aprimorou esse método, pintando as figuras. Um importante passo na pintura desse período foi a introdução da ideia de profundidade na pintura, perceptível pela posição das pessoas desenhadas em objetos.

Dos gregos, ainda ficou o legado no campo da Literatura, com Homero, a quem se atribui a autoria de Ilíada e de Odisseia, poemas épicos ainda do século VIII a.C. que narram a história da Guerra de Tróia; e com Hesíodo, possível autor de Teogonia, poema épico narrativo, sobre a genealogia dos deuses e da criação do universo, cujo trecho inicia esse texto.

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Na tentativa de explicar o mundo, os gregos ainda deixaram sua Filosofia, que serviu de base para o pensamento dos períodos posteriores. Nesse campo, cabe destacar Aristóteles (384 – 323 a.C.) e Platão (428 – 347 a.C.), o que não exclui a importância de tantos outros.

De suas reflexões, ficou um importante legado em várias áreas, cabendo comentar nesse texto, as considerações acerca da beleza. Nas artes figurativas, segundo Platão, o belo estava representado através da mimesis que é a imitação da natureza e a correspondência com geometria, proporções e cores, aproximando o seu produto daquele que lhe serviu de modelo. Até mesmo a criação divina era uma imitação da natureza verdadeira do mundo das ideias.

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O artista não vai à ideia; ele tenta ser como um espelho que reflete o mundo sensível e trata assim, somente das aparências, ou seja, da imagem aparente do real. A arte da imitação é, pois como um obstáculo à busca da beleza, uma vez que convida a permanecer no mundo sensível que ela reproduz. É uma estética ao mesmo tempo objetiva e sensualista.

Aristóteles, diferentemente de Platão, acreditava que o belo era inerente ao homem, afinal, a arte é uma criação particularmente humana e, como tal, não pode estar num mundo apartado daquilo que é sensível ao homem. A beleza de uma obra de arte é assim atribuída por critérios tais como proporção, simetria e ordenação, tudo em sua justa medida. Para os gregos, os valores supremos eram o belo, o bom e o verdadeiro.

Ainda que aqui se comente a respeito do legado Clássico da Grécia antiga, e de sua contribuição para a Arte e para o pensamento ocidental; e ainda que se estudem as diversas áreas em que os gregos trilharam suas ideias e sua maneira de compreender o mundo, seria ainda um minguado conteúdo, ante a vasta cultura que esse povo deixou. Pode-se até arriscar a dizer que

O gênio é somente a infância redescoberta sem limites; a infância agora dotada, para se expressar, de órgãos viris e do espírito analítico que lhe permitem ordenar a soma de materiais involuntariamente acumulada. É a curiosidade profunda e alegre que se deve atribuir o olhar fixo e animalmente estático diante do novo, seja o que for. (…) (BAUDELAIRE, 2007, p.19).

Muitos séculos após os gregos, Baudelaire (1821-1867), o maior crítico de Arte de seu tempo, ousou descrever como o artista via o mundo. E não há como negar que aquele que trabalha com a Arte assemelha-se a uma criança encantada por tudo que o cerca, ele transcende em seu deslumbramento, expõe isso em sua obra e a carrega de emoções.

Na arte da Grécia antiga, está claro o objetivo do artista quanto à perfeição, à simetria e à proporção em sua obra, mas acima de tudo há uma demonstração de inefável admiração por tudo a seu redor. Talvez o fator tempo tenha sido mais generoso a eles, na tarefa de contemplação do mundo; mas acima de tudo, pode ser que ao ser humano contemporâneo isso seja impraticável, por tantos motivos inerentes ao próprio ser humano.

A mesma contemporaneidade que avança em tecnologia a passos largos, pode estar nos arrebatando os momentos de deleite pelo simples. E para se pensar,

Inesperadamente, descobrimos que existir poderia ser uma experiência muito mais intensa, interessante e verdadeira do que aquele corre-corre distraído com o qual se calejou nosso cérebro. (CALVINO, 1993, P.241)

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Referências:

  1. BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2007.
  2. BAYER, Raymond. História da Estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. Tradução de José Saramago.
  3. CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Companhia das Letras, 1993 2a. ed. Tradução Nilson Moulin
  4. EAGLETON, Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
  5. GOMBRICH, E.H.  A História da Arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
  6. HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. Martins Fontes, São Paulo, 2003.
  7. HESIODO, Teogonia.  A origem dos deuses. Estudo e Tradução de Torano Jaa, São Paulo: Ed. Iluminuras, 2006, 6a. edição.
  8. LISPECTOR, Clarisse. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2008.
  9. PLATÃO, Crátilo. 2a. edição. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1994, Tradução de Pe. Dias Palmeira.

As figuras:

Fig. 1 – Vênus de Milo, assim chamada por ter sido encontrada na ilha de Melos. Estátua grega do século I a.C. Provavelmente imitação de uma obra do século IV a.C., Paris, Louvre. Foto de Paolo Gallo Modena.

Fig. 2 – Templo Dórico: Parthenon, Atenas, Acrópole. Projetado por Icticino, cerca de 450 a.C. Foto de Pakhnyushchyy.

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ROSÂNGELA VIG 
Sorocaba  São Paulo
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28 comentários em “Arte Grega, História da Arte na Grécia Antiga por Rosângela Vig”

  1. Em poucas palavras, o que mais se preserva hoje na arte grega são as esculturas e as arquiteturas., sobre a pintura, há muito poucos trabalhos desta categoria

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